quarta-feira, 11 de maio de 2016

O PODER MILITAR DE WASHINGTON ESTÁ A SER POSTO EM CAUSA

1 – Um frenesim de exercícios militares junto das fronteiras da Rússia e das águas territoriais da China, supervisionados pelos Estados Unidos da América, tem sido mostrado ao Mundo desde meados o ano passado.

Ao mesmo tempo, impulsionaram-se, na América do Sul, movimentos que destabilizaram alguns dos principais governos de países (Brasil, Argentina e Venezuela) que, de uma maneira ou de outra, estavam a tentar fortalecer, entre si, uma parceria de comércio livre dentro das fronteiras do espaço geopolítico daquela região do Globo.

Claro que, à superfície, esses movimentos continham, em grande parte, indícios de descontentamento popular e enquadravam, tanto na Venezuela, como na Argentina, actos eleitorais legais. A questão foi (e é) que o movimento político está centrado no exterior.

Paralelamente, surge um movimento diplomático vincadamente *imperialista* do Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, pressionando as assinaturas de *Parcerias/Tratados de Comércio e Investimento*, sob a liderança de Washington.

Essa mensagem está abertamente divulgada por Obama, num artigo que, recentemente, publicou no jornal *Washington Post*, onde ele sustenta, a propósito desses Tratados: «A América deve impôr as normas. A América deve decidir. Os outros países devem agir segundo as regras estabelecidas pela América e os seus aliados, e não ao contrário».

Mas, o porquê desse frenesim militar, dessa ameaçadora mensagem imperialista?

2 – A realização, a 9 de Julho de 2015, em Ufá, Rússia, da VII Cimeira dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), onde aqueles dirigentes deram um impulso institucional com a criação de um *Novo Banco de Desenvolvimento e do Arranjo de Reservas*, para «apoio financeiro recíproco, como um passo importante na cooperação financeira de nossos países», em concorrência directa com o FMI e o Banco Mundial.


E, principalmente, porque aqueles dirigentes deram luz verde para a utilização bilateral das suas moedas nacionais, em detrimento do padrão internacional dólar, no mercado das transações de matérias-primas.

A essa reunião dos BRICS seguiu-se uma cimeira de Chefes de Estado e de Governo dos países da União Económica Eurasiática e da Organização para Cooperação de Xangai (OCX), bem como os Chefes de Estados observadores da OCX.

Esta reunião, que enquadrava desde 2005, a China, Cazaquistão, Rússia, Tadjiquistão e Uzbequistão, decidiu alargar o grupo à Índia e ao Paquistão. E tem como observadores, entre outros, o Irão e a Bielorrússia.

Ou seja, o lançamento de uma estrutura de controlo económico e militar, fora da influência norte-americana, em toda uma região, que contem as maiores reservas de petróleo e gás, além de outras matérias-primas.

(Esses projectos tidos como estratégicos enquadram a construção de gasodutos e oleodutos, bem como uma estrutura conjunta de refinarias e complexos petroquímicos de grande complexidade).

As campainhas soaram em Washington.

Pode dizer-se, com algum menosprezo imperial, que as economias dessas regiões ainda estão em reformulação e as debilidades das suas moedas em trocas bilaterais são evidentes.

Mas, isso são nuvens propagandísticas lançadas para esconder o que germina, de novo, na geopolítica mundial.

O que é certo que é esses países já começaram a fazer trocas entre si, sem passar pela moeda intermediária, o dólar.

O Irão, logo que abrandaram as sanções, anunciou abertamente que as suas trocas de crude no mercado mundial seriam feitas por uma moeda alternativa ao dólar, neste caso o euro.

O que significa, em termos práticos, que o dólar começa a deixar de ser referência.

3 – Em política, o que parece é.

E, embora, haja sempre algo de circunstancial e imprevisto nos acontecimentos internacionais, o certo é que os dados confrontados têm um guião permanente e não surgem por acaso.

Em Março de 2015, ou seja nas vésperas no encontro de Ufá, os EUA enviaram para Riga, a capital da Letónia, forças e material militares, envolvendo-os numa missão vaga de *treino na região do Báltico*.

Estes exercícios militares, para ganharem *respeitabilidade*, são realizados, teoricamente, sob os auspícios da NATO e estendem-se à Estónia e à Lituânia.

Segundo o governo da Lituânia, a NATO irá efectuar esses treinos *em permanência*.

Entretanto, meses depois, a NATO anuncia, com a conivência do governo pró-fascista católico polaco, liderado pelo partido Lei e Justiça (PIS), supervisionado por Kaczynski, e que tem como primeira-ministra Beata Szydlolei, uma *marioneta* daquele, que serão realizados na Polónia, manobras da NATO.

Estas manobras enquadraram 40 navios de guerra, cinco mil militares, a maioria norte-americanos, de 17 países.

Os exercícios na região do Báltico continuam.

Desde finais de Março de 2015, que na região do Mar Negro, muito perto do território russo, se efectuam exercícios navais com forças da Bulgária, Roménia, Turquia, Reino Unido e França.

