domingo, 29 de julho de 2012

LONGA JORNADA PARA UM NOVO MUNDO



1 - Os bispos católicos, as denúncias e a corrupção no Vaticano




a) O bispo católico português, Januário Torgal Ferreira, tornado capelão-mor das Forças Armadas, por decisão do actual regime, que reconfirmou a Concordata entre o Estado português, liderado por Oliveira Salazar, e o Papa Romano, fez, recentemente, umas declarações que foram certeiras e verdadeiras, e que eu apoio: na realidade este governo (como os anteriores) é "profundamente corrupto", sublinhou.


E eu acrescento: ladrão- roubou-me dinheiro da minha pensão, sem eu dever qualquer coisa ao Estado. A acusação é justa, é certeira, mas peca por defeito - eu, como milhares de outros portugueses, deveríamos ter capacidade e força para os meter na prisão. 


Certamente, a pão e água. Desde o Presidente da República ao Primeiro-Ministro, passando pelos principais Tribunais Judiciais, que não actuaram, de imediato, fazendo frente a este roubo. As provas estão aí. 


Ditou-as o próprio Tribunal Constitucional. Falta o resto as responsabilidades e as punições.


Engraçadas, caricatas e desclassificadas como intervenção política, foram as palavras, em resposta, do Ministro da Defesa Nacional, Aguiar Branco, que representa no governo a corrupção, ou seja, um dos maiores escritórios de advogados do Porto. 


Eis as suas palavras para que constem: "O senhor bispo deve obediência às regras da Igreja" e as declarações que proferiu causam "embaraço à Igreja" e, rasteiramente, como menino da Foz, que *rouba a hóstia, mas vai todos os dias beijar a mão ao padre*, termina: Januário Torgal Ferreira, que ele trata por Dom, deve fazer uma opção "ser comentador político ou ser bispo das Forças Armadas".


O Ministro Aguiar Branco, em lugar de defender o laicismo do Estado e criticar o papel nefasto da Igreja Católica na sociedade portuguesa, colocou-se no lugar de Sumo Sacerdote da citada Igreja Católica para argumentar que o bispo Torgal deve obediência à Igreja, ou seja, na sua perspectiva, eis o seu recado, a Igreja está inserida no organinograma do actual governo e, nesse sentido, faz parte do mesmo. Daí, a obediência.


Claro que o Ministro Aguiar, formalmente, não pode, como membro do governo, dar directivas em nome da Igreja Católica, nem se imiscuir nas suas *entranhas*, mas ele sabe que há algo nesse fumo que fez subir aos céus. Vamos já falar dele mais à frente.


b) O bispo Torgal, para ser coerente, deveria fustigar, em primeiro lugar, a opulência e a ganância da Igreja Católica Romana, sedeada no Vaticano, e em segundo, denunciar os negócios que os seus pares da hierarquia fazem e continuam a fazer com o governo de Portugal, desde o 25 de Novembro de 1975, na exploração dos idosos, dos doentes, dos mais desfavorecidos.


Na realidade, o bispo, como seu hierarca, faz parte desse imenso caudal de corrupção que é o Banco do Vaticano, que está interligado com todas as manigâncias capitalistas que percorrem o Mundo. A Igreja de Roma é hoje um dos maiores centros capitalistas especulativos do mundo, por ponde passam os negócios mais sinistros de branqueamento de capitais, dinheiros de tráficos de droga e de pessoas humanas, de traficância de armamento, de prostituição e de pedofília.


Em Portugal, a Igreja controla, praticamente, toda a assistência social a idosos e a doentes com dinheiro do próprio Estado. No actual Orçamento de Estado, cerca de 1,2 mil milhões de euros foram transferidas para as chamadas Instituições de Solidariedade Social, sob a sua gestão, cujos utentes ainda têm de pagar, da sua parte, cerca de 80 por cento da sua pensão de reforma.


A Igreja Católica controla toda a rede hospitalar das chamadas Santas Casas, que são sustentadas com dinheiros do erário público.


A Igreja Católica tem uma Universidade própria, que não paga impostos ao Estado e recebem chorudas propinas, e através deste ensino enquadra uma grande parte da elite dirigente do próprio Estado.


