quinta-feira, 7 de agosto de 2014

OS AGONIADOS JORNALISTAS DO CAPITALISMO PORTUGUÊS

1 - A angústia do jornalista apologista do capitalismo, no momento em que a doença está a atingir o sistema, está perfeitamente retratada na coluna de "opinião", assinada no jornal Expresso, do passado dia 2,  intitulada "fraude" da autoria de um responsável daquele jornal chamado Pedro Santos Guerreiro.

A prosa é feita a propósito do BES, e, Pedro Santos Guerreiro é lesto na sua preocupação ansiosa com o destino do sistema dominante do Capital.

Começa, justamente, assim:

"O Estado tem de intervir, capitalizando ou separando o banco dos problemas. E depressa. Processem-me se quiserem: houve fraude. A justiça tem de agir.

E, o climax do "jornalista" é realmente angustiante: 

"Já vamos aos polícias, já vamos aos ladrões, já vamos à ética, ao roubo, ao crime, já vamos aos culpados e aos inocentes, ás vítimas, às fúrias e às lamúrias. Mas antes salvem o BES: Salvem-no já".

E remata, a sua prosa corrida sobre o sprint para salvar o Capital, com uma tirada de feiticeiro, que desconhece o papel real do processo capitalista: "Desgraçada sorte. Há uns anos, Salgado disse *o capitalismo é amoral*. Nós continuamos a admirá-lo. Mas, no fundo, ele avisou".

(Convém assinalar o movimento profissional deste jornalista dentro do sistema capitalista:

Cita-se da imprensa - Pedro Santos Guerreiro, nascido em 1973, é director-executivo do jornal Expresso desde Novembro de 2013, onde assume funções de coordenação da edição electrónica diária, lançada em 2014. 

Antes foi director do Jornal de Negócios, desde 2007, do qual foi um dos fundadores em 1997. 

É colunista da revista Sábado, do jornal desportivo Record e do diário Correio da Manhã. Todos do grupo Cofina.

Participa num programa semanal na Rádio Renascença).

Como admirador do capitalismo, Santos Guerreiro tem a "fé" de que aquele pode permanecer moral, ao longo dos séculos, num processo estático, em que representou, no seu início, uma fase progressiva da vida da Humanidade, acabando com o feudalismo, e estendendo a forma de comércio a toda a parte do planeta Terra. 

Por isso, o capitalismo deve ser assegurado a qualquer preço, somente se tem de acabar com os seus asseclas amorais. 

Mesmo com a nacionalização. 

Cinismo de uma porra...Então já serve, quando em causa está em injectar dinheiro dos contribuintes para vender mais tarde aos mesmos abutres?

Ingenuidade de esperto. 

De funcionário do dr.Balsemão, um especulador capitalista, que domina grande parte da comunicação social defensora do sistema.

(Registemos o papel de especulador bolsista e "jogador de casino" de Pinto Balsemão.

Nunca foi jornalista de profissão, mas desde os tempo do Diário Popular aparece ligado à administração, onde, aliás, o seu tio era um dos principais accionistas. 

Hoje, é presidente do conglomerado da comunicação social Impresa, onde se integra a SIC, Expresso, Courier Internacional, Blitz, Exame, Exame Informática, Caras, Visão, Activa, TV mais, Telenovelas, Jornal de Letras, Caras Decoração, InfoPortugal e o site Olhares, bem como 33,33% na Distribuidora VASP e 22,35% na Agência Lusa, de capitais maioritariamente públicos, suportada a 100% pelo Estado, - ou seja, Balsemão recebe dividendos, sem nunca lá metido um tostão!!!.



Foi dirigente do Banco Privado Português (BPP), que entrou em falência, mas ele foi sacar 4,9 milhões de euros ao Estado, com o argumento de serem créditos, de onde era accionista, que tinha direito da instituição em falência, de que era co-responsável. Moveu mundos e fundos e conseguiu ganhar através de uma sentença do Tribunal do Comércio.

Esteve também no Conselho Assessor Internacional do Santander Totta, e pertenceu às administrações da Celbi, da multinacional Allianz e da NEC Portugal. 

Mas, a sua veia de especulador veio ao de cima, em plena crise e já na vigência deste governo, quando o seu conglomerado vacilava. 

