domingo, 14 de agosto de 2011

DE QUEM É A RESPONSABILIDADE DOS TUMULTOS INGLESES?





1- Quando se analisam e "inspeccionam", os acontecimentos recentes no Reino Unido, na Grécia, Espanha, Islândia, Noruega, e, também, nos Estados Unidos, China, e por toda a América Latina, para não falar, especialmente, em toda a bordadura mediterrânica e do Próximo Oriente muçulmanos, é, neste momento, difícil, em cima dos sucessos e eventos fazer uma resenha, minimamente, consistente, de todo um entralaçado interno aos conflitos e tumultos, buscando apenas como causas únicas as económicas.



Todavia, nos dias de hoje, apesar da catadulpa de dados e informações, por vezes contraditórios - económicos, políticos, culturais, militares - é possivel, até porque a sucessão de crises financeiras, sociais e económicas se sucedem a um ritmo avassalador, podemos materilaizar que existe um traço constante, desde a II Grande Guerra, que são as causas económicas que estão por detrás desses conflitos, que se repetem, mesmo quando a evolução da instabilidade social apenas surge, aparentemente, como por encanto à luz do dia, com carácter mais ou menos violento.




Para mim, a crise petrolífera do início dos anos 70 do século passado, foi, em grande medida, o bojo que deu origem a todos os focos revolucionários que surgiram na Europa, mas particularmente no mundo, desde as vagas tumultuosas, algumas de carácter quase insurrecional, até ao aceleramento dos processos de descolonização em África e no Extremo-Oriente.



Mas também o relançamento económico e industrial da América e da Europa (melhor dizendo da União Europeia) nos anos 80, com seguimento nos anos 90 do século passado, bem como os processos de incremento capitalista no resto do Mundo, com destaque para a Rússia (desagregação da URSS), China, Índia e Japão em meados da década de 90 do mesmo século, teve, como contrapartida, uma nova euforia do capitalismo financeiro na sua fase mais parasitária e sem quaisquer princípios. O que, em termos políticos, levou a uma extensão acelerada do processo reaccionário em todo chamado mundo capitalista ocidental.



Ora, a pressão constante das lutas das classes trabalhadoras desse período, com a melhoria económica levou as classes dominantes a isntituirem muitas das reivindicações do Trabalho na própria estrutura do Estado capitalista (que os seus representantes sociais democratas chamaram Estado Social).



Mas esta euforia - o fortalecimento sem entraves do capital financeiro, com a cristalização de uma elite financeira sem qualquer classificação e uma avidez de enriquecimento sem olhar a qualquer meio, mesmo criminosos vorazes, com um impulso mundial do capitalismo - escondeu, porque nunca existiu uma resposta e acções revolucionárias consistente e de eficácia programática, o larvar alastramento e aprofundamento de uma crise financeira e um incremento descomunal das dívidas públicas, cujas resoluções foram sempre construídas à custa do empobrecimento lento, nos últimos 10 anos, mas constante das classes trabalhadoras e a destruição (iniciada antes) das produções industriais nacionais, com o afastamento dos poderes de decisões das respectivas burguesias.


A situação levou à situação actual: uma crise endémica, económica e financeira, de proporções nunca antes atingidas. E, apesar de todos os paliativos que foram lançados pelas classes dominantes quando surgiu em 2008, verifica-se que o aumento da dívida pública é um facto, e que está a retirar dividendos reais e frutosos é essa elite financeira desclassificada, criminosa.


O dados dão das próprias instituições do Capital internacional, como o FMI ou a OCDE: para 2011 a dívida externa da França equivalerá a 99% de seu Produto Interno Bruto; a da Espanha, a 74%; da Alemanha, a 85%; a da Itália, a 130%; a do Japão, a 204%; a do Reino Unido, a 94%; a dos Estados Unidos, a 100%. Ou seja, teoricamente, estão na bancarrota.


Naturalmente, quem vai pagar estas dívidas? Mais impostos, menos salários, mais especulação para o grande Capital.

