sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A MILITARIZAÇÃO DO REGIME




 












 1 -  Embora, no interior das actuais fracções burguesas, que apoiam o sistema político parlamentar enquadrado desde 25 de Novembro de 1975, se verificassem "indícios"
desde os ano 80 para reforçar o sistema militar da Guarda Nacional Republicana, foi, essencialmente, desde a entrada de Rui Pereira para Ministro da Administração Interna no primeiro governo de José Sócrates que se registou, oficialmente, esta tendência.

Convém recordar como seria montada a sua super-estrutura de comando:

O comandante-geral da GNR teria a atribuição de general de quatro estrelas, equiparando-o, na prática, ao Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas e aos chefes dos três ramos castrenses. 

Além desta promoção, haveria um acréscimo de três tenentes-generais (três estrelas) no comando-geral da GNR, numa reestruturação em tudo semelhante ao modelo do ramo Exército actual.

E, para reforço desse modelo,  o chefe do Estado.Maior da mesma GNR, ocupado nos dias de hoje, por um major-general, teria um "impulso" com um tenente-general no topo e dois majores-generais a coadjuvá-lo.

A formação do seu corpo de oficiais seria da exclusiva competência da Academia Militar. 

Haveria uma estruturação interna, com a criação ou alargamento de corpos motorizados de cavalaria pesada e um incremento da actividade militar-securitária no mar. 

De assinalar que este projecto tinha, anteriormente, o assentimento do então Ministro da Defesa Nacional Paulo Portas. 

O projecto, em forma de lei, foi em 2007, aprovado somente pelo Partido Socialista, que governava com maioria absoluta no Parlamento.

O Presidente da República, Cavaco Silva, perante o protesto radical dos então chefes militares, vetou essa lei.

Estávamos em 2007.

2 - Agora, em  Junho de 2012, o actual governo, maioritário no Parlamento, devido à coligação entre o PSD e o CDS, nomeou uma comissão para revisão do Conceito Estratégico de Segurança e Defesa Nacionais (CESDN), e, curiosamente, mas não por acaso - mais frente falaremos disso-, constituída por ex-ministros e governantes ligados ao PS, PSD e CDS, em que se regista uma volumosa presença de figuras militantes ou próximas das lojas maçónicas portuguesas.

Cita-se, nomeadamente, Luís Fontoura, Jaime Gama, Nuno Severiano Teixeira, Luís Amado, Ângelo Correia, Gomes Canotilho e Adriano Moreira. Justamente, a questão da militarização da GNR volta à baila, agora, invertendo a práxis, dando lugar à teoria.

Cita-se, então, precisamente, os pontos centrais do reforço castrense. 

Os "senadores" do regime tentacular das confrarias propõem que a GNR se estruture para "o combate à criminalidade mais violenta e ao terrorismo, na protecção dos pontos sensíveis (...), na vigilância e no controlo das infraestruturas críticas e das principais vias de comunicação e fronteiras". 

Para o efeito, enquanto "força de natureza militar", a GNR deverá ser dotada de "meios multifuncionais para o cumprimento das missões militares e policiais, o que segundo a proposta "implica armamento e equipamento mais robusto". (O sublinhado é meu, o texto é retirado da imprensa). 

E mais um acrescento, precioso, na sua ambiguidade: será atribuida à GNR "uma especial responsabilidade na segurança ambiental, tirando partido da sua vocação para a vilância dos espaços terrestres e costeiros". (o negrito é meu)


3 - Se estes respeitáveis republicanos - socialistas e sociais-democratas - teorizam sobre o papel da defesa da sua República, eles estão, desde há muito, a preparar, em primeiro lugar, a sua "salvação" como mentores do regime capitalista que tem medrado sobre o actual regime. 

Ao preconizarem a militarização assanhada da GNR estão, como políticos burgueses que se prezam, a formar o corpo central da sua estrutura castrense pretoriana para o defender contra as arremetidas que vão surgir das movimentações populares. 

Não é, pois, uma obsessão em defesa dos interesses nacionais, pois eles são e foram os promotores da submissão total do que é nacional sobre os poderes estrangeiros. 

Eles estão a preparar sim uma ditadura musculada, baseada na sua guarda pretoriana, pois sabem que vai haver uma reacção daqueles que neles votaram contra os roubos que lhe fizeram. 

Mas, poderão surgir perguntas. Não têm as Forças Armadas à mão para essa missão?

Essa é a questão: as actuais Forças Armadas resultam de uma reestruturação que foi iniciada pelos sectores militares, ainda que tidos como moderados, mas que faziam parte do antigo Conselho de Revolução. Nunca viram com bons olhos o assédio ao poder feito pelos bajuladores "civis" que se apoderaram do poder de Estado, em proveito próprio, menosprezando e aviltando até aqueles que lhe deram cobertura.

Tal como na I República, em que as estruturas de "poderes invisíveis", naquela altura, essencialmente, a maçonaria, constituíram a sua guarda pretoriana baseada na recém- criada Guarda Republicana, transformada em 1911, em Guarda Nacional Republicana. Era uma força de segurança composta por militares, organizada em corpo especial de tropas.

Hoje, o actual poder político está de costas voltadas para as Forças Armadas, e, em caso de necessidade não sabem para onde pendem.

Tal como são na realidade, estes homens do actual regime, pusilâmines, merdosos, medrosos, arrogantes com as costas quentes, mas de uma cobardia atroz quando confrontados, eles procuram contrariar um poder castrense duvidoso com outro compaginado à sua acção política.

É neste emaranhado de crise, que surgem estas propostas, ou melhor dizendo ressurgem.

Eles que se dizem defensores do regime parlamentar estão a trucidá-lo. Estão a criar a sua própria sepultura.

Espero que se vão em breve.

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