quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

EM BREVE, O MUNDO REGER-SE-Á PELO DÓLAR, O EURO E O YUAN






1 - A crise económica, que se iniciou, em 2008, a partir de uma profunda crise do sistema financeiro especulativo norte-americano, continua em 2011, e prevê-se que se prolongue por mais uns anos.


Não é mais uma crise do sistema capitalista mundial, é algo mais profundo e importante, que vai mexer e revolver, nos próximos meses, mas com mais evidência nos próximos anos, toda a estrutura económica capitalista, implicando modificações profundas na sua superestrutura política e revolucionar toda a geo-estratégia, as relações internacionais e o próprio sistema militar.



Pela primeira vez, na História da economia política, os próprios apaniguados e defensores do sistema capitalista interrogam-se sobre a sua sobrevivência, e, nas análises que fazem da própria crise, têm de reconhecer que ela foi fomentada pelo próprio sistema capitalista financeiro.


Refere, nomeadamente, o Prémio Nobel da Economia Paul Krugman, conselheiro do Estado norte-americano: “os ataques dos manifestantes a Wall Street como uma força destrutiva, em termos económicos e políticos, estão completamente correctos".


Outro Nobel norte-americano, muito próximo do actual Chefe de Estado, Barack Obama", escreveu, recentemente, um artigo intitulado: "a crise ideológica do capitalismo ocidental", onde sublinha, nomeadamente: "A fé nos mercados livres e sem restrições colocou o mundo à beira da ruína. Incluindo nos seus dias de apogeu, desde os princípios dos anos oitenta até ao ano de 2007, o capitalismo desregulamentado ao estilo norte-americano trouxe maior bem-estar somente para os mais ricos no mais rico país do mundo".

A actual crise capitalista adquire, portanto, uma nova perspectiva política para todo o Mundo, em particular para o sistema capitalista ocidental mais desenvolvido, porque está a pôr em marcha a mais completa subversão, a um nível mais global, das relações sociais em que os poderes autoritários de antanho, percursores da II Guerra Mundial, estão a emergir, novamente, e a ocupar repressiva e avassaladoramente toda as estruturas sociais - claro que noutras condições e noutro tempo - e a tornar-se senhores absolutos dos poderes de Estado.  



Os governos de "tecnocratas", a interferência exponencial directa dos banqueiros nas decisões políticas estatais, carregados de arrogância e sustentados em argumentos de que eles são o "centro" do processos produtivos nacionais, a imposição de legislação cada vez mais gravosa para as classes trabalhadores, as rapinas e o empobrecimento geral que pendem, em crescendo, sobre as mesmas, bem como a militarização descomunal que se expande como entidade única da existência do Estado, a cristalização mundial de uma política claramente securitária, onde impera a repressão, são os indícios, mais que evidentes, de que uma nova tempestade planetária se aproxima.

Se se der esta consolidação, estará aberto caminho para nova guerra de enormes proporções.
  
Ela poderá evoluir da periferia da principal potência económica do Mundo em ascensão, que é a Europa, mas atingirá igualmente os Estados Unidos, a China, a Rússia, Paquistão, Índia e Irão, porque estarão em causa os centros produtores de matérias-primas, com especial relevo para os petróleos e gases, os seus receptores ávidos dos mesmos, as suas rotas estratégicas, e, naturalmente, toda a trama concorrencial e de alianças pontuais ou estratégicas que já se definiram e estão em vias de formular.

A consolidação desta via, a dar-se, conduzirá no imediato ao aprofundamento de uma derrota do movimento revolucionário, em especial o seu elemento mais avançado anti-capitalista, derrota esta, não é de hoje,  pois já se iniciou, de maneira evidente, antes da II Grande Guerra, mas que se avolumou, apesar de toda a capacidade de resistência e de fluxos momentâneos de experiência subversivas após 1945 e nos anos 60/70 do século passado até aos dias de hoje.

E isto, porque não se entranhou, neste período, entre as classes laboriosas um projecto de partido revolucionário anti-capitalista, nem foram estudadas e analisadas, com pensamento materialista, as causas deste retrocesso, nem a razão profunda da sua derrota, praticamente, desde a cristalização dos chamados Estados de Capitalismo de Estado, que se implantaram, sob a denominação de Estados socialistas, desde a Europa de Leste até à China. 

Todavia, esta crise geral do sistema financeiro capitalista trouxe vários aspectos novos, que, na minha opinião, devem ser escalpelizados na sua génese e evolução e investigados como forma de dar consistência a um novo programa anti-capitalista mundial e dar "argamassa" alargada aos novos tempos de revolta que fermentam.

Em primeiro lugar, esta crise clarificou as relações concorrenciais dentro do próprio sistema financeiro, e fez aparecer à luz do dia, em perspectivas nítidas três "blocos" monetários, em torno dos quais se estão a concentrar e reformular o próprio desenvolvimento do capitalismo no mundo. A saber, o dólar, o euro e o yuan.

Em segundo lugar, o crescimento e fortalecimento, essencialmente, do euro - a cotação da moeda única europeia subiu 50 por cento face ao dólar na última década, período durante o qual o valor do euro foi quase sempre superior ao da  divisa norte-americana - e, noutra escala do yuan, face ao dólar, tem produzido desde há cerca de 20 anos, uma feroz concorrência económica, estribada na sua expansão nos encargos castrenses, que, acima de tudo, arruinaram, de maneira evidente, os Estados Unidos, que transformou esta via - a militar - como a finalidade única e principal da sua existência como Estado imperial.


Ora, este militarismo agressivo e violento, que se estendeu desde Extremo-Oriente nos anos 60 e 70 do século passado até ao sul da Europa, nos finais do século XX, prosseguindo nos dias de hoje no Grande Médio Oriente, e, com repercussões nos dias de hoje no norte de África e mesmo na África subsariana.