Os ministros da Saúde, Paulo Macedo, e da Segurança Social, Pedro Mota Soares, são representantes directos da Igreja Católica no seio do Governo.


Mas, mais se poderia acrescentar: a ligação directa ou indirecta da Igreja Católica portuguesa a instituições bancárias em Portugal, mas não só a grande interesses industriais e agrários.


A denúncia certeira da Januário Torgal Ferreira, para produzir efeitos mais demolidores, deveria criticar, sem qualquer espécie de entraves, a acção da Igreja Católica de que faz parte.



2 - O FMI falhou, confessa um seu dirigente.





E mais: não só falhou, como tem sido dirigido nas últimas décadas por vigaristas.


As palavras pronunciadas com mais diplomacia por um dos seus principais dirigentes, que agora se demitiu, são elucidativas. 


O dirigente chama-se Peter Doyle é economista e foi responsável pela Suécia, Dinamarca e Israel no Departamento Europa do Fundo Monetário Internacional.


Refere o senhor, na sua carta dirigida ao Decano do Comité Executivo do FMI, com data de 18 de Junho de 2012, que desde a demissão, em 2004, do alemão Horts Koehler, da liderança daquele fundo, sucederam no cargo pessoas pouco recomendáveis para estar à frente de tal instituição. 


E assinala, depois de Koehler foi indigitado Rodrigo Rato, ministro de José Maria Aznar, que se demitiu em 2007 para se o principal responsável do Banco Bankia, que entrou em colapso por vigarices, depois sucedeu-lhe  o judeu Dominique Strauss-Khan, que se viu envolvido em casos de violação e práticas pessoais pouco consentâneas com uma tal entidade. A seguinte e actual director-geral Christine Lagarde, foi ex-ministra da Economia de França, que esteve envolvida no escândalo de corrupção do antigo ministro de Mitterrand Bernard Tapié.


Doyle vai mais longe, o FMI não serve para harmonizar as economias do Mundo, ele serve apenas em primeiro lugar os Estados Unidos, e, por tabela, pela ligação dos grandes bancos europeus ao sistema financeiro norte-americano, a própria UE. 


Aquele antigo responsável sublinha que esse controlo "contamina todo o labor profissional do mesmo, indo ao ponto de bloquear o cumprimento dos seus objectivos básicos.


Indicou que o FMI (e as grandes instituições financeiras internacionais) "tem sido sequestradas desde os anos 80 pela élite neoliberal como instrumento central da aplicação de umas demenciais políticas de ajuste que tornam prioritário o pagamento da dívida externa aos credores do norte". 


Ou seja, a política financeira está nas mãos do lumpem-capitalista especulativo e venal.


Para reflectir.




3 - Quem informa sobre a Síria?   


Quem andou na guerra sabe que é muito difícil relatar notícias da frente. 


Quem andou na guerra tem uma percepção nítida de quem são combatentes "desclassificados" e combatentes treinados.


Eu sou desconfiando por prática e natureza nas notícias "militares": fui combatente e jornalista. E a maior parte dos jornalistas nem sabe de que cor é uma bala. Muitos falam de cor e transmitem, em pânico, o que vêem, quando estão a sentir os barulhos dos canhões lá ao longe, de cabeça no chão.


Meses atrás, quando transmitiram fotografias de combatentes "insurrectos" sírios fardados à rigor e com lança granadas e rockets ultra-modernos, torci o nariz e afirmei: isto é gente treinada e preparada há muito tempo, não são manifestantes vulgares a quem lhe entregaram uma arma minutos atrás.


É natural que haja descontentamento interno da população síria contra o regime de Bashar Assad. 


Todavia, eu estive na Síria há dois anos, como estive na Jordânia pela mesma altura, e os regime são idênticos e ditatoriais. 


Só que a Jordânia e pró-ocidental e a Síria tem uma política própria que procura alianças com outras potências existentes na região. 


E, neste momento, o centro da disputa entre as potências dominantes: EUA, de um lado, com os satélites árabes e os satélites europeus, do outro, a Rússia e a China, que querem dominar a todo o custo os magníficos campos de gás e petróleo do Cáspio, onde se integra uma potência regional nascente, o Irão, colocou no "fio da navalha" a Síria. 


