quarta-feira, 18 de julho de 2012

A AUSTERIDADE VAI PRODUZIR VENTOS DE GUERRA








1 - Os grandes meios de comunicação social metralham-nos todos os dias com propaganda barata, segundo a qual a austeridade é uma necessidade para garantir, futuramente, o bem-estar comum, sustentando, em termos ideológicos, essas balelas, num abstracta defesa de conceitos, como democracia, liberdade, igualdade, luta pelos mais desfavorecidos, entre outras concepções o mais inócuas possíveis.


O aparecimento, primeiro, ainda no finais do século XX e, depois, o amadurecimento constante de uma crise profunda económica, social e política dentro da actual sociedade capitalista, desde 2000, tem levado ao surgimento, aparente, de contradições, pontos de vista diferentes, ou conflitos, mesmo, por vezes no interior do regime geral mundial, e, em cada país, nos diferentes sectores estabelecidos no poder.


Todavia, porque, apesar de tudo, a classe dominante no seu conjunto está a verificar que a sua situação, como classe no poder, está em perigo, procura usar meios práticos para forjar um verdadeira junção efectiva e musculada do seu poder, através do estabelecimentos de medidas materiais, normalmente, em primeiro lugar, de carácter legislativo, depois de regulamentações operativas da vida social, e, em muitos casos de forma activa repressiva limitativa para obstarem ao alastramento de um descontentamento que aumenta.


E, principalmente, porque,  já em contradição com as relações produtivas actuais em crise, todavia aquelas, marcando a sua posição e querendo *unificar* uma saída airosa para essa mesma crise, esta ânsia de se manter no poder pela via mais musculada, está a criar uma clivagem crescente nas relações sociais.


É que, pelos poros da contra-revolução mundial em curso, estão a brotar, também, ideias revolucionárias de mudança radical da sociedade, ainda que incipientes e sem um *bússola* programática elaborada,  mas sendo, desde já presentes e ameaçadoras para o poder dominante .


Quais são os indícios mais visíveis desta realidade?


Por um lado, a agitação eleitoral, que atinge, na prática, os principais países capitalistas, com especial relevo para a União Europeia e EUA (não esquecendo a América Latina e a própria Rússia) que coloca, abertamente, através de movimentos e partidos políticos, com alguma capacidade e aceitação parlamentar, a questão de mudanças radicais na gestão da base económica societária, a começar pelo sistema financeiro, com a necessidade de nacionalizar esses bens e a modificação das regras de gestão de poder político, por outro, as discussões abertas nos próprios grandes meios de comunicação social de que "é necessário" uma reforma das vigentes (e já antigas) condições de existência social.


(Repare-se no nervosismo que a finança internacional está a reagir, através dos seus principais meios de comunicação social (CNN, Finantial Times, Wall Street Journal, Washington Post, Fox News, BBC, entre outros) fustigando o programa do partido grego Syriza, ou como procura *avacalhar* as propostas anti-capitalistas do Movimento Cinco Estrelas, de Itália, liderado pelo actor Beppe Grillo, que venceu várias câmaras, incluindo Parma, que a imprensa procura minimizar intitulando Grillo, de mero comediante, ou o partido dos Piratas alemão, que preconiza medidas, algumas avulsas, mas quer impôr "a transparência governamental" e o controlo dos monopólios das grandes empresas na supremacia comercial da investigação e das patentes. 
Mas concentremo-nos nos movimentos de protesto anti-capitalista radical dos Ocuppy, que assolou e continua a assolar os EUA. E deitemos um olho à América Latina, tendo como exemplo, o México, onde o candidato do PRI ganhou, embora os resultados sejam contestados, com todo o apoio directo e fraudulento das agências de informação ligadas ao multimilionário Carlos Slim, nomeadamente a principal rede de televisão a Televisa. O candidato anti-sistema Obrador recebeu, oficialmente, apenas menos 5%!).


Precisamente, nos grandes meios informativos, e nos "foruns" político-económicos do sistema capitalista mundial, com as Cimeiras do G-8, G-20, NATO, entre outros, procura fazer-se crer que, neste momento, não há alternativa para o sistema actual.


Citam frases, inócuas, como a do falecido Primeiro-Ministro da Inglaterra imperial Winston Churchill  "a democracia é a pior forma de governo com excepção de todas as demais".


