quinta-feira, 18 de abril de 2013

ATENTADO DE BOSTON: A QUEM SERVE?



1 – Houve um atentado em Boston nos Estados Unidos. 

Não pode ser negado. Houve mortos e feridos provocados por uma explosão.

Quem os provocou? Pista interna ou externa?

Podem até ser as duas. 

A pista interna até se pode vir a determinar que esteve a cargo das instituições de contra-informação dos Estados Unidos.

Nada que seja transmitido pelo poder político-policial norte-americano pode ser tomado como consistente.

Eles são, neste momento, o centro do terrorismo internacional.

E isto por duas razões:

a) eles actuam no Mundo com a arrogância de antigos soberanos absolutos, provocando, na prática, uma guerra (aberta ou silenciosa) contra todos os que contestam a sua auto-proclamada liderança mundial;

b) Estão a por em marcha internamente uma política de fascização crescente do Estado, limitando toda a actividade política ou de simples cidadania que ponha em causa a governação da dominação política leonina do grande capital, através do incremento do desemprego, diminuição dos salários reais,  cortes ainda mais brutais nas prestações sociais, entre outras.

Ora, tais orientações e práticas políticas que espezinham, no exterior, os sentimentos nacionais, e no interior, o nível de vida e o bem-estar e a própria liberdade de organização e acção cívicas não podem durar sempre, nem deixarão de ter as mais variegadas respostas.

Somente uma investigação “externa”, feita por pessoas entendidas de diferentes países, com posições políticas divergentes, podem dar alguma veracidade ao que se passou na fase final da maratona de Boston no passado dia 15. 

O que as autoridades norte-americanas divulgarem, oficialmente, da minha parte, terão sempre um “pé atrás” a não ser que sejam perfeitamente enquadradas.

Pelo que consegui ver dos vídeos divulgados pelos grandes órgãos de comunicação social, as explosões ocorreram muito próximo da linha de meta da maratona. 

Logo: surge-me uma interrogação – se toda a área foi passada a “pente fino” pela polícia, que inclusive utilizou cães-pisteiros, como nada foi detectado?

E após as explosões, ainda descobriram duas “bombas” (seriam?) por rebentar? Se rebentaram as outras, porque não aquelas?.

2 – Esta explosão apareceu, quando os EUA estão a preparar uma grande intervenção político-militar no Extremo-Oriente, aparentemente, tendo como epicentro a Coreia do Norte, mas na realidade procuram conter a concorrência da China na região, e ao mesmo tempo, na Síria, para atingir, por tabela, o Irão, mas acima de tudo, o ascenso geo-estratégico da Rússia no domínio do petróleo e gás em toda a região do Cáspio. 

Ora, fala-se em prenúncio de guerra directa ou por interpostos intermediários.

Para “vender” esta política belicosa no aspecto externo, tem de se “amendontrar” as suas populações internamente, inclusive levá-las a participar em reforço do militarismo, que é na realidade um esforço de maior despesa orçamental com a defesa. 

E isto quando, a própria administração Obama procura suprimir despesas com as Forças Armadas e o complexo industrial militar, devido ao crescimento exponencial da dívida pública, que se reflecte na sua restrição em cortes nas despesas castrenses.

Assim sucedeu, quando os estrategas do lúmpen grande capital financeiro, que governa Washington, engendraram o ataque às Torres Gêmeas de Nova Iorque em 11 de Setembro de 2001.

De imediato, os alvos já estavam preparados: Afeganistão e Iraque. 

Com toda as consequências criminosas que se conhecem. Desde as mortes de centenas de milhares de afegãos e iraquianos, à proliferação das torturas, detenções arbitrárias, entre outras actividades nazis.

Mas essencialmente toda a doutrina e a sua aplicação prática securitária postas em marcha nos Estados Unidos – e ao mesmo tempo no Mundo Ocidental e com o apoio de certos países tidos como hostis, mas que serviram de cadeias “secretas” norte-americanas fora da jurisdição daquele país.

3 -  Até hoje ainda não foi condenado, nem um único dos suspeitos envolvidos na “conspiração” da Al-Qaeda contra os Estados Unidos.

Na actualidade, é cada vez mais evidente que os chamados ataques às Torres Gêmeas e ao Pentágono tiveram uma organização interna para servir os “interesses vitais” do imperialismo de Washington em territórios estrangeiros ricos em matérias-primas e considerados de importância para a sua geo-estratégia internacional.