Mas o que se passa lá apenas é transmitido pelo o Observatório dos Direitos Humanos sedeados ---em Londres (ou será MI-6), ou seja não nos dão a verdadeira dimensão do que se passa no terreno.


Nos finais de Junho, o jornal New York Times fez uma reportagem não muito extensa, mas esclarecedora, sobre o que está a suceder realmente na região.


Relato, retirando da imprensa internacional que deu a notícia.


O Jornal New York Times acaba de reconhecer o que certos centros de informação referiam e o governo sírio já denunciara há um ano:


"Oficiais da CIA operam secretamente no sul da Turquia, ajudando a identificar quais os operacionais do outro lado da fronteira que estão a receber armas para enfrentar o governo sírio"..


As armas, segundo o NYT, incluem armas automáticas, granadas lançadas por foguetes, munições e armas anti.tanques (como já havia também, reconhecido o Daily Telegraph há uma semana).


O NYT assinala que o chamado "Exército Livre da Síria" não existe" e que na realidade ha "grupos esparsos de combatentes" que "os instrutores da CIA" estão tentando unificar em grupos mais operativos.


Mas o NYT denuncia esta intromissão descarada? Não. deita mais acha para a fogueira.


Diz o jornal que "funcionários americanos e da CIA declararam que o governo está também estudando e mais detalhadamente sobre os movimentos e localizações das tropas sírias". Ou seja faz espionagem aérea.


E referem-no abertamente:


"funcionários americanos e da CIA declararam que o governo 


está também estudando elevar a assistência aos rebeldes, como 


prover de imagens de satélites e espionagem mais próxima e 


mais detalhada sobre movimentos e localizações das tropas 


sírias" e estudam a possibilidade de "envio de agentes da CIA 


para o interior da própria Síria".


No meio da reportagem cita inclusive nomes de agentes: "Joseph Holluday, ex-oficial de espionagem do Exército dos Estados Unidos na Afeganistão e que agora é um pesquisador que monitora o Exército Livre da Síria para o Instituto de Estudos da Guerra em Washington".






Como última notícia, o caso pode tornar-se mais sério, o director dos serviços secretos da Arábia Saudita, príncipe Bandar bin Sultan,  teria sido executado, através de um atentado, aparentemente, efectuado pelos serviços secretos sírios para retaliar a morte do Ministro da Defesa de Damasco e outros generais. 


Um longa jornada parece alastrar no Médio-Oriente.






















quarta-feira, 18 de julho de 2012

A AUSTERIDADE VAI PRODUZIR VENTOS DE GUERRA








1 - Os grandes meios de comunicação social metralham-nos todos os dias com propaganda barata, segundo a qual a austeridade é uma necessidade para garantir, futuramente, o bem-estar comum, sustentando, em termos ideológicos, essas balelas, num abstracta defesa de conceitos, como democracia, liberdade, igualdade, luta pelos mais desfavorecidos, entre outras concepções o mais inócuas possíveis.


O aparecimento, primeiro, ainda no finais do século XX e, depois, o amadurecimento constante de uma crise profunda económica, social e política dentro da actual sociedade capitalista, desde 2000, tem levado ao surgimento, aparente, de contradições, pontos de vista diferentes, ou conflitos, mesmo, por vezes no interior do regime geral mundial, e, em cada país, nos diferentes sectores estabelecidos no poder.


Todavia, porque, apesar de tudo, a classe dominante no seu conjunto está a verificar que a sua situação, como classe no poder, está em perigo, procura usar meios práticos para forjar um verdadeira junção efectiva e musculada do seu poder, através do estabelecimentos de medidas materiais, normalmente, em primeiro lugar, de carácter legislativo, depois de regulamentações operativas da vida social, e, em muitos casos de forma activa repressiva limitativa para obstarem ao alastramento de um descontentamento que aumenta.


E, principalmente, porque,  já em contradição com as relações produtivas actuais em crise, todavia aquelas, marcando a sua posição e querendo *unificar* uma saída airosa para essa mesma crise, esta ânsia de se manter no poder pela via mais musculada, está a criar uma clivagem crescente nas relações sociais.


