sexta-feira, 8 de março de 2013

O PAPADO ROMANO: A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO DINHEIRO



1 - O jornal italiano "la Repubblica" publicou, sexta-feira, uma entrevista com um indivíduo não identificado, que intitula de o "Corvo", e que, segundo o periódico português I - é  «a enigmática figura que sempre reivindicou a autoria da operação de entrega de documentos confidenciais da Santa Sé à imprensa», o qual garante que a renúncia do Papa Católico Apostólico Romano Bento XVI está relacionada com um assunto material e bem prosaico - o controlo da imensa fortuna do Vaticano.


"Na mesma entrevista, a fonte sustenta que Bento XVI não renunciou por causa do Vatileaks. O Papa emérito, conta o Corvo, propôs-se fazer uma limpeza em várias áreas dentro Vaticano, de maneira a promover a transparência e a verdade. Só que encontrou resistências, o que acabou por conduzir à sua demissão", escreve o I, citando o seu congénere italiano.

"Bento XVI sentiu que não conseguia realizar aquilo que desejava", acrescenta o La Reppublica.

De acordo com a fonte do "La Repubblica", segundo o jornal português,  a origem de toda a destabilização na Cúria - e a origem do próprio Vatileaks - tem um nome IOR (Banco do Vaticano).

Ou seja, a renúncia deveu-se, justamente, porque o Papa Católico perdeu o controlo “autocrático” que mantinha sobre o Império material do Vaticano, e, pelo menos, algumas das suas facções internas já estavam (ou estão) a ganhar um poder real superior ou, pelo menos, semelhante ao próprio Sumo Pontífice da Igreja Católica Romana.

Intrigante, neste momento, é a certeza desta fonte do que se passou com o cardeal Ratzinger.

Ou o Papa Católico é a própria fonte, ou permite que “alguém” ou um “grupo” incrustado na Cúria fale em seu nome.

E mais intrigante, porque o Corvo dá a entender que conhece “o relatório” encomendado por Ratzinger a um grupo de três cardeais eméritos, Julián Herranz, Jozef Tomko e Salvatore De Giorgi, o primeiro deles a eminência parda do Opus Dei na  cúria.

E o Papa que se retira manda dizer pelo seu porta-voz que o relatório apenas será entregue ao seu sucessor.

"O Santo Padre decidiu que os resultados deste relatório, cujo conteúdo apenas Sua Santidade conhece, permaneçam exclusivamente à disposição do novo Pontífice", informa uma nota oficial do Vaticano. Citado da agência France Presse.

Se o Papa toma esta atitude é porque, no jogo de forças interno, já sabe quem lhe sucede.

Ou então, irá intervir, da sua pretensa “clausura” – e com o apoio de Corvos ou Corvos - na reestruturação dos capitais financeiros que o Vaticano controla e estão no centro dos apetites em competição com o que lhe suceder.

Na realidade, há duas nomeações que fez, tendo já renunciado, que são significativas: a colocação de um alto dignitário da Ordem dos Templários, Presidente do Conselho de Administração dos estaleiros alemães, ligados à indústria naval militar, Blohm & Voss, o aristocrata  Ernst von Freyberg, que acumulará os dois cargos.



Bento XVI afastou de Presidente do IOR, o membro do OPUS DEI Ettore Gott Tedeschi, um dos administradores do Santander. (Significa isto que o Vaticano tem fortes interesses, através de duas suas facções naquelas duas empresas).



A outra nomeação é a do seu secretário particular de Bento XVI, o alemão Georg Gänswein, para governador da Casa Pontifícia, subindo também na hierarquia católica para o posto de arcebispo.

2 –  Conforme assinalei em artigo anterior, a questão central, hoje, do Vaticano é que ele é o Estado, sem território, mas inserido num continente, que controla a maioria do capital financeiro mundial.

Expandiram o seu negócio pela Europa, pelos Estados Unidos, pela América Latina.

Depois seguiram para África. Hoje apostam, em grande, na Ásia, incluindo a China.

Ligaram-se à Máfia, principalmente norte-americana.

Fundaram empresas de fachada, multiplicaram e entrecruzaram centenas de “off-shores”. “um império secreto”, como lhe chamou recentemente (Janeiro de 2013) o jornal inglês The Guardian.

A revista The Economist, igualmente, tem acompanhado com frequência a evolução do poder político, económico e financeiro da Santa Sé.

Deles respigamos – e, essencialmente, de dezenas de publicações de vários países, incluindo italianos – que a Igreja Católica é sócia maioritária – ou com intervenção decisiva – em quase todos os principais bancos de grande projecção internacional: desde o Bank of América, Stanley Bank, Chase Manhattan, City Bank, JP Morgan Chase, Bankers Trust., dos Estados Unidos, aos Rothschilds, Hambros, Barclays e Royal Bank of Scotland (Inglaterra), Crédit Suisse, UBS (Suíça)  NBP Paribas (França),  Santander, Bilbao y Viscaya (Espanha).

Ora, o Vaticano, um Estado minúsculo está a mexer nos negócios internos de grandes potências, como os Estados Unidos e a Inglaterra, exteriores – como ideologia religiosa dominante – à Igreja Católica.

De certo modo e em certo sentido, obscurecida por questões religiosas – as facções religiosas internas – estará a verdadeira razão de uma guerra económica que opõe, desde 2008, a União Europeia e os Estados Unidos.

O Papado parece estar – como potência financeira internacional – a servir o enquadramento e até o “financiamento” do euro e, em grande medida, a entrar nos jogos de defesa do capital imperialista europeu face ao decadente sistema financeiro norte-americano – e por tabela – o capital da City em íntima ligação com Wall Street.

Os próximos tempos irão dar-nos pistas mais concretas.



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