segunda-feira, 10 de junho de 2013

ABANDONAR O EURO É UM RETROCESSO CIVILIZACIONAL


1 - A União Europeia entrará numa crise política e social mais aguda, se seguir a política imperial norte-americana de alargar a acção da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte) à Colômbia.

Claro que, oficialmente, a NATO negou que quisesse a presença colombiana naquela estrutura militar. 


O Ministro da Defesa da Colômbia, Juan Pinzon, veio agora desdizer o que o seu Chefe de Estado divulgou dias antes: vamos começar uma parceria, para entrar posteriormente.

Naturalmente, o senhor Juan Manuel Santos, o Presidente da República do narco-Estado colombiano, supervisionado pelos Estados Unidos e cujos narcóticos (desde a produção à entrada no sistema financeiro) são controlados directamente pelos banqueiros de Wall Street, não ia fazer esta proposta sem ter o beneplácito de Washington.


Claro que, para a NATO, dizer não, teve de haver uma reacção, pelo menos, do seu sector europeu.

A questão irá ficar em banho-maria. Mas está lá na agenda e permanecerá em espera, dentro do conflito concorrencial EUA/UE.




E isto porque, no cerne da questão está concorrência, sem dó, nem piedade, entre as potências em decadência, mas ainda poderosas, como os Estados Unidos e as potências em ascensão, umas sem poder armamentista suficiente, como a União Europeia, e MERCOSUL/UNASUR, outras com um grande poder de dissuação essencialmente, geo-estratégico e militar nuclear, como a Rússia e a China.

2 - Hoje, ninguém nega, inclusive a própria grande burguesia, que a economia capitalista mundial - desde os Estados Unidos à China, passando pela União Europeia e Brasil e África do Sul, entre outros - está, toda ela, "ensopada" em sintomas evidentes de um recessão que está a atingir todo o planeta. 


E os intervenientes e personagens que se
colocam em diferentes campos da barricada estão conscientes de que um furacão se avizinha.

Os senhores do sistema financeiro internacional, que foram fomentadores da crise, têm procurado, e continuam em conclaves, por vezes, caricatos, outras vezes criminosos, a definir estratégicas e a por em prática a sua política de continuar a ser o único pilar do sistema dominante para prosseguir o seu enriquecimento sem fim à custa da pilhagem constante do erário público, empobrecendo, paulatinamente, as classes assalariadas e mesmo camadas crescentes das classes médias.

Mas, a história da ascensão meteórica actual da lumpen grande burguesia internacional foi conduzida, essencialmente, por uma grande potência económica e militar, os Estados Unidos da América, numa parceria submissa, embora busque, progressivamente, fugir, sem laivos de ousadia, ao seu controlo maciço, que é o caso da União Europeia.

Mas, dentro desta, há divergências e pontos de vista diferentes, uns, os mais perigosos, em regime permanente de chantagem, como a Inglaterra e a Holanda, que tudo têm feito para "destruir" a unidade europeia, pensando sobreviver como "Império de segundo grau" (financeiro) em aliança permanente com os norte-americanos, outros numa
dúplice atitude de buscar uma nova supremacia, que lhe pode ser fatal, para ela, mas também para os povos europeus, como é o caso da Alemanha.

Os EUA utilizaram a NATO, como arma de propagação da sua prática de violência e sangue para impor o domínio mundial do seu sistema político (de uma falsa democracia tutelada por dois partidos do grande capital em oligopólio, que são o Republicano e o Democrata) e o sistema económico-financeiro de domínio absoluto da grande burguesia financeira, solidificada durante muito tempo somente pelo lobby judeu, hoje, em parceria consistente com o poder crescente do Vaticano nos negócios mundiais.

E essa utilização não foi pacífica, nem teve o condão de propagar democracia aos povos "bárbaros" dominados pela islamismo radical. 


Foi um política económica alicerçada pela violência, pelo sangue, pelo saque de riquezas sem contemplações.

Teremos de analisar esta fase, porque está interligada com o facto e a importância do aparecimento da União Europeia e do euro, por um lado, mas também, por outro, pela contribuição para o despertar de outros povos para se reunirem e formarem blocos, em oposição clara à supremacia imperial dos Estados Unidos (e implicitamente da NATO. 
Hoje é mais que claro que o bloco europeu daquela, praticamente, já não cola em nada com o sector norte-americano).

Com o fim da estrutura político-militar imperial da ex-URSS, os Estados Unidos da América arrogaram-se no direito e na praxis de tornar os seus submissos aliados em marionetas da sua política para se imiscuir, a qualquer preço e sem prestar contas, em toda o território europeu. 