É que, pelos poros da contra-revolução mundial em curso, estão a brotar, também, ideias revolucionárias de mudança radical da sociedade, ainda que incipientes e sem um *bússola* programática elaborada,  mas sendo, desde já presentes e ameaçadoras para o poder dominante .


Quais são os indícios mais visíveis desta realidade?


Por um lado, a agitação eleitoral, que atinge, na prática, os principais países capitalistas, com especial relevo para a União Europeia e EUA (não esquecendo a América Latina e a própria Rússia) que coloca, abertamente, através de movimentos e partidos políticos, com alguma capacidade e aceitação parlamentar, a questão de mudanças radicais na gestão da base económica societária, a começar pelo sistema financeiro, com a necessidade de nacionalizar esses bens e a modificação das regras de gestão de poder político, por outro, as discussões abertas nos próprios grandes meios de comunicação social de que "é necessário" uma reforma das vigentes (e já antigas) condições de existência social.


(Repare-se no nervosismo que a finança internacional está a reagir, através dos seus principais meios de comunicação social (CNN, Finantial Times, Wall Street Journal, Washington Post, Fox News, BBC, entre outros) fustigando o programa do partido grego Syriza, ou como procura *avacalhar* as propostas anti-capitalistas do Movimento Cinco Estrelas, de Itália, liderado pelo actor Beppe Grillo, que venceu várias câmaras, incluindo Parma, que a imprensa procura minimizar intitulando Grillo, de mero comediante, ou o partido dos Piratas alemão, que preconiza medidas, algumas avulsas, mas quer impôr "a transparência governamental" e o controlo dos monopólios das grandes empresas na supremacia comercial da investigação e das patentes. 
Mas concentremo-nos nos movimentos de protesto anti-capitalista radical dos Ocuppy, que assolou e continua a assolar os EUA. E deitemos um olho à América Latina, tendo como exemplo, o México, onde o candidato do PRI ganhou, embora os resultados sejam contestados, com todo o apoio directo e fraudulento das agências de informação ligadas ao multimilionário Carlos Slim, nomeadamente a principal rede de televisão a Televisa. O candidato anti-sistema Obrador recebeu, oficialmente, apenas menos 5%!).


Precisamente, nos grandes meios informativos, e nos "foruns" político-económicos do sistema capitalista mundial, com as Cimeiras do G-8, G-20, NATO, entre outros, procura fazer-se crer que, neste momento, não há alternativa para o sistema actual.


Citam frases, inócuas, como a do falecido Primeiro-Ministro da Inglaterra imperial Winston Churchill  "a democracia é a pior forma de governo com excepção de todas as demais".


A sociedade humana sempre ultrapassou os seus problemas, nem sequer os traz para primeiro plano se não os souber resolver.  


Se eles estão em debate é porque começa a haver uma ideia de uma resolução.


Na realidade, a questão está a surgir porque começam a haver indícios, mais evidentes, de que uma outra via de governação é possível, e ela está a *engravidar* no seio da velha sociedade.


Houve revoluções falhadas, houve revoluções que se transformaram em contra-revoluções, houve, no entanto, nos seus interiores, projectos que deram certos resultados de uma outra estrutura económica.


Esta realidade de desfasamentos e contradições percorreu todo o século XX.


Está, agora, na ressaca teórica destes acontecimentos. Ou seja, retirar os ensinamentos.


A revolução francesa dos finais do século XVIII nasceu de "um parto" de Terror, sem uma perspectiva clara de governação, mas forjou uma nova ordem mundial, decapitando o próprio monarca gaulês, sem apelo e sem qualquer lágrima de suspiro humanista. Hoje é idolatrada pela burguesia dominante.


O que contava é que já estava no bojo dessa revolução um produto de uma nova via económica evolutiva da sociedade, que vingou.


É desta realidade, desta aprendizagem, que vai dar corpo, em condições mais maduras, naturalmente, uma nova forma de gerir os destinos da humanidade.


Quando se deu a Revolução Soviética em 1917, ela esteve no centro da política mundial, porque trazia as bandeiras da Revolução Socialista, e, por isso, serviu de "farol" para todas as grandes Revoluções que se lhe seguiram, nomeadamente, a Chinesa de 1949.


