segunda-feira, 14 de novembro de 2011

DEMOCRACIA OU REVOLUÇÃO?











1 - O coronel Otelo Saraiva de Carvalho fez, há dias, declarações sobre uma manifestação de militares, programada para sábado, dia 12, que criou uma viva reacção dos fomentadores e organizadores dessa acção.

Ficaram muitos irritados, porque Otelo Saraiva de Carvalho admitiu duas hipóteses de transformação política da actual estado de coisas, no fundo, da substituição do actual poder corrupto e decadente de democracia parlamentar, o que é uma evidência, pela via de um golpe de Estado castrense ou pela revolução.

Otelo, todavia, colocou a ênfase na possibilidade de uma intervenção militar minoritária.

Mas questão central das objecções não é o facto de Otelo Saraiva de Carvalho ter colocado, com evidente desfasamento, e até com uma hipótese, realmente, antiquada, a questão de um golpe de Estado, porque as rebeliões de modelos ancestrais estão, realmente, fora de moda.

Uma rebelião, colocando tropas do regime nas ruas, em confronto com outro sector castrense, ou para-castrense, ou mitigado, do mesmo sistema político, não traz qualquer valor acrescentado a uma possível vitória, porque esta não é uma vitória que conduza a uma transformação radical e inteiriça da presente organização social decadente.

E aqui, Otelo Saraiva de Carvalho está equivocado: a época dos confrontos e ataques efectuados por grupos armados militares minoritários, mesmo que conscientes, mas completamente rodeados por massas populares inconscientes ou amorfas, está ultrapassado.

A questão central que o antigo comandante do COPCON lançou como alternativa, esta verdadeira, é a hipótese de uma Revolução.

E é esta sua proposta ou sugestão, que pôs o cabelos em pé, a todo o conjunto de "altos dirigentes militares" que vieram criticar, rapidamente, o coronel Saraiva de Carvalho.

E, fazem-no sem qualquer autoridade política para o fazer.

Até porque alguns são co-responsáveis pelo evolução que o regime saído do golpe de Estado do 25 de Abril de 1974 chegou ao estado actual.

Ao organizarem, em 25 de Novembro de 1975, um contra-golpe militar, fizeram-no para colocar a nova organização social que se estava a moldar num rumo de transformação, ainda que incipiente, nos trilhos do domínio do capital financeiro, que hoje é, perfeitamente, dominante. Ou seja, a democracia do poder do Capital.


2 - O coronel Vasco Lourenço, Presidente da Associação 25 de Abril e antigo Conselheiro da Revolução e um dos dirigentes do chamado "Grupo dos Nove", que entregou o poder aos políticos actuais e permitiu o reforço do capital financeiro especulativo no país, sustentou que Saraiva de Carvalho está a liquidar a Revolução dos Cravos.


Como se existisse no país, nos nossos dias, algo que tenha a ver com a incorrecta chamada "Revolução" de 1974/75. Frase mais ridícula, não pode ser proferida.

Em entrevista na TVI24, o general Pezarat Correia, que foi igualmente Conselheiro da Revolução no pós 25 de Novembro e, pour cause, nomeado comandante da Região Militar Sul para "pacificar" o Alentejo, fazendo regressar as terras ao domínio dos latifundiários absentistas, sublinhou que as afirmações do coronel, seu camarada de armas, que, em nome do regime actual, esteve preso sem culpa forma durante mais de quatro anos, são "ofensivas e graves".

"Sinto-me envergonhado. O Otelo não pensou no que disse, é muito grave. A possibilidade de usar armas para defender interesses corporativos é extremamente ofensiva", lamentou-se Pezarat Correia, esquecendo que o golpe de Estado do 25 de Abril surgiu e foi levado a efeito, precisamente, por interesses corporativos.


Mais comedido, António Lima Coelho, Presidente da Associação Nacional dos Sargentos (ANS), sublinhou que "os militares sabem muito bem quais são as suas obrigações e deveres constitucionais e legais e depois, no limite, as revoltas e as revoluções não se anunciam propriamente na comunicação social e o senhor coronel saberá melhor do que ninguém nessa matéria".



Por muito que custe a Otelo Saraiva de Carvalho, embora ele não pusesse, directamente, em causa, a subordinação dos militares à autoridade estabelecida ao manifestar-se (é um direito), Coelho argumenta, neste caso correctamente, ao frisar que, naquele momento concreto e na situação política existente no presente, a sua actuação, ao vir para a rua, tinham de o fazer dentro das "obrigações" e "deveres constitucionais e legais" que a imposição da autoridade determina.



E isto, no pressuposto de que a sociedade - e eu concordo com ele - tal como está ainda estabelecida e dentro do seu estado social - social, económica e política - não está em condições de admitir uma outra instituição autoritária. (A necessidade de autoridade é um princípio concreto da existência de qualquer sociedade).



Ora, Coelho não pode pôr em causa a liberdade de Otelo ou de outro qualquer cidadão em renunciar ao seu direito a colocar a Revolução na ordem do dia e afirmá-lo, publicamente, em nome de um pretenso secretismo de que as revoluções fazem-se dentro do estrito secretismo conspirativo.



Nem Vasco Lourenço pode criticar Otelo Saraiva de Carvalho, porque a única alternativa seja a actual democracia, porque ele sabe que foi dentro desta democracia, e, "ensarilhado" nos seus mecanismos legais e constitucionais, que medrou a podridão sem retorno em que ela se estatelou.



Não haverá dentro desta democracia qualquer hipótese de ruptura completa com a estruturação económica capitalista especulativa e parasitária, porque o domínio político e económico está concentrado numa minoria exploradora.


Ora, esta "cadeia" armada, que estrangula a capacidade de criar uma nova relação social mais justa, somente poderá ser destruída pela intervenção, o mais abrangente possível, das classes laboriosas e outros trabalhadores.



Ou seja, os grandes modelos societários que até agora foram testados, incluindo as Revoluções soviética de 1917 e Chinesa de 1949, não produziram, na realidade, a transformação completa da estrutura social, porque, por um lado, não apareceram em Estados com um forte desenvolvimento económico e social, e por outro, não surgiram as forças revolucionárias capazes de levar para diante os propósitos iniciais das mesmas.


Foram incapazes de dar mais iniciativa à falta de maturidade da consciência política da maioria da sua massa populacional. No fundo, essas forças tornaram-se contra-revolucionárias e levaram às derrotas das Revoluções que eram incipientes.



O que, de novo, esta a surgir no Mundo, e no incremento enorme capitalista que sofreu nos últimos 30 a 40 anos, é que se clarificaram, grandemente, as relações classistas.

Que, neste momento, começam a caminhar para se vir a colocar em campos de batalha perfeitamente diferenciados.


Necessitam, no entanto, hoje, de um novo programa ideológico e político e, acima de tudo, de uma experiência mais prolongada de amadurecimento da consciência de que é necessário lançar as bases de uma novo parto na organização social mundial.

Levará algum tempo, embora este tempo, na actual fase de crise completa mundial, não se pode medir em quantidade.

































































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