domingo, 7 de abril de 2013

WALL STREET E A CITY LONDRINA SEM OFF-SHORES?



1- A grande imprensa internacional fez a transcrição, dias atrás, de uma eventual mega-investigação, que detectou empresas e fundos sedeados em “off-shores” para fugirem ao controlo fiscal e legal,  realizada pelos órgãos de comunicação social abaixo discriminados.

Cito a transcrição, ela é mais ou menos igual, pois resulta da tradução das agências internacionais feita pela sua congénere lusa.

Colocarei  interrogações!

“Uma organização internacional de jornalismo de investigação (ICIJ) revelou ter tido acesso a milhões de ficheiros que identificam mais de 120 mil empresas e fundos 'offshore', que expõem negócios de políticos, criminosos e bilionários de todo o mundo.

O International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ) (Grupo Internacional de Jornalistas de Investigação), que envolveu, na análise dos ficheiros, dezenas de jornalistas de títulos como o Guardian, BBC, Le Monde, Süddeutsche Zeitung e Washington Post, entre outros, afirma que os documentos a que teve acesso representam "a maior pilha de informação confidencial sobre o sistema financeiro dos 'offshores' alguma vez obtida por uma organização de media".

"O tamanho total dos ficheiros, medidos em gigabytes, é mais de 160 vezes maior do que a fuga de informação dos documentos dos Departamento de Estados dos Estados Unidos a que a Wikileaks teve acesso em 2010", lê-se no portal da organização, que revela ainda que "os registos revelam 'holdings' pessoais e de empresas em 'offshores' em mais de 170 países e territórios".

Os ficheiros revelam factos e números -- transferências de dinheiro, datas de incorporações, ligações entre empresas e indivíduos -- que "ilustram a forma como o sistema secreto de 'offshores' se espalhou agressivamente por todo o mundo, permitindo aos mais ricos e aos melhore relacionados fugir a impostos e estimular a corrupção, protegendo criminosos e corruptos em países ricos e pobres sem discriminação".

Entre os nomes revelados encontram-se médicos e dentistas norte-americanos, aldeões gregos de classe média, correctores na bolsa de Nova Iorque, ou multi- -milionários indonésios e da Europa Central ou ainda gestores russos de empresas de topo, negociantes de armas e empresas de fachada”.

Ilhas Virgens Britânicas: uma ilhota carregadas de off-shores

2 – Aparentemente, esta divulgação poderá fazer com que sejam despoletados processos de investigação judicial que abarquem alguns dos principais capitalistas do mundo.

Admite-se, pelo menos, na Grã-Bretanha que uma parte substancial dos dirigentes de grandes empresas estejam metidos ou relacionadas com as fraudes gigantescas de fuga ao fisco e branqueamento de capitais naquele país.

Mas, pelo relatos saídos no The Guardian, que é um dos jornais que assinala “o lançamento de revelação de segredo dos ricos que se escondem no mar do dinheiro”.

“ O lançamento de mais de dois mil e-mail e outros documentos, principalmente a parte do paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas (BVI) tem a possibilidade de causar um abalo sísmico em todo o mundo para o comércio florescente das off-shore, na opinião do ex-economista-chefe da empresa Mckinsey, que estima que os indivíduos ricos podem esconder até 32 biliões de dólares em paraísos fiscais”, reporta o jornal.

E assinala, nomeadamente o caso de Jean-Jacques Augier, tesoureiro da campanha presidencial do actual Chefe de Estado francês, que foi forçado a identificar um seu parceiro de negócios chinês.

Outro dos citados é o ministro das Finanças da Mongólia, que poderá renunciar à sua carreira política.

Dos Estados Unidos, destacam o caso de uma senhora chamada Denise Rich, ex-mulher de um capitalista ligado ao comércio de óleo de nome Marc Rich, que teria sido perdoado, numa decisão controversa, de evasão fiscal pelo antigo presidente norte-americano Bill Clinton.

Aparece ainda a mulher do vice-primeiro ministro russo Igor Shuvalov e senador canadiano Tony Merchant, bem como a antiga "miss" Espanha Carmen Cervera, que se casou com o barão alemão Thyssen-Bormenisza.

3 – Curioso:  não aparecem neste nomes, pelo menos no que vêem citados, quaisquer grandes magnatas ligados ao núcleo duro de Wall Street ou City Londrina. 

Nem sequer da Alemanha que todos sabemos estar “engordada” em off-shores.

Cidade do Panamá (Reuters / Henry Romero)
Panamá: um paraíso para off-shores de capitalistas alemães

Nem um único nome que surja dos grandes centros de poder financeiro, como o Banco do Vaticano, ou grandes accionistas dos 10 maiores bancos, grandes companhias de seguros ou empresas multinacionais norte-americanos, ingleses, suícos, alemães, franceses.

Lembram-se do Madoff, e do seu esquema de gestão de fortunas?


De acordo com WSJ, os investidores que sofreram maiores perdas com o esquema Madoff (e quem eram os seus supervisores?) incluiam grandes grupos finnaceiros, tais como a Fairfield Greenwich Advosores, 7,5 mil milhões de dólares; Tremont , 3,3 mil milhões, B. Santander, 2,87 mil milhões,   Fortis, 1,35 mil milhões; Union Bancaire privée, mil milhões E HSBC, mil milhões.

Outros investidores tiveram perdas que vão dos 100 milhões a mil milhões de dólares, como o Royal Bank of Scotland, BNP Parisbas, BBVA, Carl J. Shapiro e AXA SA.

Tudo estava em off-shores, o dinheiro existiu e existe, onde está?

Circulou, naturalmente, para outros paraísos fiscais.

Vejamos se os citados órgãos de comunicação social cumprem o seu papel de independência que preconizam.

Ou então, podem estar a cumprir um papel de manipulação organizada. 

Vejamos os próximos desenvolvimentos.

4 – Não se deve esquecer uma reportagem mais antiga surgida no The Guardian – e a memória é para ser avivada – segundo o qual o jornal diz sem qualquer rebuço que o Estado Papal – O Vaticano – “construiu um império de propriedades com o dinheiro que recebeu do ditador fascista Benito Mussolini, ao assinar o Tratado de Latrão, em 1929”.

 Arquivo: BPheadoffice.JPG
Edifício na Praça de Saint James, sede das BP

De acordo com The Guardian, representantes da Santa Sé adquiriram grandes joalharias de luxo, sedes de bancos e escritórios em várias zonas de Londres, muito valorizadas.

O representante diplomático do Estado Papal em Londres, segundo o periódico, o arcebispo Antonio Mennini, escusou-se a comentar o assunto.

O jornal pesquisou arquivos históricos e patrimoniais das empresas, percorrendo o caminho do dinheiro desde à altura que o Vaticano recebeu o dinheiro do regime fascista.

O valor desses prédios estarão hoje avaliados em mais de 900 milhões de euros.

Em 2006, já em plena crise do imobiliário, a Santa Sé teria investido 15 milhões de libras para comprar propriedades na Praça de Saint James, em Londres.

O jornal escreve ainda que a Santa Sé tem imensas propriedades em Paris e na Suíça. O Vaticano – refere o The Guardian – usa uma empresa de fachada britânica Gro lux Investments, Lda para gerir as empresas no país de Sua Majestade.

Dois dos accionistas, na altura, eram os banqueiros John Varley, do Banco Barclays, e Robin Herbert, do banco Leopold Joseph.


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