Mas trazia na sua gestação, e nós tivemos a percepção dessa realidade também, falhanços de uma verdadeira Revolução. Mas foi a Revolução que falhou ou os apêndices contra-revolucionários que lhe estavam adjacentes?


Exactamente porque no seu interior estavam "embrulhados" os entraves económicos de uma maioria camponesa, que fazia finca-pé a uma real possibilidade de se tornar numa Revolução radical, verdadeiramente Socialista. 


Surgiram na sociedade russa, como na chinesa, entraves a um impulso de movimento para a sociedade socialista: a maioria camponesa, cheia de ilusões ainda na sua propriedade privada, a própria representação truncada e falha de quadros avançados, mas sim oportunistas, grudados num Partido Comunista que não lhes trazia avanços, ainda que mínimos, no seu bem-estar.


Ou seja no imediato, o PUCS parecia ser a vanguarda real de conquistas revolucionárias, mas, pelo contrário, na prática, fomentou "anti-corpos" contra-revolucionários que nunca foram correctamente resolvidos e levaram ao trágico-cómico fim da ex-URSS. 


Não podemos neste texto fazer um análise deste período, mas poderemos relembrar que o avanço histórico também se faz pela aprendizagem das derrotas.


2 - A chamada política de "austeridade" está a colocar na miséria as classes  desfavorecidas, mas também está a exaurir os próprios regimes europeus, sejam considerados os mais "equilibrados e poderosos" economicamente, sejam os "periféricos", com mais problemas de financiamento. A desfazer, a mola amortecedora da chamada "classe média"


O problema surge igualmente nos Estados Unidos, de outra forma: a sua economia estagnou, e não dá inícios de retoma, mas há uma preocupante ameaça de falência de grandes bancos, a dívida pública e privada ultrapassa os níveis do concebível. 


Oficialmente, os 15 biliões de dólares. Os dados extra-oficiais de instituições do regime e de economistas do próprio sistema admitem que possa estar já na fasquia dos 200.000 mil milhões de dólares.


O dólar está a deixar de ser a moeda de referência.


Ora, acontece que os Estados - quer na Europa, quer dos EUA - estão submersos na sua própria míngua financeira, e este facto está a colocar os gestores desses Estados, sem rebuços e sem qualquer pudor, na dependência directa do grande capital financeiro especulativo, através dos Bancos Centrais Europeus, Reserva Federal e Fundo Monetário Mundial (FMI). 


Ou seja os glutões dos Rockfellers, Rotschilds, Soros, e companhia.


Ora, o que a realidade mostrou com a chamada "austeridade" é  que será impossível, em termos de economia política, conseguir restabelecer o equilíbrio dos respectivos Orçamentos de Estado, sem ferir, grandemente, os interesses dos detentores desse Capital financeiro especulativo.


Qualquer operação orçamental e fiscal que não tenha em atenção, rapidamente e em força, esta realidade irá transportar todo o aparelho de Estado para a bancarrota.


Esta é a questão central política - logo de poder - que tem de subir, o mais depressa possível, para a ordem do dia imediata, e actuar, por razões económicas e geo-estratégicas mundiais - e em particular para a União Europeia, com decisões prática e eficazes nos próximos seis meses.


Não há uma outra via, capaz de fazer inverter a tendência para a recessão constante, que se verifica desde a crise de 2008, em que a receita da "austeridade" (que fez recair apenas os encargos públicos para cima dos sectores das classes laboriosas, desde os proletários até à pequena burguesia trabalhadora), e não conseguiu fazer girar a bússola no sentido de restabelecer e impulsionar a produção nacional.


E esta é a de retirar o controlo de gestão e de distribuição do Capital financeiro.


Esta esta via que está em debate,  - um parte da classe dirigente admite, hoje, uma "nacionalização, sem interferência do Estado na gestão", mas isso, é gestão capitalista controlada. 


Somente terá aplicação prática favorável aos desfavorecidos, se houver uma ruptura política com o actual estado de coisas.


