quarta-feira, 26 de agosto de 2015

RUMORES DE GUERRA: ALGO VAI MUDAR NA SOCIEDADE NOS TEMPOS MAIS PRÓXIMOS

1 – Existem rumores de guerra em grande escala?

Existem e são reais.

Situemos os principais focos de conflito, que se podem exacerbar: Ucrânia, todo o Próximo e Médio-Orientes, Paquistão/Índia, Coreias, vários países de África, bem como manobras militares constantes quer em países europeus fronteiros da Rússia, quer no Extremo-Oriente.

Este empolamento pré-guerreiro está a ser acompanhado por um crescimento exponencial dos orçamentos militares, não só das potências já existentes, mas inclusive, de países considerados intermédios ou enredados, como «ornamentos» de cumplicidade, em alianças e parcerias económico-político-castrenses.

exercícios militares...

Desde os Estados Unidos à Rússia, passando pela China e Índia – e nos dois últimos anos, em particular, a Alemanha – mas igualmente potências menores, como o Irão, Brasil.
E, curiosamente, os espectaculares gastos orçamentais militares de países do Médio-Oriente, como a Arábia Saudita, Qatar e Israel.

Verifica-se que as Forças Armadas de países, como os EUA, Rússia, China, Índia, em menor escala o Irão, se transformaram em finalidade superior dos próprios Estados.

O que representa a militarização forçada desses países e, nesta corrida frenética de ocupação do espaço em busca de superioridade económica, que é o objectivo central de potências em concorrência, estão a contribuir para gastos não essenciais à evolução societária, agravando a crise financeira que se avoluma, permanentemente, sem parar desde o princípio deste século. Com especial relevância e visibilidade desde a crise financeira de 2007/2008.

e mais exercícios militares

2 – Este frenesim castrense não é resultado directo e primordial de divergências políticas, mas sim da evolução degenerativa da situação económica mundial.

A crise bancária-financeira de 2007/2008 fez vir à luz do dia a verdadeira realidade: o poder económico e político do mundo burguês capitalista já não pertence à burguesia no seu conjunto, mas está nas mãos de um sector estreito do mesmo – o lumpen capitalista financeiro especulador, afastado, cada vez mais, da actividade produtiva.

Se analisarmos a actual situação económica, temos de admitir que se está numa fase de convulsão financeira de maiores dimensões.

E o centro dessa convulsão são, perigosamente, os bancos centrais.

Com a crise de 2007/08, por pressão dos magnates do capital especulativo, que descapitalizou o sistema bancário, os seus representantes governamentais, obedientemente, transferiram a dívida privada para a dívida pública, o que levou os Bancos Centrais (sob a supervisão dos governos) a despejarem o dinheiro público para salvar aquele sistema.

Deste modo, o endividamento privado, transferido para o Estado, duplicou, praticamente, a dívida pública, e, o encargo desta *prenda* a custo quase zero para o grande capital.

O seu pagamento recaiu sobre os trabalhadores assalariados e os reformados e pensionistas, com cortes nos salários, pensões, imposto e mais impostos, conduzindo a uma recessão económica de grande envergadura, que atingiu, essencialmente, o sector produtivo. Até hoje.

Um estudo de 2013, da Reserva Federal norte-americana do Texas, calculou que a crise de 2007/08 custou ao povo norte-americano cerca de 28 biliões dólares, valor este que se aproximava do PIB do país. (fonte Infomoney).

fábricas abandonadas nos EUA

Houve uma inversão real no crescimento económico e social dos Estados Unidos desde 2008?

O que os valores estatísticos oficiais nos assinalam não são animadores. 

Segundo dados recentes da Secretaria do Comércio dos EUA, o Produto Interno Bruto do país cresceu apenas 0,2 % em relação à taxa anual, durante o primeiro trimestre deste ano.

Citado da Euronews (30 de Janeiro de 2015), a economia dos Estados Unidos cresceu 2,6% no último trimestre do ano passado, recuando quase para a metade dos 5% do trimestre precedente.