O militarismo norte-americano está conduzir à sua auto-destruição, e, a forçar, devido à concorrência, à militarização de China, da Rússia, e em menor escala na União Europeia, simplesmente, porque, neste último espaço geográfico, não existe ainda um Exército único.

Em terceiro lugar, e este é o aspecto central que nos interessa: a descrença na Revolução está a começar a desaparecer do seio das classes exploradas.

Admite-se de modo crescente, ainda que com avanços e recuos,  possa haver um subversão revolucionária e que essa possibilidade pode ganhar foros de cidadania e mesmo de necessidade para mudar radicalmente o actual estado das coisas.

2 - A contínua pressão do capitalismo financeiro especulativo centrado nos EUA (Wall Street) e no Reino Unido (City), desde 2008, sobre a União Europeia deve fazer-nos reflectir sobre o que realmente está a acontecer.

Tornou-se evidente, a partir do início da década de 80 do século passado, que a Comunidade Económica Europeia, como entidade  supranacional, estava  a adquirir uma forma de cooperação internacional harmoniosa. Uma nova forma de governar o próprio mundo capitalista.

Esta facto deu-lhe uma pujança acrescida no comércio, na indústria e na agricultura de toda a Europa, por um lado, e veio a manifestar, por outro, um poder económico que, embora sob uma submissão militar e, de certo modo política, perante os norte-americanos, entrou, na realidade, em rivalidade concorrencial com os Estados Unidos.

Ao mesmo tempo os restantes países em fase de desenvolvimento acelerado capitalista, como o Brasil, Venezuela, Argentina, na América Latina, e China, Índia e outros do Extremo-Oriente, começaram a sentir-se atraídos pela forma modelar de nova organização económica da burguesia europeia comunitária. 

O avanço da CEE para União Europeia, com a aplicação de uma moeda única, o euro, que, num espaço muito curto, se tornou uma moeda forte, de referência nas trocas comerciais mundiais, fez "soar" as campainhas em Wall Street, que estava - e está -ameaçada por uma quebra acentuada do poder do dólar na cena política e económica mundial.

Esta evolução, ainda que lenta, fez surgir muitas contradições, e acima de tudo, fomentou resquícios de nacionalismo entre as próprias burguesias europeias, que entraram em conflitos de interesses em torno de eventuais supremacias, desprezando o passado recente de cooperação, mais ou menos harmonioso, dos inícios da CEE, e que, rapidamente, foram aproveitados pelo centros financeiros capitalistas norte-americanos e ingleses para criar divisões, que persistem latentes até hoje.

Claro que a UE tem um outro "calcanhar de Aquiles", que é a sua desunião política.

Para impor a sua *acção própria* e reforçar a sua unidade já conseguida, a União para assegurar a sua própria paz transnacional no seu espaço geográfico, e mesmo no plano internacional, tem de caminhar para pôr termo às fricções nacionais e às tentativas de imposição de supremacias regionais no seu interior, mantendo as identidades de cada povo e mesmo de cada Nação numa base de igualdade e de democracia política.

Naturalmente, para cimentar esta via, somente será conseguido se estiver por detrás a sombra ameaçadora das classes trabalhadoras.

Na realidade, foram elas, em grande medida, com as suas reivindicações e as suas lutas, que conquistaram direitos e garantias transnacionais, inseridas naquilo que se convencionou chamar os Estados Sociais, que levaram a burguesia que dominou, em primeiro lugar, ao ocupar as instituições nacionais logo após o fim da II Grande Guerra, e, em segundo lugar, a abrir caminho à organização económica da própria Europa. 

Então, qual a razão principal de uma concorrência tão feroz entre os EUA, com a cumplicidade descarada e cínica do Reino Unido, que, formalmente, se diz europeu, e, na prática é um "cavalo de Tróia" na procura do seu desmembramento, e a UE?

Desde o final da II Grande Guerra, apesar da divisão política radical dos diferentes Estados europeus, acobertados pela vassalagem, do lado ocidental, aos Estados Unidos da América, e do lado oriental, à antiga União Soviética, efectuou-se, na realidade, uma nova e pujante fase de incremento industrial e agrícola.


Primeiramente, no centro europeu, depois, de maneira, não uniforme nos outros Estados da chamada periferia ocidental, mas, também, embora, noutras condições, nos principais Estados de leste, nomeadamente na antiga Alemanha democrática, Polónia e Hungria.


E, apesar da separação entre dois modelos de capitalismo, o liberal ocidental e o capitalismo de Estado, este centrado na ex-União Soviética, registou-se, particularmente nos anos 70, a partir da Alemanha de Oeste e países nórdicos, e em escala mais reduzida, de França, uma troca crescente entre os países vizinhos, no domínio do comércio, da tecnologia e até nas relações financeiras.


Registava-se, em particular com a *real politik*, começada por  Willy Brandt, uma "atracção" continua, lenta, para uma cooperação mais profícua, que permitiu em toda a Europa - dos dois blocos - uma clima de distensão e de certa harmonia na busca de uma paz duradoira, que foi real por mais de 60 anos. 


A crise económica e financeira de 1973 (a chamada crise petrolífera) foi o primeiro grande indício de que o sistema financeiro mundial estava a abrir fendas, como fase avançada do capitalismo internacional.


O período que se lhe seguiu foi para a Europa um tempo de prosperidade industrial e de incremento produtivo interno, e para os chamado países em via de desenvolvimento, como a China, a Índia, o Japão e o Brasil os começos de um incremento impulsivo no estado da sua própria produção capitalista.