Os que os comentaristas da economia burguesa procuram fazer crer é que estamos em mais uma crise, um pouco mais prolongada, mas que irá ter uma resolução dentro do velho esquema dos empréstimos aos bancos, que depois fazem movimentar a economia dos países. Tal como aconteceu no passado.


Puro engano.


Não há ideias permanentes que continuam ad eternun como verdadeiras.


As concepções e as práticas económicas mudaram radicalmente nos últimos 60 anos.


O facto novo que se verificou neste período é que a estrutura económica capitalista deu um salto enorme na evolução das suas próprias forças de produção.


Na prática, o capitalismo, como formação social impulsionou-se de tal maneira e alargou-se em tal proporção, que se estendeu, num estádio de uma envergadura nunca atingida em todo o mundo.


E como formação económica atingiu o seu apogeu, criando condições, a um nível geográfico tal alargado, que dá grande indícios de que não consegue superar a sua própria crise actual, que não nasceu em 2008, mas engrandeceu nesta data, depois de ter começado a emergir, em grande, em 1973, (mas os sintomas já vinham de antes do período de Maio de 1968) com a chamada crise petrolífera, que já tinha no bojo o "vírus" da supremacia do capital financeiro especulativo desclassificado supranacional, em detrimento da expansão das produções nacionais.


O que é novo é que a sociedade humana, subjugada pelo capitalismo financeiro, está a movimentar-se, a dar passos, ainda tímidos, temos de reconhecê-lo, de que pretende esconjurar esse sistema económico.


E, esses movimentos, naturalmente, fragmentários, mas evidentes, em muitos países do capitalismo mais desenvolvido, não só do Ocidente, mas da Rússia e da própria China, sim porque a formação económica dominante e prepotente da China é o capitalismo (chamado de Estado) mais ultraliberal no seu desenvolvimento e expansão, estão em multiplicação constante.


Se meditarmos, veremos que eles são constantes, actualmente, em toda a Europa - com as suas dinâmicas próprias, por vezes muito subterrâneas -  e nos Estados Unidos da América, mas igualmente na América Latina e na Rússia.


Desde Portugal até Moscovo, os movimentos grevistas e de confrontos sociais constantes multiplicam-se a olhos vistos. 


A China, ainda que as notícias sejam cifradas e censuradas, teve um movimento grevista em Cantão. Idem na Honda. Uma subsidiária da Toyota, nos arredores de Pequim esteve recentemente em paralisação por questões salariais e direitos laborais.  














3 - Nós, os europeus, estamos demasiados concentrados no nosso pequeno território, e não olhamos para que o que se passa no espaço geo-estratégico internacional.


As principais potências económicas e militares - EUA, Rússia, China, e em menor escala, a Índia e o Brasil - estão submersas em dívidas e dívidas astronómicas, e, e em especial dividas privadas que estão a açambarcar, através dos seus expoentes financeiros, o grosso dos impostos que nos sacam, roubam descaradamente.


E este estrebuchar de dívidas está interligado com despesas improdutivas, sempre crescentes e ameaçadoras, do engordamento do militarismo.


A divida pública (que enquadrou a privada, através do sistema bancário, é muito superior) é o objecto central do enriquecimento da elite dirigente do sistema especulativo financeiro.


Os bancos recebem, a  juros praticamente zero, os empréstimos bancários do Banco Central, neste caso europeu, que é totalmente privado - Vaticano, Rothschild, Rockefelleres, e accionistas menores - que emprestam ao Estado, a juros especulativos. 


Depois desta operação verifica-se que o defice está a crescer - não só na Europa, mas nos EUA, na Rússia e na China. 


Os Estados, e no caso apreço, os Estados Unidos da América, que nos interessa por várias razões, porque, teoricamente, mantêm a maior produção, teoricamente, também dominam as exportações e teoricamente apresentam a moeda de referência mais forte, o dólar.


Como se verificou, frisamos o aspecto teórico, porque, na realidade, já não é tanto assim. 


Os EUA tem uma dívida, oficial, de 10 biliões de euros. Digo oficial, porque a dívida real segundo os seus especialistas financeiros, ultrapassará em muito este valor - alguns chegam a sustentar que pode ser o dobro. 