Significa isto que uma nova crise mais profunda irá surgir, irá levar a novas rupturas sociais. Poderá estar na forja uma nova Revolução? Pode. E os povos oprimidos, saqueados, roubados, tem de levantar a voz, sustentando que têm direito a ela.


Não se podem esconder com o medo de que o que está a vir será pior. Há fraquezas é certo, mas, na realidade, as mudanças somente acontecem depois de muitos fracassos,



Mas a História ensinou-nos que, actualmente, uma Revolução para ter condições de sair vitoriosa, tem de assentar no amadurecimento ideológico das classes trabalhadoras. O capitalismo, como poder, mesmo enfraquecido, não deixa os palcos históricos por sua própria vontade.

As revoluções anticapitalistas derrotadas, como a Comuna, ou que se tornaram reaccionárias, devido à fraqueza do seu desenvolvimento económico e social, como a Soviética e a Chinesa (e que têm de ser críticadas, precisamente, pelo seu reaccionarismo, o que não sucedeu até hoje) são (e foram) indicativas de uma clarificação: nenhuma revolução se mantém eternamente revolucionária, se a luta de classes não for sustentada pela maioria dos povos assalariados e escravizados.


Ora, a própria evolução da indústria no último século também ela se tornou esclarecedora de uma outra realidade: o capitalismo ocidental adquiriu o estatuto de modelo mundial, e especialmente, nos últimos 30 anos, rejeitou, ostracizou, cilindrou todo um conjunto de fases intermédias do seu incremento, como o chamado Capitalismo de Estado, o que colocou, em barricadas, perfeitamente, diferenciadas a burguesia na sua forma mais lumpen, com uma nova cultura das classes trabalhadoras.


2 - Os últimos acontecimentos do Reino Unido tem sido descritos pelas classes dirigentes - e em particular o seu governo, o do conservador David Cameron, que gozava férias milionárias na Itália, naturalmente à custa do erário público - como actos de "animais", de uma repugnância atroz, porque existiram nelas certos actos de vandalismo gratuito. (Naturalmente, o que fez Murdoch é um puro acto de beleza britânica!!!)


Podem servir tais argumentos para assustar a classe média britânica, medrosa, e sempre encolhida no seu antigo estendal quando comia à custa do poder imperial, a realidade é que, embora não se tenha ainda uma percepção em todo o sentido do que realmente sucedeu, o método em economia política é que verificar se os conflitos sociais e políticos se entroncam nos desfasamento dos interesses classistas, e analisar como o desenvolvimento económico teve a ver com o surgimento dos tumultos.


Os conservadores, naturalmente, não representam os interesses daqueles que explodiram, e eles representam, sim, os interesses do capital financeiro. Os criminosos que levaram os grandes bancos britânicos à bancarrota são apenas meninos de coro!!!


Curiosamente, recusam-se a impor qualquer tipo de impostos aos lucros desmesurados desse Capital. Na última década, o Reino Unido sofreu um retrocesso enorme na sua produção nacional e os casos de crimes financeiros são mais que muitos. Nenhum poderoso que roubou está na cadeia, incluindo os deputados que sacaram dinheiro, irregular e ilegalmente, erário público.


Mas, prontamente, estão a querer impor medidas repressivas de alargamento dos poderes da polícia, que, curiosamente, monitorizava toda a movimentação e não actuava. Porquê? Porque certamente estava a espera de mais poder repressivo, com a cumplicidade do poder político.


3 - Na situação actual, as classes laboriosas, da Europa, e do Mundo, necessitam do poder político para conduzir a uma ruptura do estado de coisas.


A luta contra a exploração capitalista não pode ser apenas uma luta económica, tem de ser uma luta política. Para se estruturarem do ponto de vista económico, essas classes têm de montar organizações políticas que lhe sirvam de surporte material e ideológico para conseguir mais direitos políticos.


Por muito que lutem, por muito que mostrem a sua indignação, esses movimentos tendem a ser ultrapassados sem não existir um programa político, unificado em grande base territorial, que ponha como centro da sua actividade a entrada dos meios de produção e distribuição na posse de um poder político que seja deles.


Mas, esse programa somente tem eficácia se for de ruptura com a situação existente.




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