De certo modo e em certo sentido, quer na Europa, quer nesses países em fase desenvolvementista deram-se verdadeiras revoluções económicas.


(Estas revoluções tinham, todavia, dinâmicas diferentes: 


enquanto na Europa estava virada para a criação e interligação de um espaço económico e social mais concertado, estribado em cooperação transnacional, fortemente influenciada pelas reivindicações de mais distribuição social e melhoria acentuada das condições de vida das classes laboriosas, que forçavam as próprias burguesias nacionais a unificar as suas políticas, que do ponto de vista económico, quer social;


Nos chamados grandes países em desenvolvimento, a sua revolução económica estava mais centrada na conquista das suas reivindicações nacionais próprias e na conquista de mais liberdade, com a excepção da China, que aderiu à chamada "economia de mercado" sob os auspícios de um mitigado capitalismo de Estado).


Em grande medida, este modelo desenvolvementista do capital liberal ocidental contribuiu para aprofundar as contradições com o modelo de capitalismo de Estado, dominado pela antiga URSS, que se viu enredada numa crescente voragem militarista, sem estar apoiada numa produção industrial pujante, pelo contrário apresentava sintomas graves desde os anos 70 de estagnação - ao contrário da ocidental.


A queda do domínio imperial da antiga União Soviética sobre uma grande parte da Europa de Leste, e o corte ideológico que o mundo sofre com o desmoronamento visível de um falso comunismo, que se acorbetava com a capa de capitalismo de Estado, colocou os Estados Unidos, com uma vassalagem política bacoca da  UE e do Japão, como a única potência dominante - económica e militar.


Foi uma vantagem que lhe subiu à cabeça. 


Aumentou a sua política de arrogância, de ferro e fogo sobre as diferentes partes do mundo, procurando imiscuir-se, violentamente, nos assuntos internos dos países que procuravam seguir a sua via independente de construção económica, política e militar.


Vejamos a prática de violência e destruição que os EUA levaram às diferentes partes do Mundo, na sua ânsia de sucesso imperial mundial, situando apenas a partir dos anos 80 do século passado.


Nesse ano, fazem uma surtida militar de grande envergadura no Irão, com o argumento de irem resgatar cidadãos norte-americanos retidos na sua embaixada em Teerão. Em 1981, assumem o controlo do Exército de El Salvador, através de centenas de "conselheiros militares" com a justificação de combate à guerrilha.


Neste mesmo ano, depois em 1986 e mais tarde em 1989, atacam unidades militares líbios na zona do golfo de Sirte. Pretexto: actuar "contra o terrorismo".


Em 1982 e 1983, fazem entrar pelo menos dois milhares de membros das suas tropas especiais no Líbano, de onde saem depois um forte ataque ao quartel-general dos EUA no país, em que morrem cerca de 300 militares norte-americanos.


Em 1983, invadem Granada para afastar o governo eleito que não lhe era favorável. Entre 1983 e 1989, enviam contingentes militares e unidades aéreas para defender o regime hondurenho, sem forças para conter um eventual conflito com a Nicarágua Sandinista.


Desde a segunda metade dos anos 80 do século XX, verifica-se uma alegada "obsessão" pelo Médio-Oriente. Quando o Iraque, aliado subserviente dos EUA, invade o Kuwait (1990), um enclave iraquiano, protectorado de Washington, devido ao petróleo, a administração ianque sente o terreno a fugir-lhe e emprega a mais alta tecnologia castrense para manter, ainda que, temporiamente, a sua política de ferro e sangue de defesa dos "interesses nacionais".


Ainda em 1988, não têm pejo em abater um avião civil iraniano com 290 pessoas a bordo. Em 2003, efectuam, com um rastro enorme de destruições e mortes, a invasão e ocupação do Iraque, que, oficialmente, abandonam este ano, embora, oficiosamente, continue ocupado por cerca de 100 mil paramilitares mercenários.


Ainda na década de 80, intervêm violentamente no que consideram ser o seu quintal na zona sul do seu "espaço vital": militarizam em crescendo desde 1988 o Panamá, até que  1989 o invadem e capturam o seu chefe de Estado, o general Noriega, seu agente secreto, que se rebelou contra o amo. 


Desde meados dessa década, começam a intervir no terreno com tropas, unilateral e directamente, na América Latina, primeiro, na Bolívia (1986), depois em 1989, em força, na mesma Bolívia, Colômbia e Perú, onde estabelecem bases castrenses operacionais: Pretexto: luta contra a droga.


Nos inícios dos anos 90, com a evolução crescente da economia europeia, os EUA intervêm directamente nos assuntos da própria Europa, minando a sua implantação. 


Concentram-se militarmente na ex-Jugoslávia, que colocam a ferro e fogo (são centenas de milhares os mortos, essencialmente civis), nas guerras da Croácia, Bósnia-Herzegovina e Kosovo, mantendo, nesses territórios estruturas militares. Envolvem os seus vassalos europeus nessas guerras, incluindo os cobardes e mercenários dirigentes portugueses.


Como podemos verificar mais à frente este sucesso imperial teve um espaço temporal momentâneo - 40 a 50 anos - ele está a acabar.


Caminha para o fracasso. E a razão principal está na economia.

3 - Em Agosto deste ano, os EUA viveram um período considerado crítico para a sua sustentação como Estado: o espectro da bancarrota imediata esteve no ar. 


E porquê?


A dívida total nacional norte-americana, referente a Julho deste ano, ultrapassava o valor de 14, 4 biliões de dólares, um valor superior ao que era considerado como limite autorizado - 14,3 biliões - para cumprir os pagamentos aos credores e satisfazer os compromissos internos.


A classe dirigente norte-americana engendrou um compromisso de última hora para evitar a insolvência, que passou pela ultrapassagem do limite estabelecido para a dívida, através de emissão fictícia de papel e restrições enormes nos direitos e garantias dos seus assalariados.


