quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O QUE SÃO ESQUERDAS?

1 - O que é esquerda ou que são esquerdas?

Sinceramente, não sei. Do ponto de vista da ciência política, é uma abstracção inútil.

Direita ou esquerda de quê?

A sociedade, quer o neguem ou tentem minimizar os chamados sociólogos do poder dominante, é constituida por classes.

Em termos gerais, existem as classes dominantes e possidentes e as classes dominadas, trabalhadoras e despojados do poder económico e político.



Ou seja, a estrutura societária mundial - e nos dias actuais assim a podemos classificar - está implantada num tipo de regime onde domina, em toda a sua extensão, o poder do Capital.

Logo, no terreno da actividade económica, e subsequentemente política, porque esta é a expressão superestrutural daquela, que é a sua base, estão interesses e relações sociais opostos e divergentes, inconciliáveis.

O capitalismo somente poderá ter em confronto o anti-capitalismo. É a única divisão classista que serve de trave-mestra à própria organização societária.

2- Em épocas anteriores, coexistiram outros tipos de estruturas societárias, e, em dado momento, quando as forças produtivas adquiriram certa expressão houve até entendimentos de classes diferenciadas para destruirem as sociedades caducas por outras mais avançadas.

Todavia, nos dias de hoje, a burguesia, mesmo a que se afirma liberal, que lutou em séculos anteriores contra o feudalismo, e contou, em muitas ocasiões, com as classes laboriosas, para solidificar o seu poder, tornou-se, agora, uma classe caduca, decadente e inútil, e, é a força motriz da violência colectica das classes dominantes sobre as classes trabalhadoras.

Nos últimos 30 a 40 anos, estas classes dominantes procuraram e procuram, por todos os meios, destruir todos os direitos e regalias que foram conquistados desde os tempos da Revolução Francesa, e, posteriormente, no rescaldo da luta revolucionária da Comuna de Paris do século XIX em bandeiras que se inscreveram em Constituições e leis aprovadas em Assembleias Nacionais.

E, principalmente, toda a explosão de reivindicação social que percorreu todo o Mundo, inclusive, os Estados Unidos da América, com os movimentos, marcadamente políticos classistas, que se seguiram nas décadas imediatas à Revolução Russa de 1917, que, apesar de ter sido lançada debaixo de um programa socialista, o partido que conquistou o poder viu-se confrontado com um estado de desenvolvimento económico deficiente, e, num espaço rápido de alguns anos, obrigado ou actuando de forma consciente em confinar a sua acção de representante de todo o povo em grupo restrito, reaccionário e contra-revolucionário.

Ora, esse grupo enquistado no poder limitou e fez regredir as conquistas dos princípios da revolução soviética vitoriosa, por ficar, justamente, restrita a um só país em atraso económico e rodeado por uma grande burguesia reaccionária e pró-imperialista que dominou, na realidade, todo o Ocidente mais avançado economicamente.

Mas, a sua auréola revolucionária inicial e a falta de crítica posterior - e principalmente, a falta de humildade em admitir o óbvio - levou a uma obstrucção de uma explicação racional e baseada, nesse pressuposto, encarar à luz dos ensinamentos da ciência política progressista a verificação de qual era estado real de desenvolvimento económico, social e político em todo o Mundo de então até aos nossos dias.

Ou seja, como o capitalismo ocidental se recompôs, apesar das crises, e o capitalismo de Estado pró-soviético, nas diferentes fases, entrou em retrocesso, não caminhou no sentido da transformação socialista, enquistou ou forjou superestruturas estatais sociais contra-recolucionárias e reaccionárias.

Os slogans e projectos marxistas-leninistas, trosquistas, maoistas e foquistas, que germinaram entre os anos 20 e os dias de hoje nada tinham a ver com as ideias de Karl Marx e Frederico Engels.

E a História colocou tais formas estatais em causa, como sendo revolucionárias ou progressistas, embora haja grupos e partidos que deles se reivindiquem.

Todos os que viveram esse período se confrontaram com essa situação, mas, infelizmente, não pararam para reflectir, maduramente e sem ditames dogmáticos.

Enfim, para meditar, duvidar, estudar e debater, tal como sempre se pronunciaram Marx e Engels. Procuraram, pelo contrário, escamoterar a evidência, com muito voluntarismo e actos irracionais de fé.