Chegaram ao ponto de fomentarem a divisão entre a
"Velha e a "Nova" Europa, inundando de dólares algumas das velhas cliques soviéticas que ficaram no poder nos antigos territórios do COMECON/Pacto de Varsóvia, como a Roménia, a Hungria e a própria Federação Russa, de Ieltsin.




No principio da década de 90, precisamente, quando a União Europeia começava a ter direito de cidadania mundial, o poder de Washington fomentou, militarmente, os 
conflitos dos Balcãs, colocando europeus contra europeus, e forçou a intervenção armada da NATO desastrada e criminosa, fora do perímetro dos seus país-membros, primeiro, na Croácia, depois na Bósnia-Herzovina, para, pouco depois, unilateralmente, impor um embargo aéreo em todo o território da ex-Jugoslávia.

Depois expandiu a sua acção para África, Médio-Oriente e até Ásia.

Colocou o Iraque a ferro e fogo, destruiu, praticamente, o Afeganistão, voltou-se para o Sudão (que dividiu em dois Estados, conforme a importância do petróleo na produção). 


Está por detrás da guerra sangrenta dos Grandes Lagos, - lítio, diamantes, petróleo, urânio, etc - (Uganda, Ruanda, República Democrática do Congo e Angola). 

Fomentou o que se apelidou chamar de "Primavera Árabe", destruindo o Estado Líbio, nomeadamente, não porque desejassem expandia a sua fé na "democracia", mas porque queriam controlar, directamente, o crude do país, em associação directa com a Al-Qaeda (Ela está instalada em Tripoli, com o seu chefe no poder de governador e comandante militar!!!)

Pode parecer que tiveram sucesso. Foi só aparente.

Os sintomas evidentes dos fracassos estão à vista.

Saem de rabo entre as pernas do Iraque e, possivelmente, do Afeganistão. Soam os tambores da revolta na própria Turquia pró-americana.


Estão a perder a influência que pretendiam no mundo árabe. 

Não destruíram a Síria, nem fizeram
claudicar o Irão. 


Nesta parte do globo, ficam confinados ao apoio material de uma parte do problema do Médio-Oriente: as monarquias corruptas e medievais do Golfo e Israel. (A Jordània cujo monarca é da dinastia hashemita  - hoje já está sustentado com a presença tropas norte-americanos no país-, nada tem a ver com os milhões de berberes, que habitam este Estado, os Saud da Arábia Saudita foram colocados no poder pelos colonialistas ingleses, bem como os Thani do Qatar, que só sobrevivem porque os Saud são a sua guarda pretoriana).

3 - E, também, a sua relação entre os Estados Unidos e a União Europeia se começa a pautar pela conflitualidade permanente, embora seja abafada pela grande comunicação social dos dois lados do Atlântico. (Veja o que se está a passar com o relatório do FMI face à crise europeia, atirando com o ónus do descalabro para cima da Comissão Europeia!!!).

Desde o princípio da crise de 2008, iniciada, fomentada e exportada por Wall Street , esta atiçou ódios e divergência no seio da UE.

Procurou destruir a sua moeda e, através dos seus títeres, instalados nos governos europeus, quer sejam de origem conservadora (democrata cristã, popular, ou simplesmente pró-americana, ou de tutela dos chamados Partidos Socialistas ou Sociais Democratas), alimentar as desigualdades económicas para pagar a "salvação", primeiro, dos grandes bancos norte-americanos (pois muitos dos bancos dos países europeus são de accionistas dos EUA), depois dos grandes bancos europeus, que são
donos, também eles, de outros bancos de diferentes Estados da "Eurolândia".




Ora, esta crise trouxe para a União Europeia (os seus sectores mais esclarecidos politicamente), a ideia de que para avançar somente o poderá fazer criando um fosso concorrencial, económico, político, militar e diplomático com os Estados Unidos, por um lado, e, por outro, afastando todos os responsáveis internos causadores da crise e do sistema recessivo na economia que percorre toda a União Europeia.

No meio da crise mundial, foi justamente na Europa, que se deram as maiores manifestações e mais concorridas, os maiores enfrentamentos classistas, as denúncias mais incisivas sobre o desenvolvimento da crise mundial, bem como as maiores evoluções no interiores dos partidos e inclusive se deram alguns avanços para projectos 
transnacionais dentro da Europa para forjar uma nova política anti-capitalista.

Apesar da profunda crise recessiva que atravessa a UE, ela continua a ser uma força económica de primeira grandeza e uma estrutura política, que quer crescer, assente numa moeda forte. 


Os países europeus, que estão fora do euro, continuam a quer fazer parte dessa unidade monetária.