Os governantes e banqueiros norte-americanos, em particular os capitalistas judeus de Wall Street, já tinham essa percepção desde há mais de 10 anos.


Efectuaram, então, a partir de 2008, uma manobra manipuladora dirigida contra o euro, procurando limitar-lhe a evolução, aproveitando para tal a incapacidade (e a submissão) dos governantes e dirigentes políticos e económicos europeus, e as fraquezas evidentes da sua desunião, e os resquícios de nacionalismo imperial que ainda subsistem em alguns dos Estados da UE.


Mas, a crise do sistema financeiro norte-americano, e por arrasto, do sistema mundial, não vem de hoje.





Como se pode verificar, a dívida pública norte-americana sofreu uma enorme incremento, a partir de 2000, que coincide, em grande medida, com dois gigantescos encargos: a entrada de capitais públicos para injectar capitais públicos nos bancos e empresas de seguros privados falidos fraudulentamente (possivelmente mais de 850 mil milhões de dólares) e as despesas descomunais de carácter militar.


(Em 2008, o total oficial (não real) dos gastos militares dos EUA ascenderam a 600 mil milhões de dólares, um valor superior a 41 % das despesas castrenses mundiais, despesa esta superior aos 14 maiores gastos militares nacionais.


O Orçamento da Secretaria de Defesa (Ministério da Defesa) em 2010 atingiu, precisamente, os 600 mil milhões de dólares, um acréscimo de 14 % face a 2009 e 80 % superior a 2001. Mas, esse Orçamento tem um adicional de 130 mil milhões de dólares só para as guerras do Iraque e Afeganistão.


De referir que os próprios responsáveis do poder, como o Nobel da Economia Joseph Stiglitz desconfiaram desses valores. Ele fez as contas e divulgou-as, através do Daily Telegraph: a guerra do Iraque já fez sair dos cofres do Estado mais de três biliões de dólares (dados de 2008) e acrescentava que, nos dois anos seguintes, iriam ainda ser gastos, pelo menos, mais 500 mil milhões de dólares.


Outras dados, baseados nas despesas reais do Orçamento federal, assinalam que, os EUA gastam, no Afeganistão, uma média de dois mil milhões de dólares por semana, cerca de 104 mil milhões por ano. A guerra já leva 10 anos).


Significa que, na realidade, a economia dos EUA está ser "afogada" pelo militarismo. E este militarismo está a ser usado pelo sistema financeiro de Wall Strert para se tentar salvar. 


(Os EUA mantém um número de 865 bases e instalações militares em 150 países).


Provocando a intervenção, quer directa, quer indirectamente, constante nas fontes essenciais de matérias-primas para controlar, a administração norte-americana está a procurar, nos últimos 10 anos, a "asfixia" das duas principais potências concorrentes a essas fontes, em particular o petróleo e o gás


A bacia mediterrânica africana e o grande Médio-Oriente, incluindo a zona do Cáspio têm sido as áreas privilegiadas da actuação militar como um fim em si da própria existência do Estado norte-americano. 


Quem pretendem atacar, essencialmente?: a UE e a China, ambas muito dependentes do petróleo dessas regiões.


Está a forjar, no entanto, o seu próprio "estrangulamento" económico. No fundo, a sua destruição. 


Os próximos anos vão mostrar se a crise norte-americana entra num espiral de decomposição imperial.


Alguns dados desse declínio: a presença do dólar nas reservas monetárias internacionais, em 1995, representava 44 %. Subiu, em 2000, para 56%. Mas desde então a queda da moeda norte-americana tem sido acentuada. Em 2010 desceu para 34%. O dólar, embora ainda tenha um peso significativo nas relações cambiais internacionais, já não é o "pilar" norte-americano. Começa a "dividir" a liderança com o euro e o yuan.


O desemprego no país cresceu e estará hoje na ordem dos 10 por cento da população activa. Um em cada seis dos seus habitantes já recorre às senhas de alimentação.


A actividade produtiva está em recessão, continuamente, desde 2006.


E, aqui, surge o chamado *nó górdio* da actual situação política é que os EUA, colocando perante uma perspectiva de falência, ou seja um prenúncio, de dentro de alguns anos, poder ficar sem controlo governamental central (existem Estados e cidades completamente insolventes, como a Califórnia) e acossados por potências que lhe "batem o pé", poderá querer avançar para a guerra, para evitar a implosão financeira. 


Se os Estados, que lhes são vassalos, os seguirem, haverá conflitos económicos, financeiros, sociais, que poderão atingir violência inaudita.


3 - Esta escalada actual de tensão militar, fomentada pelos EUA, com a presença cada vez maiores de outras potências em zonas críticas (a China tem 25 navios de guerra nas regiões do Mar Arábico, Golfo de Aden e Somália, bem como tem unidades da Marinha de Guerra a fazer missões no Pacífico Sul, o que acontece pela primeira vez; a Rússia deslocou uma frota naval numerosa, com dois porta-aviões nucleares para as costa da Síria e reforçou com armas sofisticadas a área fronteiriça com o Irão do lado do mar Cáspio e, eventualmente, forneceu aos iranianos misseis e defesas electrónicas mais potentes. e, o Irão, possivelmente já com armas atómicas e misseis intercontinentais em serviço), não serve a unidade europeia.


Para analisarmos esse aspecto, temos de reflectir sobre o que está a acontecer no seio da UE e, particularmente, na consolidação da moeda única.


Apesar da pressão intensa de Wall Street e da City, que provocou desorientação, contra-formação e muita descrença, e, essencialmente, porque despertou as classes trabalhadoras europeias para o problema do papel nefasto do capital financeiro internacional, a burguesia europeia, através dos seus dirigentes tiveram de se "desenvencilhar" e seguir uma via própria.