Através de trabalhos de investigação de órgãos de comunicação internacionais, nomeadamente a BBC, Guardian, mas também dos EUA, como a AP, sabe-se, através de declarações do responsável pela emissão de vistos de entrada de naturais da Arábia Saudita nos Estados Unidos, em 2001, de nome Michael Springmann, que os “passaportes dos sequestradores do 9/11 foram emitidos pela CIA”.

Retiramos da imprensa citada, em síntese, Michael Springmann, que foi funcionério consular dos EUA, com estatuto de chefia, em Jidah, Arábia Saudita, referiu que ele “repetidamente ordenou a emissão de mais de 100 vistos para candidatos a entrar nos Estados Unidos sem qualificação”. 

E esta ordenação foi forçada – contra a sua vontade -  pelos seus superiores na embaixada, agentes da CIA.

Perante as objecções e reclamações que fez, foi demitido e os dossiês que elaborou sobre os candidatos à imigração para os EUA “foram destruídos”. 

Acrescenta que os indivíduos, que foram recrutados em vários países para formarem a estrutura de Bin Laden para lutar no Afeganistão contra a antiga União Soviética inscreveram-se na embaixada norte-americana na Arábia Saudita para conseguirem visto de entrada no seu país. 

Sublinhou que 11 dos 19 possíveis sequestradores ligados ao processo do 11 de Setembro de 2001 receberam o visto de entrada nos EUA, via consulado de Jidah.

Assinala um órgão de comunicação social: isto foi exposto no “National Press Club a 10 de Junho de 2002, em Washington DC. (Ninguém poder dizer que os grandes órgãos de comunicação social não teve acesso a esta informação). 

A testemunha, extremamente credível, foi atacada pela Administração (no tempo BUSH) e pelos grandes meios de comunicação social ao longo de muitos anos”.

4 – A finalizar, reproduz-se um artigo escrito pelo antigo diplomata canadiano Peter Dale Scott, retirado do seu artigo “A CIA, o 11 de Setembro. Afeganistão e a Ásia central”.

Certamente, que é um ponto de vista, mas tem investigação e sabedoria interna do que descobriu na sua profissão.

As citações são explicadas no seu artigo. Eu retirei-as, pois alargava enormemente este texto.
   

**Penso que 
 inicialmente terão beneficiado de proteção porque tinham sido enviados para os Estados Unidos pelos serviços de inteligência da Arabia Saudita (o GID).

Isso explicaria porque, depois da sua chegada, parecem ter sido financiados de forma indireta pela embaixada da Arabia Saudita em Washington.

Paul Church resumiu bem esses factos no Asia Times Online (edição de 12 de fevereiro de 2012):

«Entre 1998 e 2002, cerca de 73 000 dólares em cheques bancários foram transmitidos por Hayfa bint Faysal, a esposa de [embaixador da Arabia Saudita em Washington, o príncipe] Bandar, a duas famílias californianas conhecidas por terem financiado al-Midhar [sic] e al-Hazmi (Bandar descreveu um dia George H. W. Bush e sua esposa como a “minha mãe e o meu pai”). [...] A princesa Hayfa enviava com regularidade pagamentos mensais que iam de 2 000 a 3 500 dólares a Majeda Dweikar, a mulher de Osama Basnan – que teria sido um espião do governo saudita, segundo vários investigadores. Numerosos cheques eram [também] endossados a Manal Bajadr, a mulher de Omar al-Bayuni, ele mesmo suposto de trabalhar secretamente para o reino [saudita]. Anteriormente, as famílias Basnan, al-Bayuni e os dois piratas aéreos do 11 de Setembro tinham partilhado o mesmo imóvel em San Diego. 


Foi Omar al-Bayuni que recebeu os assassinos quando chegaram aos Estados Unidos pela primeira vez e que lhes proporcionou um apartamento e cartões da segurança social (além de outras formas de ajuda). Inclusive ajudou-os a inscreverem-se em várias escolas de pilotagem aérea na Florida.».

Se os dois sauditas foram realmente enviados pelo GID ou não, é, praticamente, certo que foram admitidos nos Estados Unidos no quadro de um acordo de ligação entre o GID e a CIA.

O príncipe Turki ben Faisal, ex-director do GID, declarou que ele mesmo trocava as suas informações sobre al-Qaeda com a CIA e que em 1997 os sauditas «estabeleceram uma comissão mista de inteligência com os Estados Unidos para trocar informações sobre el terrorismo em geral e sobre [...] al-Qaeda em particular» .

