domingo, 1 de novembro de 2015

UNIÃO EUROPEIA: A SUBVERSÃO ESTÁ NA ORDEM DO DIA

1 –  Os poderes políticos estabelecidos e dominantes na União Europeia (UE) estão alarmados com a possibilidade de se formarem, nos próximos tempos em diferentes países, governos ditos de *esquerda*, ou seja constituídos ou apoiados por partidos classificados por esses poderes, como de *extrema-esquerda* ou *radicais*.

Depois de uma apatia prolongada de muitos anos, verifica-se, através de movimentações, em larga escala, das classes trabalhadoras, pugnando por melhorias do nível de vida, com consequências em diferentes eleições legislativas de diversos países onde surgem partidos e forças políticas que apresentam programas que preconizam cortar com o espartilho dos regimes vigentes capitalistas.

Eles adquiriram, em poucos anos, uma projecção parlamentar e até de poder, apesar das ambiguidades e hesitações que manifestam no confronto com esses regimes estabelecidos.

A reacção dos poderes capitalistas dominantes em Bruxelas – e que estão a asfixiar a evolução democrática da UE – são sintoma de que se sentem ameaçados com uma eventual mudança do sistema instituído e colocam no ar o espectro da chegada de uma mudança radical na sociedade europeia.

O percurso da Revolução, num período longo desde os finais da II Grande Guerra, e, principalmente, desde as guerras anticoloniais dos anos 60/70 do século passado, parece ter sido obscurecido pela época subsequente em que, praticamente, toda a sociedade foi submergida por um retrocesso avassalador produzido pelo poder capitalista financeiro mais retrógrado.

Os ecos das grandes Revoluções do século XX, principalmente as que envolveram centenas de milhões de explorados, como a soviética de 1917 e a chinesa de 1949, parecem ter desaparecido, com o passo atrás de várias décadas até aos dias de hoje.

Todavia, elas tiveram um impacto enorme em todas as lutas classistas do século passado, embora as análises mais capazes nos mostravam que, do ponto de vista da evolução da economia política, então, teriam de acabar em derrotas.

As condições de revolucionamento social avançado colidiram com as estruturas produtivas capitalistas pouco desenvolvidas ou mesmos pré-capitalistas e a energia desses revoluções entrou em descendo, tornando-se mesmo em contra-revoluçõs que, infelizmente, se prolongaram por demasiado tempo, *embaciando* ou mesmo deteriorando a capacidade para entrar em nova fase de ruptura económica e política.

Naturalmente, parece que a sociedade estagnou, mas nas entranhas das lutas sociais, paulatinamente, vai-se vendo o que foi errado, analisando os factos e os eventos, e, lentamente acumulando forças para empreender um novo assalto.

Claro que este caminho ainda não tem uma visão programática elaborada para empreender uma nova via, mas os indícios apontam que ele está a ser traçado.

Com hesitações, mas também com novas perspectivas, com novo alento de consciência política, que tem sido acalentado com as próprias eleições dentro do sistema estabelecido.

A nova visão programática deve, todavia, ser encarada em conjunto dentro da União Europeia.

É, justamente, na Europa, berço das revoluções proletárias nos séculos XIX e XX, que, novamente, ressurge uma nova esperança de mudança.

2 – A actual situação política na Europa está ligada a um acontecimento económico-financeiro internacional, que provocou um empobrecimento generalizado das classes trabalhadores, um clamor geral de mal-estar e descontentamento e as maiores movimentações dos explorados das últimas dezenas de anos.

Quando estalou em 2007, a crise da especulação capitalista em torno do imobiliário nos Estados Unidos, com o descalabro social que levou à ruína de milhões de compradores de casa, tal crise transformou-se, no ano seguinte,  em económica e financeira.


E alastrou-se pelo mundo quando se deu a falência fraudulenta de um dos principais bancos norte-americano, o Lehman`s Brothers, que levou à queda massiva das bolsas mundiais e à destruição de outras empresas financeiras.

A preocupação dos representantes políticos esteve centrada não em evitar um retrocesso nas relações sociais dos desfavorecidos, mas sim em prestar um apoio descomunal ao sistema financeiro, desde bancos como Goldman Sachs e Merrill, a companhias de seguros, como a American International Group.

E isto à custa de redução, nunca antes vista, de salários e pensões das classes trabalhadoras, de imposição de novos e crescentes impostos, ruína de empresas industriais e comerciais, de rapina dos dinheiros públicos.

Sempre em favorecimento exclusivo da lúmpen burguesia financeira, que, descaradamente, transferia o dinheiro para off-shores e continuava (e continua) na especulação à custa do tesouro estatal.

Tem sido desde então uma razia social que a crise do sistema capitalista produziu cuja, crise permanece sem se vislumbrar uma saída.

Foi esta realidade que subverteu todo o próprio sistema capitalista, desde as suas relações de trabalho até às próprias concepções de organização parlamentar e política existente.

Houve realmente uma ruptura profunda que abala o sistema e surge uma outra que o começa a pôr em causa.

(Repare-se que mesmo, em dezenas e dezenas de anos, nos Estados Unidos da América, aparece entre os candidatos à próxima eleição presidencial do próprio sistema quem se reclama, abertamente, do socialismo).

O ataque furibundo dos promotores e fautores da velha ordem capitalista a esta nova realidade é indicativo de que o que emerge é subversivo e está a colocar em causa a argamassa que parecia impenetrável desse sistema.

Os tempos vão ser duros.

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