domingo, 31 de janeiro de 2016

IRÃO/VATICANO: OS NEGÓCIOS NA AGENDA *ESPIRITUAL*

1 – O Papa católico romano, Francisco, recebeu, no passado dia 26, no Vaticano, em audiência, o Chefe de Estado do Irão, Hassan Rouhani.

O Presidente iraniano é, tal como o Chefe de Estado do Vaticano, um dirigente religioso no seu país, formação essa que iniciou no seminário islâmico de Semnan, tendo concluido os seus estudos no ramo no tradicional seminário de Qom.

Mas ainda no tempo do regime monárquico do Xá Pahlevi, seguiu os estudos laicos na Universidade de Teerão, tendo-se licenciado em Direito.

Mas tarde, prosseguiu esses estudos no Reino Unidos, tendo obtido o mestrado e o doutoramento em Direito Constitucional na Universidade Caledónia, em Glasgow, Escócia.

Depois da ascensão do actual regime teocrático no país, Rouhani adquiriu preponderância na estrutura do poder, sempre na sombra do *líder supremo* religioso: membro da Assembleia dos Peritos (desde 1999), do Conselho de Discernimento (desde 1991), do Conselho Supremo de Segurança Nacional (CSSN) (desde 1989) e presidente do Centro de Pesquisa Estratégica do Irão (desde 1992).

Rouhani foi eleito presidente em 15 de Junho de 2013.

Foi ainda deputado durante as cinco primeiras legislaturas do Parlamento iraniano (Majlis), tendo sido presidente da Comissão de Defesa e da Comissão de Relações Exteriores e presidente do Majlis.

No governo do ex-presidente Mohammad Khatami (que o apoiou nas eleições), Hassan Rouhani foi o negociador-chefe do programa nuclear do Irão nas negociações com a União Europeia.

Antes de ser eleito Presidente, dirigia o importante Centro de Pesquisa Estratégica nacional, directamente ligado ao *líder supremo*, Ali Khamenei.


Os interesse geoeconómicos nos colóquios cordiais

2 – Qual foi a razão central da vista do clérigo Presidente Rouhani ao Papa?

A Santa Sé procurou *atirar para debaixo do tapete* os interesses materiais profanos que estiveram, realmente, na agenda dos dois Chefes de Estado.

A Sala de Imprensa da Santa Sé, em comunicado, cinicamente, referiu que "durante os cordiais colóquios foram evidenciados os valores espirituais em comum e o bom estado das relações entre a Santa Sé e a República Islâmica do Irão".

As delegações diplomáticas também abordaram a recente conclusão e aplicação do Acordo Nuclear e foi destacado que o "Irão é chamado a desempenhar um importante papel, junto com os outros países da região, para promover soluções políticas adequadas às problemáticas que afligem o Oriente Médio, contrastando a difusão do terrorismo e o tráfico de armas".

Neste sentido, foi recordada ainda "a importância do diálogo inter-religioso e a responsabilidade das comunidades religiosas na promoção da reconciliação, da tolerância e da paz".

Tudo muito pacífico e religioso...

Todavia, por *debaixo do tapete* está a realidade da vida. O mundo profano, material.

Esse é o que conta para as duas entidades.

Para o Irão, o Vaticano é avaliado como «grande empresa» capitalista, fortemente enraizada na União Europeia e nas Américas, que serve os objectivos da sua reconstrução económica e da sua necessidade de recuperar o terreno da actividade comercial prioritária.

Para o Vaticano, o Irão, como provável grande potência regional, é um terreno para a aumentar a força económica do potentado da Santa Sé.

Na realidade, a Santa Sé é «um dos maiores titulares de acções do mundo» -*O empório do Vaticano* -, um valor que se desconhece na sua tenebrosa extensão.

Polvo este escondido dos seus crentes, já que «o Vaticano tem investimentos nas Bolsas de todo o Mundo», número que o jornal +Economist+, nos anos anos 60 do século passado referenciava, por baixo, só para Itália, em «cerca de 1/15 do número total das acções nas dez Bolsas italianas».

Realmente, o alcance do poder económico da Santa Sé é avassalador e está encoberto em numerosas «companhias de fachada» desde bancos, seguros, empresas industriais e comerciais, estabelecimentos de ensino e saúde, complexos armamentistas.

No caso específico de Itália, os interesses vaticanistas estendem-se desde os grandes bancos (Intesa Sanpaolo, Nazionale del  Lavoro, Unicredit, Popolare, Ambrosiano, entre outros) ao petróleo (ENI) e ao armamento (Finmecanica).




A Itália é, precisamente,  o país que tem a maior capacidade de refinação de petróleo da Europa.

Mas, o Vaticano, também pode ser intermediário, neste fase de «costas voltadas» entre Washington e Teerão, para os negócios com os Estados Unidos da América, pois o papado romano está perfeitamente integrado no +tecido financeiro e económico+ norte-americano, desde a banca ao complexo industrial militar.

Ora, o Irão necessita de relançar e expandir o comércio do petróleo, bem como da logística para a recuperação da sua indústria petrolífera.

Bem como para se impor como potência regional de modernizar, rapidamente, o seu arsenal militar.

Naturalmente, para se poder impulsionar o comércio, sem entraves, no Médio-Oriente, terá de haver *soluções políticas* na região.

Mas, tal desiderato só se consegue essencialmente com acordos em torno de força económica e não com os «cordiais colóquios» acerca dos «valores espirituais em comum e o bom estado das relações entre a Santa Sé e a República Islâmica do Irão».

3 - Sob o manto diáfano da religião, a Igreja Católica está a penetrar, totalmente, na esfera do capitalismo mundial.

E, a sua aceitação planetária está ligada, justamente, ao papel que desempenha, actualmente, nos negócios mundiais. Caso contrário, os dignitários governamentais nem sequer lhe davam um olhar. 

A crise do capitalismo contribuirá também para a crise do catolicismo romano, que abandonará o manto pio, para se tornar no seu cão de guarda mais acirrado. O tempo o dirá.





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