O Relatório da Comissão sobre o 11 de Setembro acrescenta que, na sequência de entrada do ano 2000, foram iniciadas reformas no Centro de Contra-terrorismo (CTC), o que incluía a Alec Station (a Unidade bin Laden da CIA). Nesse contexto, o CTC queria instaurar o seu plano, adotado 6 meses antes, que consistia em «melhorar as capacidades dos serviços de segurança estrangeiros que tinham proporcionado informação através da ligação».

Essa era uma especialidade de Richard Blee.

Steve Coll informou que Blee e a sua responsável superior, Cofer Black, estavam muito entusiasmados com as possibilidades que se abriam graças aos acordos de ligação, já que permitiam estender a influência e a capacidade de acção da CIA em regiões cruciais.

Assim que, em 1999, Cofer Black e Richard Blee voaram juntos para Tachkent, onde negociaram um novo acordo de ligação com o Uzbequistão.

Segundo Steve Coll e o Washington Post, aquele arranjo conduziu ao rápido estabelecimento de uma ligação da CIA com a Aliança do Norte, no Afeganistão, através de Tachkent.

Thomas Ricks e Susan Glasser reportaram no Washington Post que depois dos atentados à bomba contra as embaixadas dos Estados Unidos em Dar-es-Salam e Nairobi, em 1998, «os Estados Unidos e o Uzbequistão realizaram discretamente operações secretas comuns tendentes a contrariar o regime taliban no poder no Afeganistão, assim como os seus aliados terroristas [...], segundo os responsáveis desses dois países».

Este envolvimento no Uzbequistão correspondia a um esquema regional muito mais amplo.

Após 1997, os Estados Unidos tinham iniciado uma série de manobras militares anuais com as forças armadas Cazaques, Quirguizes e Uzbeques. Estes exercícios simulavam uma possível colocação de forças de combate norte-americanas na região: «CENTRAZBAT’97, como se designava, era claramente um teste sobre a capacidade americana de projeção de forças na bacia do Cáspio em caso de crise.

“Não existe sobre a face do planeta nenhuma nação que esteja fora do nosso alcance”, declarou o general Jack Sheehan, o oficial de mais alta patente neste exercício. E para quem tivesse dúvidas sobre a “natureza dos nossos interesses nesta região”, as palavras são do general, Catherine Kelleher, que acompanhava Sheehan como assistente do secretário adjunto da Defesa, citou “a presença de enormes recursos energéticos” como justificação do envolvimento militar dos Estados Unidos.

A operação de 1997 foi a primeira de uma série de exercícios anuais [batizados] CENTRAZBAT, concebidos para por à prova a rapidez com que Washington poderia diretamente deslocar para esta região forças estacionadas nos Estados Unidos e empreender aqui operações de combate.».

Por outras palavras, a actividade do Pentágono no Uzbequistão precedia em 4 anos o acordo público assinado em outubro de 2001 por Donald Rumsfeld e o presidente Islom Karimov.

Voltemos ao acordo de ligação que Richard Blee e Cofer Black negociaram com o Uzbequistão.

Como ex-diplomata que sou, permitam-me observar que um acordo de ligação teria provavelmente requerido acreditações especiais para os que estivessem ao corrente desse arranjo, e que se trocariam informações no quadro dessa ligação.

Isto explicaria a exclusão dos agentes do FBI que não estavam autorizados a ter acesso àquela informação, assim como o comportamento dos demais agentes não acreditados da CIA que continuavam a recolher e a disseminar informação sobre os dois presumíveis piratas aéreos.

O «grupo Alec Station» necessitava das duas categorias de agentes para proteger a dupla identidade do “grupo” de sauditas, e de se assegurar que não fossem presos pelo FBI, o que teria sido fonte de embaraço.

É quase certo que a CIA tinha importantes acordos de cooperação, não só com o GID saudita e com Uzbequistão mas também com a Direção de Inteligência Interserviços do Paquistão (ISI, sigla em inglês de Inter- Services Intelligence).

A CIA também tinha estabelecido acordos com os serviços de inteligência do Egipto, e provavelmente inclusive com os de Iémen e Marrocos.

Existem inclusive razões para pensar que Ali Mohamed foi autorizado a residir nos Estados Unidos como agente de um serviço estrangeiro (provavelmente egípcio) no quadro de algum arranjo desse tipo.

Mohamed era um agente duplo cuja prisão no Canadá tinha sido evitada pelo FBI, o que lhe permitiu organizar os atentados de 1998 contra as embaixadas norte-americanas.