3 - Um facto que parece, actualmente, evidente é que, nestes últimos 100 anos, o capitalismo sofreu uma transformação avassaladora, e que, apesar da falta de uma ideia consistente de orientação revolucionária para conduzir os movimentos políticos, toda a revolução económica se estendeu desde os anos 20 do século passado a, praticamente, todo o Mundo, inclusive o que se considerava ser "farol" socialista, como a antiga União Soviética e a China Continental.




Não haja dúvida, essa revolução, que sendo essencialmente económica, criou, todavia, uma nova burguesia financeira poderosa, desclassificada e dominante, que veio a ocupar o poder enraizado não só no "cadinho" do capitalismo puro e duro dos Estados Unidos, mas também já estendeu a sua acção e força a praticamente todo o Mundo: domínio dos poderes políticos, controlo sem disfarces de todas as instituições do Estado, manipulação desenfreada dos cargos públicos, uma sofreguidão de poder incomensurável sobre todas as as outras fracções burguesas, nomeadamente a industrial, bem como os antigos senhores das terras.




As produções dos Estados estão nas mãos de um grupo multinacional de agiotas marginais e sem qualquer noção de ética dessa alta aristocracia financeira, distorcendo toda a capacidade de colocar qualquer equilíbrio nas contas desses Estados.






Obrigando-os a entrar uma situação de miséria extrema, da qual procuram restabelecer o equílibrio, sem beliscar os seus interesses, através dos seus representantes no aparelho de Estado (Chefias de Estado, governo, parlamento, tribunais de várias instâncias, hierarquias policiais e militares), indo atacar, constatemente, os direitos e regalias das classes laboriosas e até de sectores empobrecidas da pequena burguesia, incluindo a camponesa.




Porque, quer queiramos, quer não, a gestão da coisa pública, nos termos da existência de um Estado ou grupos de Estados federados ou conferados, não pode conseguir fomentar essa administração comunitária aos desejos - e acima de tudo aos interesses - de incentivar uma produção interna própria, sem a existência de um patamar de equilíbrio entre a despesa e a receita.




Ora, para conseguir este pressuposto e visão justa da gestão estatal, sem desequilibrar as contas públicas, era necessário uma repartição igualitária dos encargos. Ter-se-á, portanto, de atingir os lucros da burguesia dominante. O que não sucede. Pelo contrário, o fosso aumenta.




Com esta disparidade, e a vivência contínua com um défice estatal, essa burguesia financeira joga, sem qualquer contemplação, na especulação e nas isenções das taxações dos seus lucros desmedidos, para prosseguir a sua sanha de maior enriquecimento, sem permitir que a produção interna ganhe alento, nem que o Estado possa elaborar uma repartição equitativa dos impostos.




Se se analisar o que se passa no Mundo - e não só na Europa - verificamos que um poder económico supra-nacional rege, através dos seus apaniguados e cúmplices políticos, a sociedade como se tratasse de uma imensa praça pública bolsista, que mexe, às vezes, com um simples rumor, com toda a riqueza nacional, regional, ou mesmo territorial em larga escala. E, esse centro financeiro agiota supranacional está localizado nos dois lados do Atlântico: em Wall Street (Nova Iorque) e na City (Londres), onde predomina um lobby poderoso e inútil do capitalismo financeiro judeu, associado, em grandes parcerias, com a própria Igreja Católica Romana.




São eles, o poder de facto, quer na Europa, quer na China, quer na Rússia, quer na Índia, quer no Brasil.



4 - A revolução económica capitalista deste último século trouxe, também, uma profunda transformação social, que aprofundou e clarificou as relações classistas, não só no Ocidente já capitalista, mas igualmente, no Oriente e América Latina, onde desapareceram, principalmente, nos últimos 40 anos, todo um conjunto de fases pré-capitalistas. Lá, nesse Ocidente, como no Oriente e no resto das Américas cresceu e fortaleceu-se uma burguesia poderosa ao lado de, também, poderosas classes trabalhadoras.



O estádio do desenvolvimento do Capital, nos dias de hoje, alcançou uma dimensão que o transformou em supermonopolista. A expropriação que esse Capital conseguiu realizar a nível planetário, e na medida que atingiu uma tal concentração de capitais, fez aumentar, exponencialmente, o número dos que vivem apenas do seu salário, com maior educação, mais preparação e mais conhecimento.




Como se podem verificar pelos dados estatísticos, está a diminuir no Mundo - é um facto evidente que hoje o regime capitalista dispersa-se por todo o território da Terra - o número de grandes poderes do Capital. Esse poder concentracionário está a asfixiar o seu próprio regime.