E isto porque existe um valor enorme de chamados "activos fantasmas", que estão a desaparecer, por métodos de branqueamento e especulação, mas que terão de ser contabilizados.


O que vai acontecer, quando se fizer esse controlo?


Naturalmente, irão haver estouros financeiros, em particular em bancos e companhias de seguros. Dois grandes bancos estão nessa mira: o inglês Barclays e no norte-americano J.P. Morgan. Fala-se que entre 20 a 30 por cento dos grandes bancos dos principais países entrarão em colapso, possivelmente, por alturas do fim do ano.


Apenas pudemos para equilibrar as conta públicas, se formos  buscar o grossos dos encargos financeiros ao sistema bancário, ou seja aquele que está a receber as receitas de Estado para se "equilibrar", o que em termos práticos, significa que sugam todas as finanças públicas que são retiradas das classes laboriosas.


Não há outra opção de desenvolvimento, de sustentabilidade do actual sistema, a não ser que se opte pela via mais racional e radical que é da nacionalização de todo o sistema financeiro.


Esta voragem está ligada a uma outra que é mais perigosa: As principais potências, e particularmente os Estados Unidos, estão a tornar a sua política principal de expansão económica em razão essencial castrense de Estado.


Em 2008, segundo o Stocklolm International Peace Research Institute, referia que os EUA gastam em despesas militares 607,0 milhões de dólares anualmente, o que representa 41,5 % do total.


Isto significa militarização do Estado, quer queiramos, quer não, e ao actuarem assim - ele colocaram, no último, ano 60 por cento da sua frota marítima de ataque mais avançada no Pacífico, o que leva a China, potência emergente e ameaçada, a dedicar, este ano, cerca de 63 biliões de euros ao Orçamento de Defesa, o mesmo está a suceder no Médio-Oriente.


Ou seja, o défice está a ser agravado pelo militarismo, e, em última instância, este crescimento brutal colocará em causa o equilíbrio mundial e, acima de tudo, a sua própria economia. 


Porque com as despesas avassaladoras com os ramos militares, coloca-se, em segundo plano, a produção industrial própria. 


E desviam o papel desenvolvementista dos principais Estados para os gastos supérfluos castrenses.





terça-feira, 3 de julho de 2012

O ESTADO ALEMÃO FOI MONTADO POR NAZIS CONVICTOS




1- O actual director dos Serviços Secretos Alemães, Heinz Fromm, o BND, demitiu-se,segunda-feira, muitos dias depois de uma evidência: aqueles serviços tinham destruído, propositadamente, informações sobre um dos mais violentos grupos neo-nazis a operar na Alemanha.


O grupo chama-se Nationasozialistisficher Untergrup (NSU), que há muito se sabia que era a responsável pela morte de, pelo menos, 10 pessoas, quase todas elas imigrantes.


Fromm estava no poder, há 12 anos, e fora formado no âmbito da estrutura idealizada pela chamada "Organização Gehlen", uma "célula" nazi dos serviços secretos hitlerianos, que foi a "reorganizadora" da estrutura dos Serviços Secretos Alemães, nos pós-guerra, com a conivência e cumplicidade dos Estados Unidos da América, e dos responsáveis do Estado de Israel.


No final da guerra, o general Reinhard Gehlen, que era o responsável dos Serviços Secretos Militares da Frente Leste de Hitler, entregou-se ao Exército norte-americano, e negociou com os principais chefes militares ocidentais da zona de ocupação, com ligação às serviços de informação, entre eles o norte-americano general Bedell Smith e o operacional da antecessora da CIA Allen Dulles, de simpatias nazis, e irmão do que foi mais tarde secretário de Estado do general Dwight Eisenhover, a "estruturação" do BND com os seus principais colaboradores, sem interferência dos Estados Unidos da América.


Nasceu, nesta altura, "a Organização Gehlen", que se compunha somente de quadros da SS, das SS-Waffem e oficiais superiores do antigo Exército de Hitler.


Gehlen esteve à frente do BND até 1968, tendo-lhe sucedido o seu antigo "braço direito" na estrutura nazi (que tinha o posto de coronel) Gerhard Wessel, que permaneceu no cargo de 1968 a 1978, tendo falecido em 2002.