No mês de Dezembro, que agora está a findar, os principais dirigentes da UE, entalados pela mais que provável convulsão social generalizada no seu território, com a perspectiva de uma ruptura no euro, avançaram para uma fase de integração orçamental e financeira mais acentuada, e colocam mesmo em marcha um projecto de integração fiscal, para "blindar" o euro e o espaço monetário único. 


Quem perdeu, neste intervalo, foram, precisamente, o Reino Unido, que ficou completamente marginalizado e engalfinhado numa crise de grandes proporções (não sei se não se colocará, a breve prazo, uma fragmentação da monarquia inglesa), e os EUA.


Os europeus ao optarem por este caminho, abriram a via para a  criação dos títulos de dívida pública centralizada, que se apelidam de eurobonds.


O que pressupõe que terá de ser aberto um debate democrático, e se não for estimulado de forma democrática, haverá tentativas retrógradas, nacionalistas, que destruirão o sistema criado.


Para avançar nesse caminho longo e contraditório, a burguesia europeia terá de relançar a indústria em termos de progresso social e incrementar o comércio que lhe é inerente. Ou seja, impor melhorias económicas e sociais, fazer crescer a exportação, como um bloco, e conseguir uma voz única de poder na arena internacional.


(Convém recordar com a crise em cima, em traços largos, que recorrendo a uma análise comparativa dos activos financeiros em 2009 e 2010, o Banco (BEI) Europeu de Investimentos é a principal instituição financeira mundial. Por seu lado, o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento (BERC) evlouiu significamente na sua carteira de projectos, com um aumento de valor da ordem dos 40 %).

O que traz ao de cima, a capacidade de efectuar esta transformação. 


A unidade política europeia, para ser real e eficaz, terá de ser realizada contra o sistema capitalista internacional. 


Ou seja, terá de ser efectuada contra os inimigos internos e externos.


Poderá ser, na verdade, uma tarefa para as classes trabalhadoras.






sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A JUSTIÇA DE CLASSE







1 - As notícias são do jornal "Público" e agora sintetizo-as em meia dúzia de linhas.


Uma senhora reformada foi apanhada a furtar um frasco de descafeinado, cujo valor era de 2,58 euros. Foi presa e levada a um Tribunal. Rapidamente julgada e condenada a um pagamento de uma multa de 540 euros, mais as custas processuais. Tudo somado, 642 euros.

Num outro processo, um sem-abrigo está em julgamento e aguarda sentença por ter furtado seis chocolates num valor que não ultrapassará os 15 euros.

Apesar de ser um processo sumário, o caso demora um pouco mais, porque o ladrão não tem residência fixa para ser...notificado.

Certamente, a justiça não deixará de sentenciar este perigoso criminoso.

2 - Em 2003 começou um processo que se apelidou de "Caso Casa Pia".

Foram identificados os criminosos, pois de criminosos se trata.

São, no entanto, "pessoas respeitáveis" que violavam crianças de uma instituição de recolha de menores.

Criminosos estes que estão há...oito anos a "gozar" com o pagode com a cumplicidade de toda a estrutura superior do Estado português.

O seu julgamento tem de seguir todos os trâmites vagarosamente legais, pois não se pode condenar tais personalidades sem lhe dar todas as possibilidades de se defenderem. Não se pode condenar ninguém sem provas, dizem as sumidades da Justiça deste país.

3 - Foram condenados na Alemanha dois administradores de uma empresa que vendeu submarinos a Portugal.

A razão da condenação está, precisamente, no suborno de "personalidades" portuguesas - com mais de 30 milhões de euros - para decidirem a compra dos navios àquela empresa alemã. 

Em Portugal, sabe-se isso, e as autoridades judiciais até sabem que são os prováveis subornados, que empocharam a maquia.

Não é difícil de saber. Mas claro são "figuras respeitáveis" e estão no poder.

Não podem ser julgados em processo sumário, como a reformado ou o sem-abrigo, porque as provas, para estes, são difíceis...de encontrar.

4 - O maior roubo dos últimos tempos deu-se com o banco BPN (Banco Português de Negócios). Não se conhece exactamente o valor do desvio de dinheiro.

É um crime mais grave, porque estão a roubar dinheiro aos trabalhadores para "tapar" o buraco financeiro provocado por este crime de lesa- pátria. Contribui para o empobrecimento de milhões de pessoas.

A JSD (juventude social-democrata), lesta, sustenta que foram sacados 5,3 mil milhões de euros do erário público para o efeito. Procura atingir o anterior governo.

Mas, claro JSD sabe, e muito bem, quem foram os criminosos que praticaram estes crimes: Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Abdul Kaim Vakir, entre muitos outros da sua "rede" partidária.

Mas não exige a prisão imediata e sumária desta cáfila.

Certamente que vocifera contra o pequeno furto exige mais repressão, mais polícia, aumentos dos períodos prisionais para estes crimes que põem em causa a "segurança pública".

Os outros não. Satisfazem a clientela onde eles chafurdam e se vão tornar grandes em breve, tal como Miguel Relvas e o próprio Primeiro-Ministro, Passos Coelho.

Nem denuncia que o seu governo, da JSD, ou seja do seu partido-pai, o PSD, já entregou o BPN, via um seu apaniguado, o antigo ministro Mira Amaral, como esta de ferro, a um grupo angolano, onde se destaca a filha do actual chefe de Estado de Angola. 

5 - Esta é a justiça de classe, que está a ser implantada, com reformas pela actual Ministra da Justiça, que foi para o governo por pertencer a um grande escritório de advogados, que protegem justamente a cálifa que nos rouba descarada e criminosamente.