E estes exercícios são mais frequentes desde a anexação da Crimeia por parte da Rússia, após o golpe de Estado efectuado na Ucrânia por forças pró-ocidentais.

Exercícios militares estes que, por seu lado, também estão virados, a partir de Julho de 2015, para a intervenção da NATO na própria Ucrânia.

Desde os finais de 2015, os EUA tem tentado arregimentar a Geórgia, que faz fronteira com a Rússia, para efectuar treinos militares envolvendo forças de intervenção norte-americana naquele Estado.

Para este mês de Maio, estão programados exercícios militares conjuntos da Geórgia e dos EUA com o nome de código *Noble Partner 2016*, para terem lugar nos arredores da capital, Tbilisi.

4 – Porque será, que, de repente, na segunda metade de 2015, se multiplicaram os *confrontos legais* para substituir os dirigentes independentes de Washington na América Latina, aproveitando as eleições presidenciais e legislativas?

A par da UE, a América Latina era, no passado, o mercado tipo *quintal* norte-americano para escoar as exportações, incluindo as militares, dos EUA.

Com o surgimento de economias em concorrência feroz com Washington, a América Latina tentou (e tenta) organizar e desenvolver a sua *armadura comercial* interna, através do MERCOSUL, e, aprendendo com  a UE, pela negativa, estruturar uma componente castrense correspondente, a UNASUL, que defenda os seus interesses.



Vejamos então o que sucedeu:

A 22 de Novembro de 2015, teve lugar a segunda volta da eleição presidencial na Argentina. Venceu o candidato Maurício Macri, um milionário com negócios fraudulentos, apoiado abertamente pela administração Obama.

A campanha eleitoral já se tinha iniciado em Agosto com a escolha *criteriosa*, segundo os padrões de Washington, de Macri, que era presidente da Câmara de Buenos Aires.

Naturalmente, a anterior gestão governamental argentina, liderada por Cristina Kirchner, como representante do capitalismo nacional,  e que apoiava o *peronista* Daniel Scioli, tinha os *pés de barro*, pois permitiu todo o tipo de corrupção e nepotismo.

Todavia, não estava sintonizada com o *império* norte-americano.

O primeiro acto político de Macri foi atacar o governo venezuelano, que estava envolvido na campanha eleitoral para as legislativas do país. Governo este que, desde os tempos de Hugo Chavez, encabeçava o poder anti-imperialista burguês na América Latina.

As eleições legislativas venezuelanas ocorreram a 6 de Dezembro de 2015, e, o partido governamental, Partido Socialista Unidos da Venezuela, é derrotado por uma frente eleitoral conservadora, igualmente apoiada pelos EUA.

O primeiro acto político foi arremeter contra o Presidente da República, Nicolas Madura, procurando levá-lo à demissão.

Curiosamente, e talvez não, inicia-se a 2 de Dezembro desse ano, o processo de destituição da actual Chefe de Estado do Brasil, Dilma Rousseff.
O processo surge em torno de uma questão processual de aplicação das leis orçamentais, em torno da gestão do governo presidencial.

Todavia, o processo foi empolado e conduzido apenas por uma via política, procurando explorar um caso bem real: um eventual combate à corrupção existente no sistema político, que atinge todos os sectores desde a Câmara dos Deputados até aos Tribunais, passando pelo Senado e mesmo ministros e ex-ministros.  A sua face mais visível é a governação do Partido dos Trabalhadores.

E entre os promotores do processo de destituição, curiosamente, estão os principais deputados representados na Câmara.

Este processo é seguido, sôfrega e atenciosamente, pela administração norte-americana. Porque em causa está o papel que o Brasil está a desempenhar na instituição do MERCOSUL e da UNASUL.

4 – Este frenesim militar pode apresentar, aparentemente, poderio. 

Os Estados Unidos da América estendem o seu *braço imperial* a mais de 180 bases e quarteis castrenses espalhados pelo Mundo.

Mas, tudo isto custa dinheiro. E o dinheiro não terá suporte contínuo se não estiver estribado na produção interna industrial.

A realidade é que o crescimento produtivo nos Estados Unidos da América estagnou.

Ora, o militarismo norte-americano para se expandir necessita de novas injecções de investimento.

O erário público começa a ficar exausto.

A Secretaria de Defesa dos EUA anunciou, que, para 2017, estão já orçamentadas  despesas militares de 583 mil milhões de dólares (537 mil milhões de euros).

Um balúrdio.

Este militarismo desenfreado terá de conduzir à falência financeira.

Como, dentro do sistema norte-americano começa a existir a noção de que a concorrência poderá colocar em causa o seu *modo de vida*, este afã pela via militar torna-se perigoso.

Ou há uma contenção mundial das despesas castrenses, ou mais cedo ou mais tarde, soarão as trombetas de guerra generalizada.

Mas, também, poderão surgir sintomas de mudança radical no actual sistema político internacional.


O tempo o vai dizer.

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