2 - Em documentos norte-americanos que tem sido desclassificados nos últimos anos, mas pouco divulgados, sabe-se que foi feita uma auditoria interna, efectuada conjuntamente por autoridades alemãs e norte-americanas, que referenciou que os lugares cimeiros (de estratégia e operacionais) do BND estavam ocupados, pelo menos, por 200 antigos nazis.


Nenhum deles foi posto em causa.


Sabia-se então que o BND encobriu, abertamente, a "lavagem" de uma parte da elite nazi-fascista da Alemanha Federal, permitindo-lhe a ascensão nos meios económicos e políticos do novo Estado pró-ocidental saído da II Grande Guerra.


Assim, sucedeu com os principais artífices da economia capitalista nazi, como os Kruup, os Thyssen, os Porsche, entre outros. Foi, também, com a "lavagem" da actividade pró-nazi de cientistas e torturadores que muitos se vieram a estabelecer nos Estados Unidos da América, e em muitos países da América Latina.


Curiosamente, contaram com a colaboração prestimosa da Igreja Católica de Roma, que, em 1927, se prontificara a apoiar o regime fascista de Mussolini, através do Tratado de Latrão.


Há anos, fora já divulgado, até pela rádio oficial alemã Deustche Welle, que "um grupo extremistas de direita", actuando na "clandestinidade e sem ser importunado" assassinou uma série de trabalhadores estrangeiros. Por meras razões racistas.


Houve um coro de lamentações, com a imprensa do regime, incluindo os grandes jornais, a chorar, como velhas carpideiras pagas, que "houve falha das autoridades responsáveis na sua vigilância".


Apontaram o dedos aos responsáveis? Nem pensar. Porque, em causa estava o desmantelamento da estrutura nazi que enquadra todo o aparelho de Estado da Alemanha.


Há cerca de dois anos, a mesma radio estatal Deustche Welle, citando o nome do historiador norte-americano Timothy Nftali, que está a organizar as mensagem e documentos desclassificados que a CIA escreveu e redigiu (27 mil páginas) desde 1945, referenciava que os EUA encobriram a identidade de ex-nazis e os utilizaram como espiões contra a antiga Uniâo Soviética.


Desta investigação sabe-se que os dirigentes políticos dos EUA, antes de formalizarem, na antiga Alemanha Ocidental, um governo, permitiram a constituição de uma estrutura de informação castrense e civil, liderada por Gehlen, que desenvolveu um serviço por todo o país e em outros países, e que, pela *camuflagem* de antigos dignitários nazis, estes se organizaram em torno do chanceler escolhido para formar o novo executivo pós-guerra Konrad Adenauer, um católico conservador, que nunca foi molestado pelo regime de Hitler, ocupando cargos de importância e de decisão estratégica, como Hans Globke, que foi nomeado conselheiro para a segurança nacional.



Hans Globke e Adenauer


(Hans Globke, um *intelectual* de topo do nazismo, foi um dos promotores das Leis de Nuremberga, postas em prática por Hitler para perseguir as minorias étnicas, como ciganos, judeus, eslavos, entre outros. Na governo Adenauer, Globke foi a ligação governamental directa entre a CIA e a NATO)


Foi também através dessa "lavagem" que um outro nazi Kurt Kiesinger se tornou chanceler da RFA, após Adenauer.


E em grande medida, permitiu a ascensão, mais tarde, de Helmuth Schmidt, que foi oficial nazi, de origem judaica, e condecorado com a Cruz de Ferro, aos mais altos cargos do Estado, como ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros e mais tarde chanceler alemão.


De certo modo e no sentido mais correcto da História, temos que a chamada Alemanha Livre, deificada pelas democracias ocidentais, na realidade, foi estruturada e reorganizada, mais ou menos clandestinamente, por fiéis nazis, que colocaram e dispuseram os seus homens, ao longo dos anos, nas direcções principais dos departamentos governamentais e estatais e na suas estruturas "mais sensíveis", como os serviços secretos.


E o que é de salientar é que esta comédia actual tem os traços da tragédia fomentada entre as duas primeiras grandes pelos mesmo interlocutores.