O roubo do BPN foi um crime, mas, também, é um crime - embora tudo esteja na lei - entregar um banco aonde foi injectado dinheiro dos contribuintes, e aonde será injectado mais dinheiro para o "reabilitar" e colocar "no mercado" pela módica quantia de 40 milhões de euros, pagos em prestações suaves. 

AFINAL CATALINA PESTANA, QUEM SÃO OS PEDÓFILOS DA IGREJA CATÓLICA?


                                       

                              



Catalina Pestana, que assina uma coluna semanal no semanário "Sol", e já exerceu, recentemente, o cargo de Provedora da Casa Pia de Lisboa, e, muitos mais anos atrás, serviu como directora de um dos colégios tutelados pela mesma instituição, tem escrito, em diversos ocasiões, sobre a continuidade, na mesma, da existência da "indústria" da pedofília.

Na edição de hoje do mesmo semanário (pág. 36), Catalina Pestana sustenta sem rodeios, no geral: "Houve e há abusos sexuais em instituições da Igreja Católica Portuguesa".

Ela, que se intitula cristã, e faz questão de assinalar que o chefe de Igreja Católica Apostólica Romana, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, apelidado de Papa Bento XVI, incita à denúncia dos casos de pedofília "já" que "não está sujeito a excomunhão como até há bem pouco tempo", não apresenta um único caso concreto. 

Confessa, no entanto, que "a associação onde sou voluntária - sublinha -, a Rede de Curadores, recebe várias queixas de situações com esta origem", origem esta que - penso será - a prática de pedofília no interior da Igreja Católica.

 Esta piedosa mulher, que sublinha ter sido invadida por "um longo vómito" que lhe percorreu "todo o corpo" ao saber da extensão dos abusos sexuais denunciado pela Conferência Episcopal Liberal Holandesa, fica-se, todavia, pela cumplicidade com esses abusos, porque sabendo que existem, e assistindo à afirmação do cardeal José Policarpo, bispo de Lisboa, de que não conhece "casos de pedofília na Igreja em Portugal", apenas sentencia um lamento.

Para que serve, Catalina Pestana, o conhecimento das queixas, se estas não são transformadas em actos concretos de denúncias, quer às autoridades judiciais e políciais, quer aos próprios órgãos de comunicação social?

"Lamento - escreve Catalina Pestana - que um homem (Policarpo) tão inteligente, e pelo qual nutro respeito e estima, não saiba ler os sinais que o rodeiam, ou estes lhe são sonegados. Há centenas (sublinho eu!!!) de católicos que têm informações em sentido contrário".

Pois, Catalina Pestana, estes lamentos são hipócritas.

Como pode você ter respeito e estima por alguém que nega o que diz ser uma evidência.

É você que refere: "quando falamos de abusos sexuais, falamos de crimes, de criminosos compulsivos, quando são pedófilos".

E prossegue: "De criminosos respeitados pela função que desempenham, de criminosos acima de qualquer suspeita".

Está a sustentar que os hierarcas católicos estão incluidos nesta suspeita?

Tenho de inferir que sim, porque a sua prosa aponta para isso: "houve e há abusos em instituições da Igreja Católica Portuguesa".

Até, porque você esteve a discutir a questão com o "anterior presidente da Conferência Episcopal, D. Jorge Ortiga".

Então como ficamos, piedosa Catalina?

Não denuncia os crimes, porque tem medo de se atrever a fazê-lo?

Estamos, pois, no campo da cumplicidade.

Mas, o caso torna-se mais grave, porque tendo Catalina Pestana exercido o cargo que exerceu, as autoridaes judiciais e policiais não investigam as queixas que estão em posse da Rede de Curadores.

Porque se encobre então todos estes crimes de personalidades "respeitadas pela função que desempenham"?.

A Ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, que lançou, recentemente, a sua fúria justiceira contra os atrasos na Justiça ainda nada fez para impulsionar o término do caso Casa Pia.

Será porque existem muitas outros "criminosos respeitados pela função que desempenham, criminosos acima de qualquer suspeita" que ainda não foram chamados à barra dos tribunais e à prisão? 





segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"O ÚLTIMO SEGREDO": A IGREJA CATÓLICA DEVIA ESTAR CALADA









1 -  Fui ler o livro do jornalista José Rodrigues dos Santos, um romance com o título "o último segredo", porque uma nota, profundamente crítica, da hierarquia da Igreja Católica portuguesa, através do seu Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (uma metáfora estrambólica dos constantes enigmas desta confissão religiosa) se insurgia contra o "tom de intolerância desabrida" que os escritos contemplariam sobre a "história da formação da Bíblia, quer ainda sobre a "fiabilidade das verdades da Fé (com maiúsculas! em que os católicos acreditam".


E o que me me lançou definitivamente para a compra do livro e a sua leitura foi o tom arrogante que os doutos senhores da Igreja Católica se arrufiam na classificação do trabalho de uma pessoa que não segue os seus ditames, lançando-lhe um desprezo inquisitorial e intolerante: "É lamentável que escreva centenas de páginas sobre um assunto tão complexo sem fazer ideia do que fala".


Mas afinal o que é complexo?

a) Os textos da Bíblia não assentam em realidades históricas comprovativas por documentos coevos. É uma realidade, é um dado histórico.

São fruto da fé, de uma orientação mística, fora da realidade histórica, articulada, ao longo de tempos, mais ou menos longos, por meio da imaginação e de ritualismos religiosos.

b)  Relativamente ao Novo Testamento, e em concreto à própria figura de Jesus Cristo, não apareceu, até agora, qualquer documento factual da pretensa época em que ele viveu, que consagre, historicamente, que a pessoa tivesse existência real.

