sábado, 25 de abril de 2015

O ESTADO ISLÂMICO NÃO EXISTIA NO MÉDIO-ORIENTE ANTES DA CRISE SÍRIA

1 – Os grandes meios de comunicação social do chamado *Ocidente* - ou seja melhor dizendo fazendo parte do lobby judeu norte-americano (CNN, FOX, ABC, CBS, NBC, Wall Street Journal, Time, Newsweek, New York Times, Washington Post, Los Angeles Times, Boston Globe, entre centenas de outros) que ditam o «guião» noticioso para os países da América, Europa (União Europeia e próximos), Japão, Malásia, Austrália e Nova Zelândia, principalmente, apresentam os conflitos armados que surgem em Médio-Oriente, Ucrânia, África, e, em lume brando, na Coreia do Norte, Colômbia, Venezuela, Equador e Bolívia, entre outros, como sendo obra de conflitos, essencialmente, religiosos, inter-étnicos, ou de cariz terrorista, a maior parte deles nascidos – na sua opinião – praticamente do ar.

Um ser consciente e racional deve encarar a notícia sempre, com a visão da sua experiência de vida.

Logo, a dúvida deve preceder a certeza da sua sustentação.

Não há neutralidade na vida, como na opinião escrita ou na notícia redigida.


Soldados norte-americanos e combatentes apresentados como talibãs na base aérea norte-americana de Frankfurt


2 –  Há cerca de 45 anos, uma esquadra de navios de guerra portugueses, em serviços na então colónia da Guiné-Bissau, rumou para Conacri com o objectivo de efectuar um golpe de Estado na Guiné de Seku Turé, e ali colocar um governo-fantoche, que seria orientado a partir de Bissau, e , particularmente do falecido general António de Spínola.

O grosso dos participantes na operação eram militares das tropas especiais portuguesas – fuzileiros e comandos -, com um conjunto de oposicionistas e *mercenários* da Guiné-Conacri.

A tropa portuguesa ia disfarçada como sendo soldados da Guiné-Conacri – no vestuário e na camuflagem visual, pois eram, na sua maioria brancos-, tal como os oposicionistas e os navios com os sinais de indentificação lusos tapados.

Utilizaram, inclusivé, armamento à antiga União Soviética, comprado por um intermediário, para dar um *ar* de uma acção que nada tinha a ver com o chamado Ocidente.

Foi, na realidade, uma operação «encoberta», ilegal face ao direito internacional, organizada, treinada e fomentada por Portugal, criada – e  alimentada meticulosamente pela propaganda -  justamente para sustentar a tese de que seriam inimigos internos do então Chefe de Estado de Conacri Seku Turé, que a efectivavam e dirigiam.

E, até os dias de hoje, o Estado português não reconheceu, oficialmente, o crime, e, os objectivos propagandísticos das autoridades de Lisboa (e Bissau) de então fizeram constar de que era uma acção interna, um conflito meramente doméstico de um conjunto de opositores que desejavam apear o dirigente político guineense e instaurar um governo democrático.

Ainda hoje, os seguidores, agora democratas, do regime fascista de Marcelo Caetano procuram manter a ideia (e até enaltecê-la!!!) de que a operação «Mar Verde» foi, pura e simplesmente, um actividade de âmbito interno, que teria algum apoio português.

E existe muita boa gente que, na actualidade, acredita nesta patranha.

Na realidade, o Estado português apenas pretendia substituir o regime por uma *estrutura política fantoche* para liquidar as bases do PAIGC naquele país.

E o PAIGC tinha perfeita noção que para manter a sua actuação eficaz na Guiné-Bissau necessitava do apoio de rectaguarda de Conacri.  

MAR VERDE: Como se veste um exercito ocupante de humanitário exército de libertação

3 – Este trecho tem um objectivo da minha parte, como cidadão, antigo militar e jornalista, de desmistificar o que, actualmente, se escreve e manipula, no Ocidente, face à presença do chamado Estado Islâmico em vários países do Médio-Oriente, e, em menor escala, mas empolados noticiariamente, em Estados da Europa e da América.