Figura ao mesmo tempo entre as fontes e o conteúdo do célebre Briefing Presidencial Quotidiano de 6 de agosto de 2001 (PDB, sigla em inglês de Presidential Daily Briefing), no qual a CIA alertou o presidente Bush que «Bin Laden [estava] determinado a atacar os Estados Unidos».

Segundo Jack Cloonan, que fazia ligação de Ali Mohamed com o FBI, «todas essas informações [contidas no contacto presidencial] vinham de Ali», enquanto o PDB atribuía aquelas importantes revelações ao que «um agente operacional da Jihad Islâmica Egípcia (JIE, segundo a sigla em inglês) declarou a um serviço [---]».

(É evidente que 
 era membro da JIE e que o serviço em questão provavelmente era egípcio), mas quando Ali Mohamed foi indevidamente admitido nos Estados Unidos, tal como Khaled al-Mihdhar e Nawaf al-Hazmi, não foi a CIA mas sim «outra agência federal» que se encarregou dele.

Provavelmente tratava-se de uma agência do Pentágono já que, entre 1987 e 1989, Ali Mohamed «esteve destacado no [SOCOM,] Comando de Operações Especiais [do exército] norte-americano em Fort Bragg, a base dos Boinas Verdes e da Força Delta – a unidade de elite de contra- terrorismo».

O SOCOM, que inclui o Comando Misto para as Operações Especiais (JSOC, sigla em inglês do Joint Special Operations Command), tem a sua própria divisão de inteligência.

Por outro lado, o SOCOM é o comando que estabeleceu em 1999 o programa Able Danger para vigiar os agentes da al-Qaeda e que, sem a menor explicação o parou antes do 11 de setembro e destruiu a sua base de dados.

Por seu turno, o SOCOM operava no Uzbequistão com agentes da CIA graças ao acordo de ligação que tinham negociado Cofer Black e Richard Blee, ambos membros do CTC, o Centro de Contra-terrorismo da CIA.

Por todas essas razões, eu sugiro reconceptualizar o que Kevin Fenton chama o anormal «grupo Alec Station».

Poderemos considerar essa facção como uma equipa (ou várias equipas) de ligação interagências dispondo de acreditações especiais e que incluía membros de Alec Station, colaboradores do FBI e provavelmente elementos do SOCOM. (Um desses colaboradores era a agente Dina Corsi, agente do FBI que, segundo Fenton, ocultou informação vital ao seu colega o agente Steve Bongardt, inclusive depois da NSA ter autorizado o acesso da mesma ao dito agente).

Volta atrás: o Safari Club e William Casey

Sob diferentes formas, esses arranjos têm a sua origem pelo menos nos anos 1970. Naquela época, importantes dirigentes da CIA, tanto no activo como já retirados (entre os quais se encontrava Richard Helms), estavam descontentes pelos cortes de pessoal que o director da CIA Stanfield Turner tinha realizado sob a presidência de James Carter.

Em resposta, organizaram uma rede alternativa conhecida como Safari Club.

Supervisionado pelos diretores dos serviços de inteligência da França, Egipto, Arabia Saudita, Marrocos e Irão (naquela época sob o poder do xá), o Safari Club tornou-se numa base para oficiais da CIA como Theodore Shackley e Thomas Clines, marginalizados, ou despedidos, pelo diretor da CIA Stansfield Turner.

Como explicaria depois o príncipe Turki ben Faysal, o objetivo do Safari Club não era o simples intercâmbio de informação, mas também a condução de operações secretas que a CIA não podia continuar a realizar diretamente por causa do escândalo do Watergate e das reformas que se realizaram como consequência daquele escândalo.

Nos anos 1970, o diretor da CIA William Casey tomou decisões cruciais na condução da guerra secreta no Afeganistão.

Todavia todas aquelas decisões foram tomadas fora do quadro burocrático da CIA dirigida por Casey já que tinham sido preparadas com os diretores da inteligência saudita, primeiramente com Kamal Adham e depois com o príncipe Turki ben Faysal.

Entre essas decisões podemos citar a criação de uma legião estrangeira destinada a ajudar os mujahedin afegãos que lutavam contra os soviéticos – por outras palavras, a criação de uma rede de apoio que posteriormente iriamos conhecer como al-Qaeda quando acabou aquela guerra entre a União Soviética e o Afeganistão.

Casey burilou os detalhes daquele plano com os dois chefes da inteligência saudita e com o diretor do Bank of Credit and Commerce International (BCCI), o banco paquistanês-saudita do qual tanto Kamal Adham como o príncipe Turki ben Fayçal eram accionistas.