Todavia, porque existem documentos de diferentes proveniências a referenciá-lo, pode admitir-se (mas isto é uma probabilidade) que a personagem Jesus tivesse vivido, mas alguns anos antes daqueles que são assinalados pelos pouco textos posteriores que falam dele. 

c) O cristianismo e os cristãos, esses, têm referências históricas precisas, mas elaboradas e organizadas muitas décadas depois da pretensa existência - vida e morte - de Jesus Cristo.

Portanto, nada há de complexo na pesquisa histórica. Será escusado fazer considerações sobre o livro de Rodrigues dos Santos, baseado na História, pois os textos bíblicos são escritos retirados do contexto histórico e qualquer um os pode refazer, revirar ou tornar inúteis.

Invocar a questão da fé é um mero pretexto irracional, que os teólogos sabem ser assim e somente fazem finca-pé deste contexto, porque estão interessados nessa irracionalidade como forma da sua vivência própria para manter a ignorância dos povos.




 2 - Convém referir - e isto até agora é factual e histórico - os documentos canónicos que falam de Jesus Cristo são 27: os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), os Actos dos Apóstolos, as Epístolas (21) e o Apocalipse.

Foram todos redigidos em grego e enquadrados como "cânone" - apoiados, em épocas diferentes, por hierarcas e rejeitados por outros -, mas, finalmente, formalizados e uniformizados, como tal. por alturas do século IV. 

Ora, significa isto que não foram transmitidos para as épocas posteriores, na língua falada na região onde teria nascido e vivido o personagem Jesus Cristo, nem os factos relatados e com ele relacionados, o aramaico, nem sequer no chamado hebraico bíblico, utilizado, então, pelas estruturas superiores religiosas da mesma região.

(De assinalar que o número de livros do Novo Testamento é, exactamente, igual ao numero de livros do Antigo Testamento (27), ou sejam os únicos que são reconhecidos como fazendo parte do "cânone" pelos hebreus/judeus da Palestina, nos finais do I século DC.

Claro que existem outros, mas foram colocados fora da "regra", porque foram redigidos, essencialmente, em grego.

A justificação para esta expurgação baseia-se no pressuposto de que Javé (o Deus) apenas falou em linguagem hebraica.

Todavia, quer os judeus da emigração, quer os primeiros cristãos consideraram esses livros expurgados como "deuterocanómicos".

A religião católica aceita-os nos dias de hoje, mas as diferentes religiões protestantes consideram-nos "apócrifos", ou seja "não autênticos").

3 - Porque estamos no Natal, podemos verificar com as fés católica e cristã forjaram uma estória. Como manipulação para a criação da figura de Jesus Cristo.

(Um pequeno aparte: situemos a personagem no próprio nome. Qualquer simples mortal não achará estranho que ele seja formado por duas palavras de origem linguística diferente?
Jesus é um nome, que provem de uma forma abreviada de Jehosua, que em aramaico significa "Deus Salvador". É um nome comum, mesmo muito comum na região na mesma época. 
Cristo é uma palavra grega, que literalmente se pode traduzir por Messias, ou seja o "Ungido".) 
A data do Natal, 25 de Dezembro, que a Igreja Católica impôs como dia e mês do nascimento de Jesus Cristo, é um acto arbitrário forjado no século VI, no tempo do imperador Justiniano, por um frade ou monge de nome Dionísio, baseado em cálculos da sua imaginação.
Os Evangelhos canónicos nada dizem, pura e simplesmente, sobre o mês e o dia do nascimento de Cristo.

Se se tomar em conta o que está inserido no Evangelho de Mateus, este refere que Cristo nasceu "no tempo de Herodes".

Ora, Herodes morreu em 4 AC, conforme está perfeitamente documentado.
Ou seja, Jesus Cristo, a ter nascido e vivido na Palestina, teve uma idade mais "precoce" pelo menos cinco ou mais anos antes do registo que os apologistas da doutrina cristã crismaram.
Poder-se-ia avançar por teste trilho para desmontar as inverdades, omissões e mentiras que a Igreja Católica inventou para modelar a figura de Jesus Cristo a uma imagem universal que hoje alcançou.
Não vale a pena fazer grandes considerações, porque tal como a nota pastoral faz questão de recordar. É tudo uma questão de fé.

A nota pastoral não esclarece nada.

Não pode refutar que Jesus Cristo se assume como judeu e não quer ter nada a ver com os "gentios", que repudia a família em detrimento dos "seguidores" e apaniguados, que os seus conterrâneos o consideravam um lunático.

Nem pode refutar que a uniformidade dos textos que enquadram a fé cristã e católica foi modelada séculos depois da eventual verdadeira existência de Jesus Cristo.
O resto não conta para a História.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

GOVERNO PSD/CDS: AS NOMEAÇÕES REFORÇAM O PODER DO CAPITAL FINANCEIRO

                                

1 - Estamos a chegar ao fim do ano, praticamente sete meses depois do actual governo português PSD/CDS, liderado por Passos Coelho, e podemos afirmar que o primeiro acto de mudança da maneira de ser que era declamada por aquele político, antes de ser governante, a nomeação dos cargos políticos para a Administração Pública, se transformou em hipocrisia.


Na realidade, Passos Coelho, tal como o seu antecessor José Sócrates, como os antecessores Durão Barroso, Pedro Santana Lopes, António Guterres e Cavaco Silva - ficamos por aqui para não recuar mais - seguiu, exactamente, a mesma senda.


Os nomeados para "reestruturar" a Administração Pública são os mesmos meros vassalos políticos do actual governo, como o eram dos anteriores. As prebendas, as sinecuras identificam-se, tal como dantes; os dinheiros dos contribuintes, gastos inutilmente, são embolsados por uma nova cáfila de medíocres, sabujos, carreiristas dos aparelhos partidários do PSD e CDS.