Antes da intervenção dos Estados Unidos na política síria, não existia qualquer notícia de que haveria naquela ou noutras regiões do Médio-Oriente uma estrutura político-militar que se chamasse Estado Islâmico.

Mesmo quando os EUA se encavalitaram na chamada *Primavera Árabe*, que se estendeu praticamente por todo o mundo mulçumano mediterrâneo, o principal centro do movimento era laico e não existia, directamente, uma componente avassaladora de militância islâmica.

Assim sucedeu no Egipto, Tunísia, Marrocos, Líbia, Iémen, entre outros países.

Foi sol de pouca dura, pois quando as forças se posicionaram no terreno para enquadrar o processo de transformação radical do poder, verificou-se uma rápida ascensão – quase militar - das chamadas Irmandades Muçulmanas, de ideologia sunita, ligada ao wahhabismo, controlado directamente pela dinastia reinante na Arábia Saudita, apoiadas e financiadas, na realidade, pelos Estados Unidos.

Centremo-nos, pois, na política síria.

Nos princípios do ano 2011, a *onda primaverista*, saudada pelo mundo ocidental, entrou na Síria.

Aparentemente, parecia uma movimentação, política, de cariz democrática, mas verificou-se que os seus princípios ideológicos estavam centrados na *ideia subversiva* dos neoconservadores golpistas norte-americanos, justificativos de acções interventivas em nome dos *direitos humanos*.

Num ápice, floresceu um Exército Livre Sírio, fortemente armado, organizando uma luta convencional contra o Estado.

Em três tempos, de Londres, foi montado um Observatório dito dos Direitos Humanos, que expelia propaganda vomitada somente para dar a ideia de que o regime estava a massacrar impiedosamente a população.

Em dois meses, já havia uma única organização representativa formando o chamado Conselho Nacional Sírio. (Contabilizam-se mais de 10 mil ocidentais a combater no país. Quem os envia e lhes permite as movimentações?).

Estados Unidos e os seus «varredores europeus» começar a municiar, enviar dinheiro e recrutar fortemente «jovem idealistas» para lutar com o «ditador Assad».

A Síria, no enquadramento geopolítico, era importante para os EUA para controlar o Irão e afastar a Rússia de uma política de alianças com o mundo muçulmano.

Estes últimos reagiram, fortemente, e colocaram armas e homens no terreno. A *Primavera árabe* síria começou a murchar.

Como por encanto, em 2014, aparece uma forte e bem estruturada formação castrense, que se auto-apelida de Estado Islâmico da Síria e do Iraque (EIS), que também é conhecido nos meios ocidentais por Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIL), com o acrónico em árabe Da´sh ou Daesh.

Diz quer implantar o califado e o seu líder é um senhor que se intitula Abu Bakr al-Bahgadi. Rege-se pelo sunismo wahhabista mais barbárico.

O curioso disto tudo é que as armas mais sofisticadas dadas pelos Estados Unidos e vassalos ao chamado conselho nacional sírio (com a míriade de pequenos grupos) aparecem nas mãos dos grupo do Estado Islâmico, que, em pouco meses, tem um recrutamento de mais de 10 mil ocidentais (europeus, norte-americanos, australianos, e, principalmente, de sauditas, jihadistas líbios, entre outros, apoiados por Washignton, Londres e Paris).

Entram, na sua maioria, pela fronteira da Turquia, com passaportes legais dos seus países, e com o apoio directo do Exército de Ankara.

Ora este Exército jihadista apresenta-se com uma orientação castrense de grande envergadura, experimentada, organizada por líderes altamente treinados nas guerras clássicas.


Quem fornece estes veículos militares modernos ao Exército Islâmico?

Fazem avanços estratégicos em zonas sírias, onde predominam as grandes jazidas de petróleo, bem como em idênticas reservas de matérias-primas no Iraque.

Ocupam regiões, onde actuam, principalmente, grandes empresas petrolíferas multinacionais controladas pelo mundo ocidental.

Verifica-se que conseguem fazer exportações do crude, o que pressupõe apoios rodoviários e marítimos de grandes firmas com capacidade de fazer escoamento desse petróleo – e gás – em condições de relativa segurança.