Ao fazê-lo, Casey estava dirigindo então uma segunda Agência, ou uma CIA fora dos canais, construindo com os sauditas a futura al-Qaeda no Paquistão, apesar da hierarquia oficial da Agência, que lhe estava subordinada em Langley, «pensar [com toda razão] que aquilo era uma imprudência».

Em American War Machine (edição francesa: La Machine de Guerre américaine -A Máquina de Guerra Americana), eu situei o Safari Club e o BCCI numa sucessão de arranjos elaborados no seio de uma «CIA alternativa» ou de uma «segunda CIA» que datavam da criação, em 1948, do Bureau de Coordenação Política (OPC, sigla em inglês de Office of Policy Coordination).

É portanto compreensível que George Tenet, o diretor da CIA na altura de George W. Bush, seguisse o precedente de Casey e se reunisse quase mensalmente com o príncipe Bandar, o então embaixador da Arabia Saudita em Washington, sem revelar o conteúdo daquelas conversações aos oficiais da Agência encarregados das questões sauditas.

Kevin Fenton invocou ele próprio o exemplo do Safari Club para propor uma possível explicação pelo facto de Richard Blee e Tom Wilshire utilizarem uma «rede paralela» para vigiar a al-Mihdhar e al-Hazmi em território norte-americano.

Segundo Kevin Fenton, «reter as informações sobre Almihdhar et Alhazmi [sic] só tem sentido se a CIA estava a vigiar os dois homens nos próprios Estados Unidos, oficialmente ou não».

Entretanto, poderíamos analisar uma terceira possibilidade. Com efeito, o GID poderia ter estado a vigiar os seus movimentos, o que corresponderia às afirmações do príncipe Bandar que os serviços de segurança sauditas tinham «seguido activamente os movimentos da maioria dos terroristas [,] de maneira precisa».

Joseph e Susan Trento ouviram dizer a um ex-oficial da CIA – que tinha estado colocado em Arabia Saudita – que «Hasmi y Mihdar eram ambos agentes sauditas».

Se isso é verdadeiro, eles eram claramente agentes duplos, agindo como (ou fazendo-se passar) por terroristas ao mesmo tempo que agiam como (ou faziam-se passar por) informadores.

No domínio da espionagem, os agentes duplos são preciosos e por vezes úteis; mas em certas ocasiões confiar neles pode também provar-se perigoso - como o demonstra o exemplo de Ali Mohamed. 




E isto foi particularmente verdade para a CIA em relação à Arabia Saudita.

E com efeito, o GID respaldava energicamente a al-Qaeda em países como a Bósnia, em virtude de um acordo que estipulava que essa organização jihadista «não interferiria nos assuntos políticos da Arabia Saudita ou de qualquer outro país árabe».

O ministro do Interior da Arabia Saudita, Nayef ben Abdelaziz, tinha negociado aquele compromisso com Osama bin Laden.

O ISI paquistanês estava ainda mais activamente envolvido com a al-Qaeda e certos elementos dessa agência de inteligência provavelmente sentiam-se mais próximos dos objectivos ideológicos dessa organização que do governo nominalmente laico do Paquistão.

Seja como for, recorrer a informadores ilegais não só é perigoso e imprevisível como é também um factor de corrupção.

Com efeito, para desempenhar o seu papel os informadores têm que infringir a lei, e os seus supervisores conhecendo essa necessidade têm que protegê-los abstendo-se de denunciá-los.

Assim frequentemente, eles intervêm com o fim de evitar a sua prisão por outras agências. É por isso que os supervisores se tornam constantemente cúmplices dos crimes dos seus informadores.

Inclusive nas melhores circunstâncias, a agência interessada se vê obrigada a decidir se autoriza o informador a perpetrar seu crime ou se o impede, arriscando-se nesse último caso a que o informador deixe de ser-lhe útil. Nestas circunstâncias, as agências tendem na maioria das vezes a tomar decisões contrárias ao interesse geral.

Um exemplo muito pertinente para o ilustrar é o primeiro atentado à bomba contra o World Trade Center, em 1993.

Este caso é interessante porque Khalid Sheikh Mohamed, o suposto cérebro do 11 de setembro, também esteve entre os organizadores do atentado de 1993.

