quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O CAPITALISMO EM CRISE, AS CLASSES TRABALHADORAS AMORFAS

1 –  O capitalismo mundial juntou-se, há dias, em Davos, Suíça, para discutir, precisamente, a crise que o está a atravessar e, acima de tudo, a enredar sem solução para esse sistema dentro da evolução societária actual.

Ao contrário de outros grandes conclaves capitalistas encenados naquela cidade, este está ensombrado pela realidade da vida: o reinado dos banqueiros parece estar em plano inclinado.
World Economic Forum - Davos

A crise geral financeira de 2007/08, iniciada nos Estados Unidos da América, está aí para durar. Parece aprofundar-se, na realidade, já em 2016.

Está situação apresenta dois aspectos que se entrelaçam: a crise financeira em si, que se prolonga até hoje, e, na sua subsequência, uma crise geral do comércio e da indústria.

A grande burguesia capitalista mundial reunida em Davos fez constar que tem como seu principal objectivo lançar uma «quarta revolução industrial», mas frisou que esta irá fazer aumentar o desemprego, de imediato, em mais cinco milhões de pessoas.

Em suma, está a dar-se uma contradição evidente, que se alarga, entre as forças produtivas existentes e as relações de produção capitalista que estão a começar a entrar em derrapagem, para não dizer colapso.

2 – Dois dias antes de começar o Forum Económico Mundial, em Davos – o super conclave capitalista -, uma piedosa «organização não-governamental» chamada Oxfam revelava que *62 pessoas possuem tanto capital como a metade mais pobre da população mundial*.

E acrescentava: há cinco anos, a riqueza de 388 pessoas estava equiparada a essa metade. De acordo com a mesma entidade, a riqueza acumulada por 1% da população mundial, entre os mais ricos, superou a dos 99% restantes, em 2015, um ano mais cedo do que se previa.

Com a míngua financeira dos Estados capitalistas, estes estão na mão dos chamados grandes *empréstimos* da grande burguesia financeira, cada vez mais concentrada e reduzida, que, deste modo, amordaça, crescentemente, através da usura dos juros, os mesmos Estados.



E isto quando esses mesmos Estados os capitalizavam com pseudo empréstimos a custo zero, ou seja os enchem de dinheiro público...para benefício privado!!!

Ora, será impossível fazer inverter esta desigualdade e acabar com o *reinado*, desenfreado, do capital financeiro sem atingir profundamente os interesses económicos e políticos dos regime e sistema dominantes.

Ou seja, em termos práticos, o controlo estatal dos bancos, sob um novo poder político, a desarticulação completa da especulação bolsista, o desmembramento da ligação entre o capital financeiro e o poder de Estado, nomeadamente o seu campo legislativo, judicial, militar e o da propaganda, através dos seus principais meios de comunicação social.

No que diz respeito a nível estatal nacional, o desequilíbrio aprofundado nas últimas décadas a favor dos interesses do capital financeiro provocou uma recessão continuada que contribuiu para um empobrecimento generalizado das classes trabalhadoras.

Deste ponto de vista, para acabar com esta vergonhosa barganha do Capital, não poderá haver um equilíbrio interno societário, ou seja, um equilíbrio entre as despesas e despesas públicas de cada Estado da Europa à China, passando pelos Estados Unidos da América à Rússia, se não houver um claro golpe nos interesses da grande burguesia financeira, desde os lucros, à especulação, aos impostos.

3 –  Uma interrogação se coloca: Porque será que um descalabro tal da grande burguesia e um ataque de uma envergadura descomunal aos direitos dos explorados não levou o mau-estar e o descontentamento existente para uma revolta generalizada?

Depois da vaga revolucionária que percorreu uma grande parte da Europa, com especial destaque na França, nos finais dos anos 60 do século passado e depois de toda uma série de revoluções nacionais, iniciadas com movimentos de libertação nacional, em África e Ásia, nos anos 60 e terminadas com a tomada do poder em meados dos anos 70, o período que se seguiu, até ao final desse século, transformou-se numa fase de contra-revolução, ligada ao grande desenvolvimento da produção capitalista, com um magistral salto na inovação técnica e científica.

Todavia, o incremento da produção capitalista tornou-se num moinho de usura nas mãos do grande capital financeiro.

Foi este que veio a transformar-se na fracção dominante dos diferentes regimes burgueses: controlaram, paulatinamente, o poderes político (chefias de Estado, governos e parlamentos), judicial (grandes firmas de advogados, juízes e procuradores) e militar (escolhas dos chefes e controlo da oficialagem, mercenarização dos Exércitos), desde as bolsas, aos bancos, seguros, grandes negócios castrenses, empresas de ponta das telecomunicações, distribuição alimentar, turismo, grandes propriedades agrícolas, saúde (privatização, indústria farmacêutica, tecnologia hospitalar).

Colocada, nos finais dos anos 60, então sob a perspectiva de poder haver uma ruptura, a burguesia, empoleirada no ascenso industrial e comercial, abriu os olhos e através dos partidos sociais-democratas realizou uma aliança declarada com os partidos conservadores, populares e democratas cristãos, para promover a chamada *revolução pelo emagrecimento do Estado*, ou seja a privatização a favor do capital financeiro.

(Convém recordar que contou, em períodos delicados com o apoio dos maiores Partidos Comunistas europeus de então, que, directa ou indirectamente, participaram nos governos. Casos do francês (PCF), italiano (PCI) e espanhol (PCE)

O exemplo do PCF é paradigmático, (pode-se juntar o PCI de Togliatti, que serviu a ascensão da +falecida+ Democracia Cristã ao avassalamento do Estado italiano), pois foi ele que, logo após a II Grande Guerra, com Thorez, que permitiu a consolidação do +gaulismo+, que hoje se reproduz em Sarkosy.




Na realidade, o PCF esteve no governo com Mitterand em 1981. Foi um ministro daquele partido Jean-Claude Gayssot (Transportes) que controlou a privatização da Air France.

Em 1997, voltou ao governo de maioria PS, sob a chefia de Lionel Jospin, executivo este que deu o seu assentimento ao bombardeamento da ex-Jugoslávia).

Depois da II Grande Guerra, as classes trabalhadoras, em particular os seus sectores mais avançados e conscientes, abandonaram, progressivamente, a sua perspectiva de efectuar uma transformação revolucionária da sociedade.

Obscurecido – e depois mesmo estigmatizado - o programa radical socialista, após a derrota da Revolução Soviética, e a sua contínua caminhada para a contra-revolução, essas classes caíram, lenta, mas seguramente, para colocarem, na sua intervenção política prática, como objectivo de poder, a sua adaptação a um «programa de esquerda dentro da democracia».

Visão esta ainda mais estreita, porque se encerra nas fronteiras nacionais, enquanto a grande burguesia se expande e actua, cada vez mais, ao mesmo tempo e em todo o globo

Situação aquela que perdura nos dias de hoje.
   

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