domingo, 15 de novembro de 2015

QUEM ESTÁ A PROCURAR DESFAZER A UNIÃO EUROPEIA?

1 –  As coincidências não são acidentais.

Se nos concentrarmos no que está a suceder na União Europeia, desde que aquela adquiriu um estatuto de grande potência comercial em concorrência directa com os Estados Unidos da América, tiramos, de imediato, as dúvidas.

(Claro que, para que tal aconteça, tem de haver cúmplices internos que lhe permitem realizar o que o regime norte-americano está a por em marcha. E isso tem de ser denunciado e ultrapassado com uma mudança radical na situação política e económica na UE).

2 - Retrocedamos umas largas décadas, e, iniciemos uma breve análise histórica sobre o que sucedeu, logo após o término da II Grande Guerra.

Em 1941, os EUA foram atacados pela Força Aérea japonesa na base norte-americana de Pearl Harbour, Hawai, no que é considerado, oficialmente, como o acto que levou à declaração de guerra daquele país contra as potências do eixo (Alemanha, Itália e Japão).

Os Estados Unidos, apesar da violência da expansão nazi na Europa e em grande escala no Extremo Oriente desde 1939, através do imperialismo japonês, mantiveram uma política negocial próspera de apoio à implantação hitleriana, que já vinha do início dos anos 30 do século passado.

(Igualmente, a então União Soviética procurou distanciar-se do confronto inicial entre a Alemanha de Hitler e a Inglaterra e França, embora sabendo que o objectivo hitleriano era a expansão para Leste. Por isso, procurou limitar, egoisticamente, essa pretensão hitleriana assinando, ainda 1939, o chamado pacto Ribbentrop/Molotov).

Os EUA, somente, entram na guerra europeia, em 1943, através da invasão da Sicília, quando os Exércitos da União Soviética marchavam já em direcção à  Alemanha, com a retirada contínua da Wehrmacht, da União Soviética e dos países do leste europeu. E a derrota do hitlerismo era uma evidência.

A invasão da Sicilia só aconteceu em 1943

A preocupação das principais potências aliadas – EUA, União Soviética, Inglaterra - desde 1944 foi a divisão de influências sobre a Europa, e, não sobre outra qualquer região do Mundo em guerra, nomeadamente no Extremo-Oriente.
Tal objectivo foi, aliás, decidido em Ialta, a 1 de Fevereiro de 1945. Pouca atenção foi dada, então, pelas potências vencedoras, aos interesses nacionais.

A recuperação da Europa pós-guerra foi feita sob a supervisão de duas superpotências económicas e militares e sob dois modelos de capitalismo: o liberal pró-ocidental e o de capitalismo de Estado tipo russo.

Os Estados Unidos da América, que, com a guerra, da qual estavam, internamente, afastados e, por isso, não sofreram uma devastação produtiva, tiveram um incremento enorme da sua indústria – esta duplicou desde o fim da grande depressão - e do seu comércio.

O entesouramento capitalista norte-americano (em ouro e capitais) foi substancial nos finais dos anos 30 e durante a II Grande Guerra.

Aquele permitiu o financiamento abundante à Europa ocidental, através do *plano Marshall*. E este território estava inserido numa dinâmica de quem dominava o mercado mundial.

Nesta parte parte europeia, apesar da destruição produtiva, a evolução capitalista era, incontestavelmente, superior à parte oriental. 

Por seu turno, a União Soviética confrontava-se com um capitalismo em subdesenvolvimento e, principalmente, semi-destruido pela violência descomunal da guerra.

O campesinato e a pequena burguesia eram dominantes em toda o território oriental europeu.

A Europa ocidental percorreu a sua reindustrialização e evoluiu no seu comércio.

Embora permanecesse interligada ao capital financeiro de Wall Street, a burguesia local, a partir do seu centro industrial mais desenvolvido e dinâmico nos anos 60 do século XX, ganhou autonomia.

E esta autonomia foi conseguida, porque essa burguesia sabia que o caminho do seu incremento era a criação de espaços maiores territoriais, sem entraves fronteiriços e alfandegários, onde pudesse ampliar a sua capacidade de crescimento.

Para que este crescimento fosse consolidado era necessário um avanço para uma organização económica e política estatal com inter-relacionamento harmónico entre Estados nacionais.

A União Europeia adquiriu pujança, criou uma moeda única que estava a ser referência mundial ao dólar em decadência. A sua constituição como espaço económico e político é a baliza operativa para novos modelos de estruturas, como o MERCOSUL, a União Africana, justamente, todos eles em concorrência com os EUA.

O que foi conseguido até à crise de 2007.

3 – O primeiro indício de destabilização da União Europeia (UE) surgiu, em 1991, com a chamada guerra da independência da Croácia, que vai fragmentar toda a Jugoslávia ate 2001.


Curiosamente, o busílis desta guerra tem o centro no nacionalismo (que germinou, aliás, incipientemente, nos territórios da Voivodina e Kosovo nos anos 80, sendo jugulado).

O interesse pelo separatismo croata foi fomentado, logo no seu início e no imediato, pelas classes dirigentes de três potências – EUA, Alemanha e Santa Sé -, as quais, aparentemente, teriam interesses geo-económicos e geo-estratégicos diferenciados: o primeiro pela penetração castrense, via NATO, para atingir a Rússia e o Médio-Oriente, a Alemanha, que, no seu imaginário expansionista, ainda pensa no Sacro Império, e o Vaticano na consolidação católica.

Tudo isto contra a consolidação política da UE.
Nacionalismos esses que se fazem «ressentir», ainda nos dias de hoje, com os migrantes islâmicos e africanos.