Entre eles, o FBI tinha um informador, chamado Emad Salem. Mais tarde, baseando-se nas provas extraídas das gravações dos seus encontros com o FBI, Salem declarou que o próprio FBI decidiu não contrariar o projeto terrorista planeado contra o World Trade Center. Escrito por Ralp Blumenthal para New York Times, eis o relatório detalhado deste precedente ao mistério do 11 de setembro de 2001:

«Revelou-se aos agentes das forças da ordem [o FBI] que os terroristas estavam em vias de conceber uma bomba, que foi finalmente utilizada para fazer explodir o World Trade Center. Eles pensaram frustrar os malfeitores substituindo secretamente os explosivos por uma pólvora inofensiva, declarou um informante após o atentado.


Este último era suposto ajudar os malfeitores a fabricar a bomba e a fornecer-lhes a pólvora falsa, mas este plano foi anulado por um supervisor do FBI que tinha outras ideias sobre a maneira de utilizar o informador, [chamado] Emad A. Salem.


Este relato, tirado da retranscrição de centos de horas de gravações que o senhor Salem realizou em segredo durante as suas conversas com agentes das forças da ordem, demonstra que as autoridades estavam em melhor posição do que afirmaram para frustrar os atentados à bomba de 26 de fevereiro contra as torres mais altas de Nova Iorque.

A explosão matou 6 pessoas, feriu mais de 1 000 e provocou danos que ultrapassaram o meio- milhão de dólares. Quatro homens estão actualmente acusados ante o Tribunal federal de Manhattan por aquele ataque».

O que torna o complô de 1993 ainda mais interessante é o facto que, segundo várias fontes, Emad Salem era um agente do serviço de inteligência egípcio enviado aos Estados Unidos para espiar as acções de Omar Abdel Rahman, cognominado o «xeque cego».

É portanto possível que o supervisor do FBI que tinha «outras ideias» sobre a maneira de utilizar Emad Saled fizesse parte de uma equipa de ligação, não podendo revelar o que sabia aos outros agentes do Bureau (FBI).

Por exemplo, é possível que esse supervisor estivesse ao corrente de uma possível recusa da secreta egípcia a destapar a cobertura de Salem. Essa possibilidade é ao mesmo tempo hipotética e problemática. Mas tem o mérito de dar uma explicação relativamente coerente a um comportamento do FBI que se pode qualificar como desconcertante.

Esta explicação não exclui de forma alguma a possibilidade de alguns funcionários do FBI terem tido motivações mais sinistras permitindo a ocorrência de atentados à bomba, e dissimulá-lo posteriormente.

Com efeito, naquele exacto momento, o xeque Omar Abdel Rahman era um dos elementos centrais de um programa saudita sensível, no qual igualmente participavam funcionários norte-americanos.

Este programa estava destinado a recrutar e encaminhar combatentes mujaedins para a Bósnia para lutar contra a Sérvia (incluindo indivíduos, como Ayman al-Zawahiri, que posteriormente foram acusados no complô do 11 de setembro) .

À vista do comportamento dos investigadores e das autoridades judiciais, resulta evidente que um certo número de agências norte-americanas não queria interferir nas actividades do xeque Rahman. Inclusive depois da sua inculpação, em 1995, num caso de associação de malfeitores com vista a cometer atentados contra vários monumentos de Nova Iorque, o governo dos Estados Unidos continuou protegendo a Ali Mohamed, que era um personagem crucial neste assunto.

Pior ainda para o FBI, o facto de permitir a realização destes atentados à bomba inscreve-se numa série de asneiras e de oportunidades desperdiçadas – todas ligadas entre si – cujo apogeu foi o 11 de setembro de 2001.

A primeira desta série começa em 1991, com o assassinato do extremista judeu Meir Kahane.

Neste caso, o FBI e a NYPD [sigla em inglês do Departamento de Policia de Nova Iorque] prenderam dois dos assassinos para os libertar em seguida, permitindo-lhes participar posteriormente nos atentados à bomba de 1993 contra o World Trade Center.

Um dos principais instrutores destes dois indivíduos era Ali Mohamed, que naquela altura era ainda membro das Forças Especiais norte-americanas.

A sua identidade foi sistematicamente ocultada da opinião pública por Patrick Fitzgerald, o procurador encarregue da acusação pelo ministério público neste assunto.

Em 1994, quando Ali Mohamed foi detido no aeroporto de Vancouver pela Policia Montada do Canadá, o FBI interveio para obter a sua libertação.

Esta iniciativa do Bureau (FBI) permitiu que Mohamed viajasse para o Quénia, onde se converteu no principal organizador do atentado à bomba de 1998 contra a embaixada dos Estados Unidos em Nairobi.