Através de *rumores*, em 2012, - notícias da Imprensa económica - os títulos de Impresa fecharam em máximos de mais de cinco meses e lideravam os ganhos na Bolsa de Lisboa com "uma liquidez invulgar".

Em 2014, logo no início o Banco UBS e fundos de investimento entraram no capital da Impresa, no âmbito de uma guerra com a empresa Ongoing que detinha cerca de 24% do capital do grupo de Balsemão, e pretendia adquirir a maioria accionista.

Foi disparado um ataque conjunto, sem olhar a meios, claro que não foi "amoral", de todas as empresas jornalísticas do homem de Bildberg contra a Ongoing, e, por tabela contra o BES, já que detinha grande parte do capital daquela.

O resultado é conhecido. 

O ano passado, segundo a imprensa da especialidade, a Impresa teve "um dos melhores desempenhos da Bolsa, com os títulos a subirem 252%").

2 - Regressemos à prosa de Pedro Santos Guerreiro e à sua admiração pelo capitalismo.

O director-executivo do Expresso sabe, porque a crise financeira, económica e social de 2008, que se iniciou e alastrou por todo o mundo e ainda não terminou, mas dá indícios de se aprofundar, que o capitalismo, hoje, é a formação económica que se estendeu a todos os Estados e grupos de Estados, desde o seu centro, os Estados Unidos, aos seus concorrentes directos como potências, União Europeia, Rússia, China, Índia, Paquistão e os emergentes subpotências como o Brasil -Mercosur, ou a África do Sul, ou o Irão, em ascensão, de todo o planeta.

E quem domina todos esses Estados, ou seus associados ou aliados, não é a burguesia capitalista no seu conjunto, mas sim uma secção dela: a mais amoral, desclassificada, súcia e corrupta, que se considera a continuadora da grande burguesia financeira: os especuladores bolsistas, os superbanqueiros rasteiros, os sócios considerados omnipotentes que detêm as principais empresas das grandes riquezas das matérias-primas minerais e vegetais, (petróleo, gás, diamantes, carvão, ferro, ouro, florestas descomunais, campos e produções agrícolas enormes).



É ela, que, em nome do seu grande capitalismo, indica os cargos de governo, dos partidos dos parlamentos que são seus servidores, que enquadra toda a Alta Administração do Estado - desde as magistraturas, aos bancos centrais, às comissões de valores mobiliários, às chefias de topo militares e policiais, os próprios departamentos essenciais dos Ministérios.

O capitalista amoral, neste caso Ricardo Espírito Santo na perspectiva de Santos Guerreiro, não é um caso isolado nessa fracção. 

Não é um homem só que organiza uma fracção pútrida da grande burguesia financeira. 

É uma acção colectiva, segundo um plano que é formalizado e estruturado ao longo da evolução de uma sociedade, neste caso, capitalista.

E essa fracção afastou, completamente, a burguesia industrial do poder, e, menorizou, totalmente, toda a pequena burguesia - nas suas diferentes correntes, desde os intelectuais, médicos, ao camponeses com pequenas parcelas de terras.


3 - Os grandes Estados, incluindo os Estados Unidos da América, estão na míngua financeira.

Washington paralisou a sua Administração, em 2013, porque não tinha dinheiro para prover a máquina estatal, sem aumentar os impostos e retirar propostas de alargamento de financiamento do sistema de saúde aos mais necessitados. 

Teve de arranjar uma artimanha de ultrapassar o endividamento do país, de 16,7% biliões de dólares, com a emissão de notas bancárias sem correspondência com o seu padrão-ouro. 

Ora, esta míngua, esta quase falência, coloca todos os Estados - UE, EUA, Rússia, China, etc - nas mãos do sistema financeiro não só nacional, mas internacional.

Eles emprestam dinheiro a juros altíssimos e depois vão buscá-lo ao Estado - Estados, conforme queiramos refenciá-los, como o caso da Federação Russa ou Espanha - a juros extremamente baixos, o que produz uma bola de neve de mais endividamento público.

É o que está a suceder com a banca portuguesa. 

O Estado endividou-se para "evitar" a falência dos bancos e os bancos adquiriram empréstimos a juros da "uva mijona". 

Alguns, depois de sacarem dinheiro, já o fizeram regressar ao Estado, mas depois de receberem os juros de "partir os dentes" em todas as transacções dos clientes, incluindo os preços dos bens de consumo, das "compras" de títulos de Estado e na sua mão os títulos estatais representam juros altíssimos, que fazem reverter a seu favor. 