A sociedade humana sempre ultrapassou os seus problemas, nem sequer os traz para primeiro plano se não os souber resolver.  


Se eles estão em debate é porque começa a haver uma ideia de uma resolução.


Na realidade, a questão está a surgir porque começam a haver indícios, mais evidentes, de que uma outra via de governação é possível, e ela está a *engravidar* no seio da velha sociedade.


Houve revoluções falhadas, houve revoluções que se transformaram em contra-revoluções, houve, no entanto, nos seus interiores, projectos que deram certos resultados de uma outra estrutura económica.


Esta realidade de desfasamentos e contradições percorreu todo o século XX.


Está, agora, na ressaca teórica destes acontecimentos. Ou seja, retirar os ensinamentos.


A revolução francesa dos finais do século XVIII nasceu de "um parto" de Terror, sem uma perspectiva clara de governação, mas forjou uma nova ordem mundial, decapitando o próprio monarca gaulês, sem apelo e sem qualquer lágrima de suspiro humanista. Hoje é idolatrada pela burguesia dominante.


O que contava é que já estava no bojo dessa revolução um produto de uma nova via económica evolutiva da sociedade, que vingou.


É desta realidade, desta aprendizagem, que vai dar corpo, em condições mais maduras, naturalmente, uma nova forma de gerir os destinos da humanidade.


Quando se deu a Revolução Soviética em 1917, ela esteve no centro da política mundial, porque trazia as bandeiras da Revolução Socialista, e, por isso, serviu de "farol" para todas as grandes Revoluções que se lhe seguiram, nomeadamente, a Chinesa de 1949.


Mas trazia na sua gestação, e nós tivemos a percepção dessa realidade também, falhanços de uma verdadeira Revolução. Mas foi a Revolução que falhou ou os apêndices contra-revolucionários que lhe estavam adjacentes?


Exactamente porque no seu interior estavam "embrulhados" os entraves económicos de uma maioria camponesa, que fazia finca-pé a uma real possibilidade de se tornar numa Revolução radical, verdadeiramente Socialista. 


Surgiram na sociedade russa, como na chinesa, entraves a um impulso de movimento para a sociedade socialista: a maioria camponesa, cheia de ilusões ainda na sua propriedade privada, a própria representação truncada e falha de quadros avançados, mas sim oportunistas, grudados num Partido Comunista que não lhes trazia avanços, ainda que mínimos, no seu bem-estar.


Ou seja no imediato, o PUCS parecia ser a vanguarda real de conquistas revolucionárias, mas, pelo contrário, na prática, fomentou "anti-corpos" contra-revolucionários que nunca foram correctamente resolvidos e levaram ao trágico-cómico fim da ex-URSS. 


Não podemos neste texto fazer um análise deste período, mas poderemos relembrar que o avanço histórico também se faz pela aprendizagem das derrotas.


2 - A chamada política de "austeridade" está a colocar na miséria as classes  desfavorecidas, mas também está a exaurir os próprios regimes europeus, sejam considerados os mais "equilibrados e poderosos" economicamente, sejam os "periféricos", com mais problemas de financiamento. A desfazer, a mola amortecedora da chamada "classe média"


O problema surge igualmente nos Estados Unidos, de outra forma: a sua economia estagnou, e não dá inícios de retoma, mas há uma preocupante ameaça de falência de grandes bancos, a dívida pública e privada ultrapassa os níveis do concebível. 


Oficialmente, os 15 biliões de dólares. Os dados extra-oficiais de instituições do regime e de economistas do próprio sistema admitem que possa estar já na fasquia dos 200.000 mil milhões de dólares.


O dólar está a deixar de ser a moeda de referência.


Ora, acontece que os Estados - quer na Europa, quer dos EUA - estão submersos na sua própria míngua financeira, e este facto está a colocar os gestores desses Estados, sem rebuços e sem qualquer pudor, na dependência directa do grande capital financeiro especulativo, através dos Bancos Centrais Europeus, Reserva Federal e Fundo Monetário Mundial (FMI). 


Ou seja os glutões dos Rockfellers, Rotschilds, Soros, e companhia.