A secretaria do Comércio norte-americana estima ainda assim que, ao longo de 2014, o PIB da maior economia da Mundo tenha subido 2,4%, o que representa, na realidade, umas duas décimas mais  do que em 2013.

Significa que a economia, em 2015, está a decrescer, aceleradamente, face ao valor de 1% de crescimento que as previsões oficiais e de analistas, considerados como cotados, admitiam anteriormente.

O valor real do PIB pode, todavia, ser negativo, se se analisarem com perspicácia o que está por detrás do que o governo esconde.

Um dos factores principais daquela situação está interligada com o agravamento do défice comercial dos EUA.

Pesquisando os dados oficiais, verificamos que, desde 2009, altura em que registou alguma recuperação da economia nos EUA, surge uma redução contínua económica no país da ordem dos cerca de 8 %.

Logo, assistimos a um desequilíbrio do comércio, em grande medida, representa um desequilíbrio produtivo.

Vai ter reflexos em tudo o que diz respeito aos trabalhadores assalariados em detrimento dos movimentos capitalistas especulativos:

Assim, mesmo registando manipulações de dados oficiais, retira-se desses próprios dados que o desemprego nos EUA é grande. E isto porque, segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho do governo de Washington, uma em cada cinco famílias norte-americanas ninguém está empregado.
fila de desempregados nos EUA

Ora, oficialmente, neste momento a taxa de desemprego está nos 5,5 %. Algo está errado no sistema estatístico.

Igualmente, não existe uma recuperação nos sectores profissionais da chamada *classe média*. Para isso basta, confrontar a posse de casas.

A 24 de Agosto deste ano, a agência Blomberg, citando o Instituto de Estatísticas dos EUA, a taxa de posse de casas dos EUA caiu para 63,4 por cento no segundo trimestre, o patamar mais baixo desde 1967.

O número de unidades ocupadas por inquilinos cresceu em cerca de 2 milhões de pessoas em relação a 2014, disse a agência no mês passado.

Ainda segundo a Blomberg, os donos de propriedades para alugar de menor tamanho, que representam a maior parte do mercado, têm sido limitados pela falta de opções de financiamento.

As exportações caíram para -5,1% no primeiro trimestre deste ano, segundo a Secretaria do Comércio (Junho deste ano).

Referenciamos ainda – não visamos outros – uma questão grave que pode *rebentar* brevemente: a bolha de empréstimo a estudantes.

Segundo a Blomberg, apenas 37% dos estudantes que recorreram a empréstimos estão a reduzir os seus saldos prontamente.

A Moodys assinala que esta dívida estará nos três mil milhões de dólares, que se pode complicar, pois, existem indícios de que haverá cada menos reembolso do pagamento aos bancos, situação que está a alastrar às casas e até ao pagamento ao fisco.

E, claro aumenta o desemprego:  A Procter & Gamble anunciou que irá cortar até mais 6.000 empregos; A McDonald`s admite fechar cerca de 700 restaurantes no país; os analistas financeiras revelam que existe a possibilidade real de metade de todas as companhias de fracking nos Estados Unidos caírem na falência ou serem vendidas em finais de 2015.

Os alertas para um colapso das economias, não só dos EUA, mas da maior parte dos países, não provem de qualquer economista isolado, mas são efectuadas por instituições como o FMI, o Banco Mundial e até mesmo a Reserva Federal norte-americana.

3 – A actual crise chinesa segue a senda  do colapso do sistema financeiro que se iniciou em 2007/08, com o descalabro vigarista dos grandes bancos norte-americanos.

O jornal inglês The Telegraf, de 25 deste mês, noticia, citando a analista chinesa Charlene Chu (igualmente um estudo do IHS Global Onsight refere o mesmo problema embora com valores diferenciados) que o governo fez empréstimos da ordem de 15 biliões de dólares aos chamados *shadows banks* (ou seja empréstimos informais a especuladores, fora do sistema financeiro regulado).

Dinheiro este que desaparece em off-shores e operações *obscuras*, ficando as dívidas no Estado, que terão de ser pagas pelos contribuintes.