Ou, das negociatas astronómicas em torno das obras e despesas públicas.

O caso BES é paradigmático, pois o Estado "salva" o Banco com um empréstimo, mas a sua venda "limpa" vai parar ao especulador financeiro que o vai comprar por tuta e meia.

Tal como no BPN. 

Tal como sucedeu, há 30 anos, com o Banco Totta e Açores, entregue de mão beijada, completamente "puro" de prejuízos, a António Champallimaud que o vendeu por cerca de 900 milhões de euros ao Santander.



 O endividamento estatal é, portanto, a "arma" ideal dessa burguesia financeira desclassificada - com os seus malabarismos, as suas operações de traficância bolsista, os seus fundos escondidos, mas pertença real desses grandes capitalistas - para encher cada vez mais os bolsos.

Assim vai suceder com o BES, o défice de Estado vai crescer, quer digam que sim e mais que talvez.

Não pode haver qualquer veleidade de conseguir equilibrar esse défice e afastar a dependência do Estado dessa lumpen-grande burguesia, sem alterar, no cerne da questão, a sua economia política.

(O papel desses abutres financeiros está retratado, justamente, numa reportagem, desta semana, do Wall Street Journal, o órgão de imprensa do grande capital financeiro norte-americano. 

Cita-se dos jornais: "Marshall Wace LLP, TT International e Altair Investmente Management são algumas das sociedades gestoras de fundos que terão realizado "dezenas de milhões" de euros em mais-valias depois de terem apostado na queda das acções do Banco Espírito Santo (BES) durante os meses mais recentes

Geridos por aquelas entidades, os *hedge funds*, que apostam em investimentos de risco com o objectivo de obterem rendibilidades elevadas, pediram emprestadas - notem esta referência.NM - acções do banco em colapso para as venderem em bolsa, recomprando-as depois de a cotação cair e conseguindo, desta forma, realizar ganhos em operações que são conhecidas como short selling ou vendas a descoberto.

Claro esta situação somente poderia ter acontecido com a cumplicidade de todo o sistema financeiro, desde o banco até às entidades governamentais e de supervisão!!!).

4 - A agonia do sistema não é exclusiva de Portugal.

Em Abril passado, em entrevista a agência Blomberg, o antigo Presidente da Reserva Federal norte-americana Alan Greenspan afirmou que a situação actual do maior banco norte-americano o JP Morgan (JPM) é, em tudo, semelhante, ao bancos de investimento imobiliário Fannie Mae e Fredie Mac, que tiveram de ser "salvas" da falência com a injecção de dinheiro dos contribuintes, em 2008.



O JP Morgan, nessa altura, também recebeu dinheiro estatal para se manter á tona de água.

Agora, com a persistência da continuação descontrolada de especulação, segundo Greenspan, há fortes probabilidades de haver nova entrada de dinheiro público. 

Assinala a Blomberg, que o JP Morgam "é um exemplo" da existência de garantias governamentais implícitas, mas que não são contabilizadas nas estatísticas oficiais da dívida pública do país.

Ou seja, o governo faz maningâncias para dizer que o défice estatal não está a aumentar.

Dirão os admiradores do capitalismo: não há alternativa.

Claro que no mundo haverá sempre alternativa para tudo, a não ser a desaparecimento repentino da Terra.

O contribuinte não tem nada que ser roubado para servir o capital financeiro.

O capitalismo não é moral, nem uma formação económica eterna. 

É histórica e transitória, como o foram outras anteriormente.

O que está a suceder é que, na actual fase de evolução mundial, o capitalismo está a passar à História.

É já?, penso que não, mas pode ser mais rapidamente do que se espera.

O que é certo é que se começa a verificar que o incremento das forças produtivas materiais mundiais, em especial das novas classes trabalhadoras - e já não só nacionais - estão a entrar em rota de colisão com o sistema capitalista existente.

Os entraves para que a sociedade evolua, sem retrocessos civilizacionais, são peças de uma engrenagem ferrugenta.



Um número crescente de forças sociais e económicas, mais conscientes, estão à procura de forjar uma nova estrutura política mais democrática e que favoreça as aspirações a uma nova maneira de estar no Mundo.

O tempo de grandes mudanças está a percorrer o seu caminho.



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