Ora, o que a realidade mostrou com a chamada "austeridade" é  que será impossível, em termos de economia política, conseguir restabelecer o equilíbrio dos respectivos Orçamentos de Estado, sem ferir, grandemente, os interesses dos detentores desse Capital financeiro especulativo.


Qualquer operação orçamental e fiscal que não tenha em atenção, rapidamente e em força, esta realidade irá transportar todo o aparelho de Estado para a bancarrota.


Esta é a questão central política - logo de poder - que tem de subir, o mais depressa possível, para a ordem do dia imediata, e actuar, por razões económicas e geo-estratégicas mundiais - e em particular para a União Europeia, com decisões prática e eficazes nos próximos seis meses.


Não há uma outra via, capaz de fazer inverter a tendência para a recessão constante, que se verifica desde a crise de 2008, em que a receita da "austeridade" (que fez recair apenas os encargos públicos para cima dos sectores das classes laboriosas, desde os proletários até à pequena burguesia trabalhadora), e não conseguiu fazer girar a bússola no sentido de restabelecer e impulsionar a produção nacional.


E esta é a de retirar o controlo de gestão e de distribuição do Capital financeiro.


Esta esta via que está em debate,  - um parte da classe dirigente admite, hoje, uma "nacionalização, sem interferência do Estado na gestão", mas isso, é gestão capitalista controlada. 


Somente terá aplicação prática favorável aos desfavorecidos, se houver uma ruptura política com o actual estado de coisas.


Os que os comentaristas da economia burguesa procuram fazer crer é que estamos em mais uma crise, um pouco mais prolongada, mas que irá ter uma resolução dentro do velho esquema dos empréstimos aos bancos, que depois fazem movimentar a economia dos países. Tal como aconteceu no passado.


Puro engano.


Não há ideias permanentes que continuam ad eternun como verdadeiras.


As concepções e as práticas económicas mudaram radicalmente nos últimos 60 anos.


O facto novo que se verificou neste período é que a estrutura económica capitalista deu um salto enorme na evolução das suas próprias forças de produção.


Na prática, o capitalismo, como formação social impulsionou-se de tal maneira e alargou-se em tal proporção, que se estendeu, num estádio de uma envergadura nunca atingida em todo o mundo.


E como formação económica atingiu o seu apogeu, criando condições, a um nível geográfico tal alargado, que dá grande indícios de que não consegue superar a sua própria crise actual, que não nasceu em 2008, mas engrandeceu nesta data, depois de ter começado a emergir, em grande, em 1973, (mas os sintomas já vinham de antes do período de Maio de 1968) com a chamada crise petrolífera, que já tinha no bojo o "vírus" da supremacia do capital financeiro especulativo desclassificado supranacional, em detrimento da expansão das produções nacionais.


O que é novo é que a sociedade humana, subjugada pelo capitalismo financeiro, está a movimentar-se, a dar passos, ainda tímidos, temos de reconhecê-lo, de que pretende esconjurar esse sistema económico.


E, esses movimentos, naturalmente, fragmentários, mas evidentes, em muitos países do capitalismo mais desenvolvido, não só do Ocidente, mas da Rússia e da própria China, sim porque a formação económica dominante e prepotente da China é o capitalismo (chamado de Estado) mais ultraliberal no seu desenvolvimento e expansão, estão em multiplicação constante.


Se meditarmos, veremos que eles são constantes, actualmente, em toda a Europa - com as suas dinâmicas próprias, por vezes muito subterrâneas -  e nos Estados Unidos da América, mas igualmente na América Latina e na Rússia.


Desde Portugal até Moscovo, os movimentos grevistas e de confrontos sociais constantes multiplicam-se a olhos vistos. 


A China, ainda que as notícias sejam cifradas e censuradas, teve um movimento grevista em Cantão. Idem na Honda. Uma subsidiária da Toyota, nos arredores de Pequim esteve recentemente em paralisação por questões salariais e direitos laborais.  














3 - Nós, os europeus, estamos demasiados concentrados no nosso pequeno território, e não olhamos para que o que se passa no espaço geo-estratégico internacional.


As principais potências económicas e militares - EUA, Rússia, China, e em menor escala, a Índia e o Brasil - estão submersas em dívidas e dívidas astronómicas, e, e em especial dividas privadas que estão a açambarcar, através dos seus expoentes financeiros, o grosso dos impostos que nos sacam, roubam descaradamente.