Ali Mohamed foi finalmente preso pelos norte-americanos em 1998, mas não foi encarcerado de imediato.

É evidente que foi em liberdade que Ali Mohamed confiou sem reservas a Jack Cloonan, o seu contacto no FBI, que conhecia pelo menos três dos presumíveis piratas aéreos do 11 de setembro, e que tinha também contribuído para ensiná-los a sequestrar aviões.

Segundo afirma Ali Soufan, num livro publicado em setembro de 2011, Ali Mohamed continuava a aguardar a sua condenação em 2011, doze anos depois de se ter dado como culpado, em maio de 1999.

Temos de concluir que nos Estados-Unidos, há um profundo disfuncionamento, e isto muito antes do 11 de Setembro.

Na realidade, este problema atravessou as duas maiorias políticas. As condições de confidencialidade garantidas pelas acreditações especiais não só mascararam estas anomalias de funcionamento, mas como demonstrarei contribuíram para engendrá-las.

A história da espionagem demonstra que o poder secreto, quando exercido na esfera das actividades ilegais, se torna pouco a pouco numa força contrária ao poder público democrático.

Quanto mais restrito é o grupo de planificadores especiais dispondo das suas próprias acreditações, menos possibilidades há que as suas decisões correspondam às exigências das leis nacionais e internacionais, e ainda menos á moral comum e ao bom senso.

Juntem-se a estas ambíguas condições de confidencialidade as relações fundamentalmente mal-sãs e corruptas que mantêm as agências de inteligência norte-americanas com as da Arabia Saudita e Paquistão.

Até ao presente estas relações têm sido profundamente antidemocráticas, tanto na Ásia como no nosso país.

Por um mecanismo de reciclagem de riquezas, a dependência norte-americana do petróleo saudita subvencionou de facto uma propagação do islamismo através do mundo.

Ao mesmo tempo, o que os 99,9% dos norte-americanos pagam pela sua gasolina e o seu gaz gera somas gigantescas, somas que os sauditas reciclam nas instituições financeiras dos 0,1% que encabeçam a cúpula dominante em Wall Street.

Da mesma maneira, a obscura relação dos Estados Unidos com o ISI paquistanês deu lugar a um considerável aumento do tráfico internacional de droga, essencialmente graças aos clientes afegãos da CIA e do ISI.

Em resumo, o mau funcionamento burocrático de que falamos a propósito do11 de Setembro é o sintoma de um disfuncionamento muito maior. Este problema tem a sua fonte profunda no tipo de relação mantida pelos Estados Unidos com a Arabia Saudita, com o Paquistão e – através destes países – com o resto do mundo.

Os acordos de ligação e a protecção de Khaled al- Mihdhar e Nawaf al-Hazmi

Mesmo sem entrar em linha de conta com o sugestivo precedente do atentado à bomba de 1993 contra o World Trade Center, é legítimo presumir que acordos de ligação teriam podido impedir a detenção de Khaled al-Mihdhar e de Nawaf al-Hazmi. 




Debrucemo-nos primeiro sobre as descobertas de Kevin Fenton: «É claro que estas informações [sobre os dois indivíduos] não foram retidas devido a uma sucessão de erros estranhos mas sim de forma intencional». 

Eu considero que esta descoberta é impressionante e indiscutível. Todavia não podemos estar tão seguros da explicação avançada por Fenton, segundo a qual «o objectivo da retenção de informação era agora permitir o desenrolar dos ataques».

Na realidade, eu penso que por trás dessa intenção há um certo número de possibilidades, que vão desde a explicação relativamente inocente (os bloqueios devidos a um acordo de ligação) até à mais espantosa.

Antes de analisá-las temos que estudar a noção de «permitir o desenrolar dos ataques».

É evidente que se os presumíveis piratas aéreos não foram detidos nas portas de embarque dos aeroportos, iriam certamente morrer pessoas - mas quantas?

Recordemo-nos que nos documentos da operação Northwoods, que encarava a planificação de ataques sob bandeira falsa afim de justificar uma intervenção militar em Cuba, responsáveis do Comité de chefes de Estados Maiores Inter-armas (JCS) tinham escrito: «Poderíamos desenvolver uma campanha de terrorismo [falsamente atribuída aos comunistas de Cuba]» durante a qual «poderíamos afundar um barco de cubanos». A perda de 4 aviões comerciais cheios de passageiros teria sido uma tragédia muito diferente desta então cogitada?