Todavia, a questão central que mais abala a UE desde 2007 é, na realidade, a crise financeira, que se interligou com a económica, que começou, estrondosamente, nos Estados Unidos com a especulação imobiliária e a falência bancária e de companhia de seguros, e, rapidamente *exportada* por Wall Street para a União Europeia.

E abala, porque, desde então, as clivagens de desenvolvimento económico se acentuaram, com as grandes burguesias financeiras inglesa, francesa e alemã, umbilicamente ligadas ao capital norte-americano.

Embora a UE, através da intervenção do Banco Central Europeu, tenha conseguido implementar um mecanismo de estabilização financeira (MEE), que evitou, no imediato, o colapso da União, o certo é que se alargou um fosso na cooperação que existia desde a criação do espaço europeu.

Por onde pretende entrar mais em força o poder norte-americano.

Mas, a pressão económico-financeira do capital especulativo norte-americano não pára. Ele está sempre presente através de *armas* de ataque sistemático. Caso das agências de rating: que são exactamente três, a Moody´s, a Standard&Poor e a Fitch.


São elas que estão particularmente atentas a qualquer evolução positiva da UE ou dos seus Estados-membros.

Lançam logo as avaliações mais escabrosas sobre as suas economias.

Mas, dos EUA, nada.

As agências de rating têm sido acusadas de falharem na avaliação credível e independente de certos investimentos. Falharam, por exemplo, na altura da crise financeira que começou nos Estados Unidos com avaliações elevadas no sector imobiliário. Mas também com a Islândia que entrou em bancarrota quando tinha uma avaliação elevada. Em resultado disso, tanto nos EUA como na Europa, as agências de rating começam a ser questionadas estando mesmo a ser reavaliada a sua regulação. Em resposta, as agências alegam que as notas que dão são apenas opiniões que os mercados podem ou não aceitar.

Quando a economia norte-americana se afundou em 2007/08 com as mais repugnantes especulações e falências bancárias. Onde se encontravam aquelas com a sua *avaliação credível e independente*?.

Não tinham a *percepção* do que se estava a passar, foi uma das explicações que se apresentaram.

E na Islândia, que entrou na bancarrota com a falência dos principais bancos, que, por acaso, mantinham ligações a Wall Street e à City londrina?

Silêncio absoluto.

Afinal, quem detém realmente, as agências de ratings?

Retiramos da imprensa: *No caso das duas primeiras há um investidor em comum. A Capital World Investors é a maior accionista da McGraw-Hill, empresa que detém a S&P, tem uma participação de 12%, segundo dados da Bloomberg. Mas esta entidade financeira não se fica por aqui. É ainda uma das accionistas de referência da Moody's, com uma participação de 11,02%. No caso desta agência, o maior accionista é o multimilionário Warren Buffett. O "Oráculo de Omaha" detém 12,32% da Moody's, apesar de ter vindo a reduzir a sua participação.

Já a Fitch é controlada, teoricamente, por uma *holding francesa, a Fimalac, com 60% do capital, cujo Presidente se chama Marc Lacharrière. Este esteve ligado ao grupo Oreal, ao Banco Indo-Suez e ao Crédit Lyonnais, todos de capitais judeus.

Ora, uma das accionistas de referência da Fimalac é a multinacional norte-americana gestora de fundos Fidelity, com uma posição de 5,39%. Esta empresa financeira controla ainda 7,57% da Moody's.

Onde se sente com mais acutilância a interferência norte-americana nos assuntos europeus é nos países do leste integrados na UE (Lituânia, Estónia, Letônia, Polónia, Eslováquia, Bulgária, República Checa e Hungria).

Todos eles foram empurrados para entrar rapidamente para a União, por pressão dos EUA, e sob a supervisão da NATO a que aderiram sem olhar a eventuais consequências para a própria segurança europeia, e, onde Washington estabeleceu tropas.

O fluxo anormal de refugiados vindos de países do Próximo e Médio-Orientes nos últimos meses não acontece por acaso.

Além das questões ligadas às guerras e devastações nos países daquelas zonas terrestres, que são reais e não podem ser escamoteadas.

Aquelas provocadas, essencialmente, pelas intervenções norte-americanas, com o apoio dos executivos governamentais seus serventuários da Europa ocidental, levaram à debandada de dezenas de milhões de pessoas em busca de refúgio nos países vizinhos, uma parte dos quais têm relações privilegiadas e de aliança com os Estados Unidos.

Porque não foram encaminhados, portanto, uma parte substancial desses deslocados e refugiados para os EUA, o sal da terra e o refúgio das oportunidades capitalistas?

Simplesmente, porque alguém que tinha muito dinheiro e meios para orientar *redes* organizadas que perpassam várias fronteiras para lhes dar uma indicação precisa para os países para onde se deveriam dirigir: Alemanha, Inglaterra, Suécia, Holanda, França.

Quem podem despender tais financiamentos a esses migrantes sem capacidades financeiras para pagar – cada um com uma média de 10 mil euros vezes cerca de um milhão de pessoas neste ano!!!?

4 – Finalmente, porque se está em cima do acontecimento a questão dos atentados em França.

Acontecem, justamente, quando a UE tem em mãos o problema de refugiados.

Pode-se argumentar que os prováveis jihadistas escolheram o elo mais fraco entre as potências que atacam o auto-intitulado Estado Islâmico.

Mas, o ponto fulcral é que os atentados não visaram apenas a França, mas a unidade política europeia.

A UE corre o risco profundo de voltar para as velhas fronteiras do nacionalismo serôdio e da competição sem tino inter-europeia.

Quem orquestrou realmente os atentados?





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