E este estrebuchar de dívidas está interligado com despesas improdutivas, sempre crescentes e ameaçadoras, do engordamento do militarismo.


A divida pública (que enquadrou a privada, através do sistema bancário, é muito superior) é o objecto central do enriquecimento da elite dirigente do sistema especulativo financeiro.


Os bancos recebem, a  juros praticamente zero, os empréstimos bancários do Banco Central, neste caso europeu, que é totalmente privado - Vaticano, Rothschild, Rockefelleres, e accionistas menores - que emprestam ao Estado, a juros especulativos. 


Depois desta operação verifica-se que o defice está a crescer - não só na Europa, mas nos EUA, na Rússia e na China. 


Os Estados, e no caso apreço, os Estados Unidos da América, que nos interessa por várias razões, porque, teoricamente, mantêm a maior produção, teoricamente, também dominam as exportações e teoricamente apresentam a moeda de referência mais forte, o dólar.


Como se verificou, frisamos o aspecto teórico, porque, na realidade, já não é tanto assim. 


Os EUA tem uma dívida, oficial, de 10 biliões de euros. Digo oficial, porque a dívida real segundo os seus especialistas financeiros, ultrapassará em muito este valor - alguns chegam a sustentar que pode ser o dobro. 


E isto porque existe um valor enorme de chamados "activos fantasmas", que estão a desaparecer, por métodos de branqueamento e especulação, mas que terão de ser contabilizados.


O que vai acontecer, quando se fizer esse controlo?


Naturalmente, irão haver estouros financeiros, em particular em bancos e companhias de seguros. Dois grandes bancos estão nessa mira: o inglês Barclays e no norte-americano J.P. Morgan. Fala-se que entre 20 a 30 por cento dos grandes bancos dos principais países entrarão em colapso, possivelmente, por alturas do fim do ano.


Apenas pudemos para equilibrar as conta públicas, se formos  buscar o grossos dos encargos financeiros ao sistema bancário, ou seja aquele que está a receber as receitas de Estado para se "equilibrar", o que em termos práticos, significa que sugam todas as finanças públicas que são retiradas das classes laboriosas.


Não há outra opção de desenvolvimento, de sustentabilidade do actual sistema, a não ser que se opte pela via mais racional e radical que é da nacionalização de todo o sistema financeiro.


Esta voragem está ligada a uma outra que é mais perigosa: As principais potências, e particularmente os Estados Unidos, estão a tornar a sua política principal de expansão económica em razão essencial castrense de Estado.


Em 2008, segundo o Stocklolm International Peace Research Institute, referia que os EUA gastam em despesas militares 607,0 milhões de dólares anualmente, o que representa 41,5 % do total.


Isto significa militarização do Estado, quer queiramos, quer não, e ao actuarem assim - ele colocaram, no último, ano 60 por cento da sua frota marítima de ataque mais avançada no Pacífico, o que leva a China, potência emergente e ameaçada, a dedicar, este ano, cerca de 63 biliões de euros ao Orçamento de Defesa, o mesmo está a suceder no Médio-Oriente.


Ou seja, o défice está a ser agravado pelo militarismo, e, em última instância, este crescimento brutal colocará em causa o equilíbrio mundial e, acima de tudo, a sua própria economia. 


Porque com as despesas avassaladoras com os ramos militares, coloca-se, em segundo plano, a produção industrial própria. 


E desviam o papel desenvolvementista dos principais Estados para os gastos supérfluos castrenses.





1 comentário:

  1. Gostei. Embora me pareça que quem comece a apanhar um rumo para o que está a acontece se perca um bocado entre o alargamento global das repercussões das dívidas, por outro lado a intensificação do militarismo - sem que por enquanto possa mostrar as suas garras -, a luta entre as potências protagonistas, quer entre os ocidentais por um lado e entre estes e a china e a rússia, de passagem por outros menos badalados, como o Brasil. Esperemos, contudo, que os que pretendem informar-se e abram esta janela, possam até contribuir, com as suas dúvidas e a sua sabedoria para que a Tabanca cumpra ainda melhor o seu papel.

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