Bem entendido, a dimensão trágica do 11 de Setembro foi consideravelmente amplificada quando os aviões se espatifaram contra as Torres Gémeas e contra o Pentágono.

Apesar disso é possível que as pessoas que estavam ao corrente do acordo de ligação sobre os dois sauditas não imaginassem que tais indivíduos fossem capazes de semelhantes proezas.

Lembremo-nos que as suas lições de pilotagem, e incluindo a bordo de um Cessna, foram tão desastrosas que terminaram prematuramente. O seu instrutor atirou-lhes á cara que «simplesmente não tinham nascido para pilotar».

Permitam-me sugerir que existem três etapas distintas nos ataques do 11 de Setembro: os sequestros aéreos, os choques contra os edifícios e os surpreendentes colapsos dos 3 imóveis do World Trade Center.

É possível que a equipa de ligação do «grupo Alec Station» tivesse encarado unicamente a primeira etapa, sem nunca imaginar as duas outras que se seguiram.

Uma explicação inicial das retenções de informação sobre dois dos presumíveis piratas do ar – ao mesmo tempo simples e menos retorcida – seria a hipótese que eu propus no caso de Emad Salem: o acesso restrito às informações devido às acreditações especiais requeridas pelo acordo de ligação.

No entanto, tal como em 1993, os poderes secretos constituídos atrás da muralha das acreditações restritivas teriam podido ser exploradas para outros fins.

A perigosa situação então criada – a de potenciais piratas aéreos sendo protegidos de prisão enquanto se antevia um ataque – poderia ter incitado certos indivíduos a explorar as condições de segredo assim estabelecidas como uma oportunidade para planificar um incidente necessário para justificar a guerra.

É preciso sublinhar aqui uma importante analogia entre o 11 de setembro e o falso segundo ataque do Golfo de Tonquim, em agosto de 1964, utilizado para justificar o ataque ao Vietname do Norte.

Com efeito, tal como naquela época, existia uma poderosa facção no topo do Estado que estava decidida a desencadear uma acção militar unilateral. Tratava-se da clique do PNAC, manobrando no seio do governo dos Estados Unidos em 2001.

Um dos indícios apoiando esta sinistríssima intenção é o facto que o modelo de dissimulação detalhado por Kevin Fenton não se limita aos dois sauditas e seus supervisores da estação da CIA.

Também podemos constatar um encadeamento de várias retenções de informação por parte de outras agências.

Mais precisamente, de informações da célula Able Danger que foram destruídas pelo SOCOM, assim como da dissimulação – que manifestamente cometeu a NSA – duma intercepção importante, aparentemente relativa aos presumíveis piratas aéreos e a Zacarias Moussaui.

Se a NSA dissimulava então informações aos responsáveis interessados, este comportamento lembrar-nos-ia o papel dessa agência na época do segundo incidente de Tonquim, em agosto de 1964.

Num momento crucial, a NSA enviou 15 segmentos de ROEM (dados de espionagem de origem electromagnética) que indicavam – mal – um ataque levado a cabo pelos norte-vietnamitas contra dois destroyers norte-americanos.

Ao mesmo tempo, ela escondeu 107 segmentos de ROEM que demostravam – com total exatidão – que não tinha sido lançado nenhum acto hostil da parte dos norte-vietnamitas.

Naquela época, o comportamento da NSA encontrava eco na CIA.

Ambas as agências estavam conscientes da existência de um forte consenso no seio da administração Johnson. Com efeito, esta última já tinha se tinha posto de acordo sobre a necessidade de provocar o Vietname do Norte na esperança de criar uma oportunidade para uma resposta militar.

Graças a numerosos relatos provenientes de fontes internas da administração Bush, nós sabemos que antes do 11 de Setembro existia também um poderoso consenso pró-guerra na cúpula do Estado.

Esse consenso estava centrado em Dick Cheney, Donald Rumsfeld e na chamada facção do PNAC (o Projecto para o Novo Século Americano), que tinha desenvolvido um lobbing intenso a favor de uma acção militar contra o Iraque antes da eleição de George W. Bush.

Nós sabemos também que a resposta imediata de Rumsfeld aos atentados do 11 de setembro foi propor um ataque contra o Iraque, e que a planificação de tal ataque se iniciou a 17 de setembro de 2001.


Por consequência, é útil encarar a possibilidade que os indivíduos que protegeram os presumíveis piratas do ar tenham podido compartilhar essas ambições bélicas**.

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