No ano passado, o banco JP Morgan, um banco que, curiosamente, entra neste tipo de especulação, estimou que este tipo de crédito foi responsável por 69% do PIB chinês em 2012.

Os sinais desta crise já eram sintomáticos para as próprias autoridades governamentais da China. No Congresso do Partido Comunista, a 5 de Março deste ano, o actual primeiro-ministrio, Li Keqiang, referia:“A pressão sobre a economia chinesa está-se intensificando”.

Um mês antes, o Instituto de Estatísticas da China assinalava o facto de se ter registado o mais baixo ritmo de crescimento da economia nos últimos 24 anos, tendo previsto que a meta de crescimento iria baixar. Sublinhava mesmo que o modelo económico capitalista implantado no país estava a falir.

Por outro lado, a China está em sarilhos com uma provável bolha imobiliária. Não se conhece a sua extensão, mas várias fontes e relatos admitem que entre 2010 e 2014, o crescimento exponencial da construcção civil teria contribuído, artificialmente, para que o PIB tivesse aumentado em mais de 50%.

Este crescimento é especulativo, pois não significou, na realidade, um incremento na economia real produtiva, ou seja o mesmo que sucedeu – e continua a suceder - nos EUA, na UE e outras economias ditas emergentes: crédito fácil, endividamento contínuo, crescimento da especulação bolsista, branqueamento de capital, esvaziamento dos cofres do Estado.

Desconhece-se o número real das chamadas *cidades-fantasmas*, construídas em série, sem serem ocupadas. Os números podem ir de 300 a 500.
cidades fantasmas na China

Mas, claro, a interligação da economia chinesa, neste momento, com as potências e países emergentes e em desenvolvimento, irá provocar rombos de uma dimensão que não se imagina.

4 – A sucessão constante de crises económico-financeiras capitalistas desde o início deste século – embora já marcadas por crises prolongadas desde 1973 (com a chamada crise do petróleo) são indícios precisos de que a lumpen-grande burguesia especulativa não consegue incrementar  a actividade produtiva, levando a uma situação que se começa a tornar evidente que a burguesia, no seu conjunto, e a nível mundial (com capitalismo liberal ou de Estado) está a transformar-se num obstáculo à evolução social.

É neste ambiente de colapso das próprias forças burguesas, que surgem os rumores de guerra. Elas procuram ganhar algum fôlego, na sua concorrência global, para evitar a sua ruína total.

A conjuntura, nesse sentido, leva-as a radicalizar o sistema político, buscando soluções ditatoriais de governação.

Os exemplos alastram, desde a Europa até aos Estados Unidos, passando pela América Latina, Japão e a China.

O aparecimento nos Estados Unidos de candidatos apelando ao nacionalismo fascista e ao racismo, não é um fenómeno isolado.
O candidato republicano norte-americano Donald Trump

Ele emerge na Europa, abertamente ao luz do dia, partidos pró-fascistas estão em governos de vários países.

Mesmo os chamados democratas da União Europeia, os representantes no momento presente dessa lumpen grande burguesia favorecem esse aparecimento, jugulando qualquer tentativa de busca de um novo tipo de poder, mesmo com programas sociais-democratas ditos de esquerda, como sucedeu na Grécia, com o Syriza, e, procuram desmobilizar idênticos partidos em Espanha, Portugal, Inglaterra, França ou na própria Alemanha.

Todavia, com os últimos indicadores de uma nova crise capitalista mundial, verifica-se que as forças produtivas estão a fugir-lhe das mãos.

O capitalismo financeiro especulativo está a empurrar a sua própria sociedade para uma nova situação política. Pode ser uma guerra mais generalizada que a conduza à destruição, mas também pode estalar uma revolução.

Ora, seja qual for o choque violento que se avizinha, pode ser que leve os povos explorados a sair da moleza e amorfismo das últimas décadas, e, pelo menos acabar com o actual estado de coisas que tem levado ao empobrecimento e ao baixar das cabeças, com a maior da humilhação.

Se houver uma sacudidela que leve a fomentar uma nova consciência revolucionária nas classes trabalhadoras de hoje, pode ser que haja um novo caminho real de poderes económicos e políticos.


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