A pergunta natural: como se consegue fazer tal, se não houver um apoio de rectaguarda de grandes países?

Vamos, pois pensar,


Estes veículos militares ocidentais modernos nascem do céu?




4 – Quem é o chamado califa do Estado Islâmico?

Terá um nome inicial de  Ibrahim Awwad Ibrahim Ali al-Badri al-Samarrai.

Conhece-se hoje como Abu Bakr al-Baghdadi: e nos tempos mais recentes como Abu Bakr Al- Amir al-Mu'minin Califa Abrahim.

O seu passado, mais ou menos referenciado, pelos meios de comunicação norte-americanos, reportam que, após a invasão do Iraque pelos EUA em 2003, veio a ocupar um lugar no Conselho Mujahideen Shura e no conselho judicial do Estado Islâmico do Iraque.

De acordo com dados do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, al-Baghdadi esteve sobre *controlo* norte-americano no Camp Bucca como «funcionário civil» das Forças americanas no Iraque, do início de Fevereiro 2004 até o início de Dezembro de 2004. 

Depois foi considerado como «recuperado», a quem foi dada toda a "liberdade incondicional".

Quando se forma o chamado *Estado Islâmico* é o homem providencial, com o nome de califa.

Sabe-se , agora, quando é anunciada a sua morte – rapidamente negada pelo Pentágono em Washington (tirem, pois, as conclusões !!!) que as forças armadas do Estado Islâmico tem uma forte componente militar dos antigos apoiantes dirigidas pelo então laico general braço direito de Saddam Hussein Izzat Ibrahin al-Douri.

Ora, pelas notícias dadas pelos chefes militares da coligação iraquo-iraniana, que, no terreno, e, não do ar, numa pretensa actividade de ataque da Força Aérea dos EUA e dos asseclas ingleses, australianos e franceses, estaria a dar apoio ao governo do Iraque e aos soldados da Guarda Revolucionária do Irão, al-Douri comanda um corpo de Exército chamado Ordem Naqsbandi, que se convertera e jurara fidelidade aos religiosos do califa al-Baghadi.

Esta aliança, curiosamente, é reportada pelos meios de comunicação norte-americana.

Voltemos atrás, à invasão líbia feita pelos ocidentais, com os EUA à cabeça. 

Depois da morte de Muhammar Kadhafi, realizada pelos «mercenários» ocidentais dessas forças invasoras, verificamos que, rapidamente, Washington colocou como governador militar da região de Tripoli, a mais importante do país, um senhor chamado Abdelhakim Belhaj, que adquiriu o pomposo nome de chefe do Emirado Islâmico no Magrebe.


Abdelhakim Belhaj, que já esteve na Síria à frente dos seus homens.

Quem é este agente secreto dos ocidentais? 
Dirigiu, desde 2007, o chamado Grupo Islâmico Combatente na Líbia (LIFG), que se vinculava, então, a Al Qaeda.

Entre 1995 e 1998, sob a supervisão do MI6, e isto antes de se ter instalado algures na fronteira do Afeganistão, na companhia de Osama bin Ladem, tentou, por vária vezes liquidar Kadhafi, na ocasião em litígio aberto com as multinacionais pró-americanas, pois pretendia começar a comerciar internaciolnalmente com uma moeda alternativa ao dólar. No caso, o euro.

Mas, então, qual a razão da sanha actual cos Estados Unidos contra os seus aliados?

Naturalmente, as relações entre os EUA e a Arábia Saudita têm agendas separadas nos seus interesses regionais.

Os eixos geo-políticos estão a mudar-se e a monarquia saudita está periclitante na visão de Washington. Por outro lado, Teerão está a ganhar ascensão e poderio regional e a forjar uma aliança-parceria estratégica com a Rússia e a China.

Na prática, o controlo real das matérias-primas do Médio-Oriente começa a cair, ainda que lentamente, para o lado dessa nova coligação. 

Mas, as bússolas dos negócios do capital financeiro, mesmo do judeu norte-americano, têm de ser ajustadas, com rapidez, aos novos tempos e aos que poderão vir por aí.

































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