O avanço para a unidade europeia não é um projecto criado do zero nos finais dos ano 60 do século passado.


Desde os primeiros passos do Renascimento, sejamos mais precisos, desde a Média Idade Média, precisamente, com Portugal (século XII) a História ensinou-nos que o caminho para uma nova Europa foi construído com a formação, primeiro, dos grandes Estados nacionais, ultrapassando os empecilhos feudais, depois apareceram projectos, normalmente de carácter imperial, para uma unificação europeia forçada.

Com essas "marchas forçadas" e ditatoriais apreendeu-se e tiraram-se lições no século passado. Alguns agora fazem por esquecer.


O caminho para a Unidade europeia, posta em prática com a Comunidade do Ferro e do Aço, depois da II Grande Guerra, e da Comunidade Europeia, hoje União Europeia, 
teve um pressuposto que está subjacente à instituição dos grandes Estados nacionais pré-renascentistas, e, essencialmente renascentistas, a busca de uma cooperação transnacional assente na relação de constituir uma nova forma de estabelecer  forças produtivas iguais e distribuídas entre Estados europeus para via a formalizar uma entidade superior supranacional, poderosa, com uma nova política.

(Claro que quem esteve à frente deste avanço foi um sector esclarecido da grande burguesia. Certo. Mas, por detrás, estavam as reivindicações dos assalariados dos diferentes países europeus, que levaram inclusive a unificações formas de bem-estar, de lazer,  de aumentos de salários para se buscar aproximações. Não foram *dádivas* burguesas...).

Foi, portanto, o primeiro grande bloco político supranacional em nascimento, resultado da conjugação de Estados-soberanos, onde mais se desenvolveram as relações de produção capitalistas num espaço relativamente curto (cerca de 30 anos), que ombreavam com a grande potência económica internacional os EUA.


Foi (e é) modelo de projecto de interligação com os novos pólos emergentes, como o Mercosul e o bloco que se procura formar no Extremo-Oriente, que vão ser os futuros centros de poder multipolar provavelmente nas próximas duas dezenas de anos.

É nesta União Europeia que estão os processos mais avançados da destruição do próprio capitalismo. 


Destruí-la é favorecer a recomposição do capitalismo numa perspectiva mais desesperada, mais contundente, possivelmente mais nazificada na sua perspectiva política internacional.

Do ponto de vista da economia política, a União Europeia está em condições mais propícias para ultrapassar a crise, - maior controlo da dívida pública (títulos de Tesouro, Dívida soberana) pelo Banco Central.

Todavia, esta somente terá efeitos práticos de relançamento se a definição prática da construção da sua unidade, ultrapassando particularismos nacionais, for efectuada pelo alargamento de uma nova estrutura de poder, que tenha em contra o progresso humano, as reivindicações das classes mais desfavorecidas, o alargamento das decisões
democráticas de base popular, o objectivo de alcançar uma cooperação dentro dos diferentes Estados dessa União (federativa ou confederal) mais igualitária e harmoniosa, 
sem a qual não poderá haver uma nova Europa Federal de Estados Confederais em igualdade de tratamento e condução política.

4 - A economia mundial irá piorar nos próximos tempos, talvez anos. 


Pode-se imaginar que alguns países não estão em estado tão calamitoso, como parece estar a Europa.

Não é verdade. 


Os Estados Unidos da América estão em semi-coma, mascarada com uma injecção maciça de dinheiro, que já não se pode esconder com o poder encobridor dos petro-dólares. 

Porque há desconfiança naqueles, porque há novas formas de trocas monetárias entre Estados, que os ultrapassam e desprezam. Deixam de ser moeda de referência, sem contestação. 




Há indícios, nos Estados Unidos, de novas bolhas imobiliárias, e de possíveis falências de grandes bancos, como o próprio JP Morgan emaranhado em operações duvidosos, inclusive com o próprio negócio do ouro.

A China tem uma recessão de dimensões nas suas exportações e vira-se para a expansão do seu mercado interno.

Os chamados países emergentes estão a elaborar estratégias de incremento do comércio dentro dos seus espaços de parceria, o que pressupõe um aparecimento de proteccionismo por blocos, com uma congregação em torno de moedas dos seus países e fora da supremacia norte-americana.

Certamente, está a desenhar-se uma nova ordem mundial, com diferentes centros de poder, centros estes que se estão a militarizar crescentemente.


Está no tempo certo da UE avançar para uma maior unidade, em torno de um novo poder e uma cooperação com outros blocos que façam frente ao poder cada vez mais militarizado e fascizante do Estados Unidos da América, acossados, fortemente armados, mas em decadência económica acelerada.

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