sábado, 17 de novembro de 2012

BLOCO DE ESQUERDA: O QUE É UM GOVERNO DE ESQUERDA?





1- O Bloco de Esquerda, um partido parlamentar, que se afirma apologista da actual democracia, e que, de vez em quando fala "em socialismo", efectuou, nos passados dias 10 e 11, a sua VIII Convenção (um neologismo para o termo Congresso), tendo como tema central apenas uma causa táctica: "Vencer a Troika",  na busca de "uma força de confluências de esquerda".

O BE, que mudou a liderança do "velho" troskista Francisco Louçã, que defendeu sempre o então PCUS, como um partido operário, mas degenerado, para uma coordenação conjunta entre um antigo dirigente do PCP, João Semedo, que nunca se demarcou da política contra-revolucionária da antiga União Soviética, e uma jovem de nome Catarina Martins, cujo pensamento político é desconhecido

Esta Convenção realizou-se quando Portugal - e praticamente todo o mundo capitalista - se encontra *enlameado* numa crise económica,social e política de proporções gigantescas. 

As classes assalariadas estão em grande efervescência, especialmente, na União Europeia, e em parte nos Estados Unidos da América e China, aliadas a situações de conflitos abertos no Médio-Oriente, Paquistão, e em grande parte da África. 

Estas sucessões de crises, que se têm agigantado e radicalizado desde 2007, que caminho podem tomar?

Face a um provável agravamento desta situação, em especial na Europa, coloca-se uma possibilidade de uma ruptura, que pode tomar um rumo revolucionário ou então mudanças, mais ou menos convulsas, de governos enfraquecidos dentro do actual sistema político.

2 - Como deveria actuar um partido, como o BE, que, formalmente, sustenta procurar o socialismo, embora nunca tenha formulado um programa que coloque o principal objectivo de uma revolução: a conquista do poder político pelas classes trabalhadoras, visando, não o mero aperfeiçoamento da democracia, mas reestruturar todo o espaço social?

Nada tem de errado fomentar, como táctica, o encaminhamento de partidos, tidos como revolucionários, ainda que hesitantes, ou mesmo republicanos radicais. no sentido de uma política de progresso, levando inclusive ao poder um desses partidos, mas nunca inserir na sua orientação política central uma "coligação" que desprezasse os interesses principais das classes laboriosas. 

Não poderá, nesse, caso haver cumprimento de participação de um partido que se arroga do socialismo no trilho atolado de uma governação pró-capitalista.

O BE colocou, no entanto, como objectivo final, na actual conjuntura explosiva, tanto portuguesa, como europeia, uma proposta de um *governo de esquerda* dentro do actual sistema político parlamentar.  

A transição seria feita após eleições parlamentares antecipadas.

Desconheço o que é "um governo de esquerda".  



É o PS, um partido de esquerda, um partido socialista, ainda que com limitações? É o PCP, um partido revolucionário, ainda que preso a concepções antiquadas de poder político?

Também não percebo o que separa, realmente, em termos de poder, o PS a apoiar a troika do PS de "rompimento" com a mesma. 

O PS é, desde o 25 de Abril de 1974, um partido republicano liberal, cuja evolução política se encaminhou, claramente, para ser um gerente do Capital, quando ascende ao governo do país. 



O PS passou de partido, em 1973, com um programa muito próximo ao do PCP, a um Partido integrado nas concepções capitalistas ligadas ao capital financeiro, em conjunção real, na governação de Portugal, como PSD e o CDS/PP.

O PCP mantém o seu programa de Capitalismo de Estado, agora sem fazer referência ou apoio público à antiga União Soviética, tornando-se, aliás, uma entidade partidária adepta feroz de um nacionalismo serôdio.

(Nunca na Convenção se verificou uma intervenção dos dirigentes de topo a fazer uma demarcação política e programática com o PCP, tendo apenas, e, isto relativamente ao PS, sublinhando que aquele tem "um pé na oposição - Que oposição, pergunto eu? - e outro no memorando", segundo Semedo).

3 - Vamos à realidade. 

Em caso de se tornar possível uma crise político-partidária profunda, que leve a eleições antecipadas, na presente situação, seis meses, um ano, os resultados apontarão que haverá uma mudança partidária, dentro do princípio de rotatividade, possivelmente com a ascensão do PS ao poder, com maior ou menor, *política de austeridade*.

Estaremos perante um governo de cariz liberal.

Que fará, então, o BE? 

Vai convocar o PS e o PCP para conseguir um "governo de esquerda?

Admitamos, no entanto, que surge uma radicalização, que paralise em parte o actual aparelho de Estado, e se coloque uma situação pré-revolucionária, ou mesmo revolucionária, que programa apresenta o BE para esta situação?  

Diz Semedo, "não há nenhum preconceito no Bloco relativamente ao exercício do poder" e que, após a Convenção, aquele partido afirma claramente que "haja um Governo de Esquerda e nós estaremos nesse governo de esquerda".

Então, os partidos ditos de Esquerda, PS e PCP ganham as eleições e o BE entra nele, em minoria, dentro do sistema capitalista?  

Esta ânsia pela participação no poder, sem definir as propostas de uma partido independente, é uma queda absoluta no pântano. 

Mas a ânsia está na cabeça dos mentores do BE.



1 comentário:

  1. Mas é uma bela pergunta "o que é um governo de esquerda?". Realmente só conhecemos políticas de direita postas em prática por partidos que se dizem de esquerda. Se me lembro até o PPD dizia que era e esquerda. Oportunismos e hipocrisias àparte...
    Acho que li um dia destes um artigo que pertinentemente discorria sobre o tema. Vou ver se o localizo.
    Também não se percebe bem como é que o Seguro acha que, tendo chamado a troica, nada tem que ver com a dita. És o primeiro jornalista que o diz claramente.
    E é verdade que o BE ainda não apresentou um programa consistente que possamos seguir como pauta, programa de esquerda, rumo ao socialismo. Será que o tem, ou será que é mais do mesmo, isto é, a babugem do oportunismo na gestão do capitalismo em fim de vida?

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