A socialização da economia e do trabalho e centralização dos recursos económicos e, essencialmente, materiais em torno de uma élite cada vez mais pequena, mais poderosa e sem poder de resolver a quadratura do círculo que os envolve, dá sintomas evidentes - e a presente crise é disso exemplar - de que se pode estilhaçar.





Existe, pois, a perspectiva e até a possibilidade de uma explosão violenta.




Todavia, neste mundo capitalista agonizante existe uma dispersão enorme, uma insuficiência tremeda de definir os objectivos finais no campo das classes trabalhadoras para alcançar, pela luta política, a subversão do regime. Falta, realmente, uma visão de conjunto de repor os projectos e as próprias aspirações dessas classes trabalhadoras num caminho de uma teoria que congregue e dê novo ânimo aos desânimos anteriores.


Não podemos afirmar, porque é errado, que estamos a partir do zero para uma nova ruptura societária. Pelo contrário, multiplicam-se as lutas económicas e as lutas políticas em todo as partes do mundo: desde a Europa até aos Estados Unidos, passando pela Índia ou China.




O periodo de certa acalmia, que serviu o incremento fugaz e voraz do capitalismo, desde os finais da II Grande Guerra até aos anos 90 do século passado, desapareceu.




Em certa medida, apesar da dispersão, das dúvidas, das incertezas, a ideia de mudança capitalista ganhou força e adeptos no interior das sociedades e, de maneira evidente, nos próprios parlamentos e outras instituições.





Estamos, pois, a dar passos, a reaprender o caminho para forjar os novos objectivos finais da luta, que será longa e entremeada com avanços e recuos.





O capitalismo está plenamente consciente desta realidade e procura fomentar as divisões entre povos e classes trabalhadoras de cada país, evitar as discussões em torno do futuro real da sociedade.





Inclusive, em todo o Mundo, neste momento, está a forjar uma aumento paulatino, mas constante de medidas repressores e restritivas do trabalho revolucionário, a propósito de inventonas terroristas, que ele própria engendra e manipula, através dos grandes meios de comunicação que domina rigidamente.





Ou seja, vamos ser confrontados com uma fase, mais ou menos dilatada, de confrontos, lutas sindicais e políticas, movimentos de rua. Ora será necessário, com a agitação conseguida nas instituições legais, dar sangue novo, avançar para novas conquistas democráticas, para consguir os objectivos finais. Poderá ser um trabalho lento, ou não.

Mas o campo de actividade política não é apenas submergido pela acção legal, é um local de acção de luta, um local de preparação para uma ruptura.



Vai colocar-se cada vez mais o que é ser revolucionário, o que se deve defender em todo o mundo, independente das fronteiras e precisar os interesses próprios específicos das classes laboriosas.


A ruptura na actual sociedade capitalista assumirá a forma de revolução.



E, para a conseguir, com resultados que sirvam os interesses próprios de quem vive do seu salário, a questão que coloca é a questão do poder e como se alcança.


Ora, o debate, em termos políticos, terá de ser chamado, com acuidade, para o terrenos da teoria política, aliada à prática.


É necessário, portanto, um programa que sirva a ruptura no estado actual do avanço societário.


O que pressupõe, por um lado, a busca da unidade (nacional e internacional), mas a crítica para formar uma organização única especificamente revolucionária.


O que coloca na ordem do dia a existência de um partido que defenda, com um programa novo, renovado, os interesses das classes trabalhadoras, interesses comuns dos assalariados, independentes da nacionalidade.



Existem vários partidos e grupos que se afirmam defensores dessas classes, que se dizem anticapitalistas, alguns com fortes representações parlamentares, sindicais e até sociais. Mas, é necessário clarificar o que é revolucionário, e o que se pretende para o novo poder.


Se se pretende dar um salto político numa fase incipiente do avanço para um único partido, será essencial lançar a ideia de um acordo comum, em torno de um projecto táctico, para alargar o campo da intervenção política. Duas organizações (ou mais) a afirmarem a mesma coisa só traz confusão e desilusão. Até retrocesso.


Todavia, é necessário reflectir sobre a importância para a luta política que se avizinha de uma única organização que sirva, com um programa claro, os interesses próprios das classes trabalhadoras, programa esse e a acção correspondente tenham o objectivo de fazer compreender a necessidade dos fins que perseguem.

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