De acordo com dados oficiais - repiso oficiais - referentes a Setembro, o governo tinha feito 769 nomeações para cargos da função pública e governamental, 283 dos quais não foram publicados em Diário da República.


A emissora Rádio Renascença referia, há dias, que o governo desde que tomou posse fez, em média, três nomeações em por dia.


Ao todo, segundo a Rádio Renascença, foram 610 os novos funcionários que entraram nos gabinetes ministeriais desde 5 de Junho.


O salário médio é de, aproximadamente, 2.300 euros, representando um encargo anual de quase 20 milhões de euros para o Estado.


O Ministério da Agricultura foi o que mais funcionários nomeou - 91 novos colaboradores -, seguindo-se o Ministério da Economia, com 86.


São os dois «superministérios» que agregam, no primeiro caso, os anteriores ministérios da Agricultura com o do Ambiente e, no segundo, os antigos Ministérios da Economia, das Obras Públicas e do Trabalho.


Conforme, assinala a RR, os dados são oficiais e são aqueles que estão referenciados no "site". E, é o governo que faz comparações com o executivo anterior.


Na realidade, desconhece-se as nomeações encobertas, sob a forma de "consultadoria" e outras manigâncias.


Não se pode deixar de denunciar a trafulhice em torno do emagrecimento real do aparelho de Estado, que os arautos Passos Coelho e Paulo Portas preconizavam e sustentavam ser dos primeiros actos do seu governo.


2 - O que atrás se afirma é um aspecto da questão.


O outro mais grave e perigoso para a governação do país são as nomeações que estão a ser feitas para servir o verdadeiro poder, o económico capitalista, que o poder governamental serve na realidade.


Cito a imprensa do regime. Foi nomeado um novo conselho de Administração para o AICEP - um instituto dito de promoção económica do país no estrangeiro .


Pois, o seu Presidente Pedro Reis, além de ser um homem do PSD, é uma personalidade intermédia da finança, ou seja um representante do capital financeiro especulativo.


Além do presidente, Pedro Reis, foram hoje indicados os outros quatro elementos.


Pedro Gonçalves, actual quadro do Banco Espírito Santo (sublinhado meu), onde era director coordenador do gabinete de monitorização e crédito de empresas; o embaixador António Almeida Lima que foi nos últimos cinco anos o cônsul-geral de Portugal no Rio de Janeiro e é apontado como um dos diplomatas com perfil empresarial e económico mais apurado (sublinhado meu); Manuel Mendes Brandão que é advogado na sociedade Albuquerque e Associados e chefiou o gabinete de Paulo Portas quando o actual MNE passou pela Defesa; e, por fim, José Vital Morgado que transita do anterior conselho de administração, é licenciado em engenharia e trabalha na agência que promove a internacionalização das empresas portuguesas e a captação de investimento externo desde 1987 - na altura, ainda se tratava do ICEP.

Como se pode verificar, nestas nomeações estão representados justamente os representantes do capitalismo, tal como se verifica no governo: Passos Coelho veio da gestão de empresas cujos accionistas principais são bancos (CGD, BES, BANIF); Vitor Gaspar é um quadro superior do sistema bancário, quer português, quer europeu; Paulo Macedo (Saúde) era administrador do BCP, Miguel Relvas (cujo enriquecimento deveria ser investigado), igualmente foi administrador de empresas, onde o capital bancário era dominante, e além do mais já confessou que é "um facilitador" de negócios (e esta facilitação certamente é paga e bem paga); Aguiar Branco, Paula Teixeira Pinto, Miguel Macedo e Assunção Cristas provem de grandes escritórios de advogados, que servem essencialmente as grandes firmas bancárias e ligadas aos interesses de bancos.




3 - Para terminar, vamos concentrar-nos num caso paradigmático do papel político como servidor do capital e dos seus interesses específicos na própria instituição bancária.

Reportamo-nos a um caso que já tem meses. Lembram-se da nomeação da nova administração da Caixa Geral de Depósitos, que o governo PSD/CDS anunciou que iria privatizar (total ou parcialmente), e em cujo universo de empresas que representam está o sector de Saúde? 
Falemos então de António Nogueira Leite  que foi escolhido ser vice-presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos e ganhar mais de 20 mil euros por mês.

Esta marioneta político-financeira, que foi conselheiro de Pedro Passos Coelho, é um homem do grupo CUF, de que éadministrador executivo. Mas também é administrador executivo da SEC,  administrador executivo da José de Mello Saúde,  administrador executivo da EFACEC Capital,  administrador executivo da Comitur Imobiliária, administrador (não executivo) da Reditus, administrador (não executivo) da Quimigal - presidente do Conselho Geral da OPEX,  membro do Conselho Nacional da CMVM,  vice-presidente do Conselho Consultivo do Banif Investment Bank, membro do Conselho Consultivo da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, vogal da Direcção do IPRI.

É membro do Conselho Nacional do PSD desde 2010.

Ou seja, o domínio do capital financeiro é total. Quem está no poder (económico, social e político) não é a burguesia portuguesa.

É, directa ou através de seus representantes, um sector específico dela, a grande burguesia da finança.

Ela atingiu, finalmente, todas alavancas do poder de Estado.

Nunca poderá reestruturar a economia a favor da produção nacional. Ela vai continuar a aprofundar a manutenção do sistema financeiro especulativo em grau cada vez mais sofisticado e elevado.

Para o fazer terá de endurecer o regime, caminhar para formas autoritárias de poder repressivo, possivelmente até fascistas, se não houver compreensão da gravidade que se está a desenrolar.