sábado, 25 de junho de 2011

PORTUGAL/5 DE JULHO: FOI DERROTADA A REVOLUÇÃO?



























As recentes eleições legislativas em Portugal a 5 de Junho trouxeram uma derrota violenta para aqueles que se proclamavam revolucionários, e, no interior dos partidos que se reclamavam de tais, germinam, ou começaram a germinar, polémicas e acusações, mais visíveis no Bloco de Esquerda, como sempre encapotadas, desde a sua existência, no PCP.


E isto quando estão, em "cima da mesa", sinais evidentes de uma crise política, social e económica, cujos efeitos estão a recair, sem qualquer remissão, sobre as classes assalariadas, e em menor escala, sobre alguns sector da pequena burguesia urbana e rural.


(Convém assinalar que o sucedido em Portugal a 5 de Outubro, não é um acto isolado, mas faz parte de um drama contra-revolucionário que está a percorrer a Europa, em particular a União Europeia, e os EUA, com largas semelhanças, ao que ocorreu nos anos 30 e subsequentes e, que nos finais dos mesmo desembocaram, nessa altura, numa guerra apelidada de mundial. Por isso, na minha opinião, a análise que deve ser feita e o debate necessário não só em Portugal, deve ser alargado, especialmente, para essa mesma Europa e Estados Unidos).


A - O que de novo se deu neste drama, e porque aconteceu no interior de um sistema parlamentar, facto este que deve trazer alertas para uma debate mais profundo - para a estratégia e a tácticas revolucionárias - é que os poderes (económicos e políticos) que estavam no poder antes do 25 de Abril - com o marcelismo na sua fase de estertor - são, agora, os reais e sucessores do mesmo, na ideologia, na política e na economia.


E os homens tidos como os mentores fátuos do 25 de Abril, mas, na realidade, os fautores primários que conduziram a esta situação, os dinossauros do PS, na versão "sociedade social", quer seja nas suas carcaças barbáricas e pós-moderna, ou seja desde Mário Soares a José Sócrates, ou na versão "militar", os oficiais dos grupo do Nove, que realizaram o golpe de Estado de 25 de Novembro de 1975, foram lançados, sem apelo, nem agravo, pela borda fora, com lamentações ridículas de incompressão e proclamações altisonantes de que estarão sempre atentos à defesa da democracia e da liberdade.


B - Nestas eleições legislativas foi destroçada a perspectiva revolucionária?


Eu penso que não. O que foi derrotado em Portugal, e sigamos o que tem estado em jogo na UE, em termos eleitorais, mas não só, é uma concepção reformista revolucionária de fazer política. E é esta concepção que está, para mim no centro do debate.


O taticismo que enfermam os partidos considerados revolucionários em Portugal e na UE é a "perseguição inglória" de que pode haver uma "aliança histórica" com um Partido Socialista, arrastado para a "esquerda". É uma visão distorcida de uma táctica revolucionária, que deve saber utilizar a arena parlamentar para levar as classes assalariadas a "cortar" com a "esperança" de que a social-democracia é a alternativa ao poder puro e duro do capital financeiro especulativo.


Conforme tenho referido, em política revolucionária não existe "direita" e "esquerda", mas sim luta anticapitalista contra o sistema capitalista dominante, o que pressupõe, em estratégia, um programa de ruptura, perfeitamente delineado e que tem de ser divulgado.


Ora, isto nunca existiu em Portugal desde sempre, mas de maneira mais evidente desde o 25 de Abril. PCP, UDP, PSR, MES, MRPP e outros partidos, estagnaram os seus programas sobre os escombros contra-revolucionários que se seguiram à Revolução de Outubro de 1917.


A aproximação ao PS, alimentando, ideologicamente, que ele é de "esquerda" é um erro e uma deturpação de toda a economia política e da análise teórica materialista da História.


Numa época de crise política e económica, de desnorte no seio das massas laboriosas sobre a possibilidade de haver uma novo caminho na evolução societária, o principal esforço teórico revolucionário - e as derrotas servem para meditar sobre tal - é o de procurar definir uma nova via que separe águas e impulsione a consciência política daqueles que começam a sentir a carência social de sobrevivência, e querem descortinar ao fundo do túnel uma luz que possa trazer-lhe uma esperança de mudança, de ultrapassagem das hesitações que existem neles sobre a implantação de uma nova sociedade.


C - Ora, nestes anos de derrotas política para o campo revolucionário, temos de baixar os braços e afirmar que não há possibilidade de uma convulsão revolucionária?


Não. Temos de verificar que, apesar do desnorte programático e da inexistência de partidos revolucionários na Europa e em particular na União Europeia nestes 30/40 anos, verificaram-se profundos efeitos das lutas desenvolvidas. A França de 1968 esteve em vias de produzir um novo regime. Foi preciso um golpe militar interno e uma certa desmobilização dos sectores operários para conter uma massa laboriosa que deseja "mudar o Mundo".


A burguesia, hoje, com a actual crise sabe que o que está em jogo é, justamente, a possibilidade de uma grande convulsão social poder transformar-se em revolução. E esta deixou de ser uma palavra de nojo para se tornar numa palavra de realidade.


4 - Na derrota eleitoral de 5 de Junho, como nas derrotas eleitorais e políticas revolucionárias na UE, o que, no meu ponto de vista, temos de aprofundar, é precisamente as mudanças económicas e sociais no interior das sociedades neste anos de construção europeia, e de maneira evidente, as mudanças no interior das próprias classes trabalhadoras.


Temos de ver causas, temos de inquirir sobre as modificações das relações sociais, temos de buscar razões fundamentadas para ver porque as contradições sociais não se aprofundaram quando as crises burguesas atingiram patamares elevados. Não fulanizaram ou estiolar a discussão em torno de guerras pessoais.


Penso que uma das nossas faltas de perspectiva política foi a não compreesão do que estava a ser destroçado pelo avanço da burguesia, em particular da burguesia financeira ultra-marginal, não era a revolução propriamente dita, mas os atrasos ainda existentes do modo de produção capialista no interior dessa mesma UE. E isso, do ponto de visto histórico para mim, foi o mais importante.


Para a maior parte dos países da UE, a sua inserção na mesma obrigou-os a acelerar o seu desenvolvimento capitalista, incluindo Portugal, e as massas trabalhadoras não estavam preparadas, na sua consciência e no seu incremento como seres despojados de todos os pertences materiais dos restos de um quase feudalismo que existiam nas regiões rurais e em muitas zonas urbanas próximas daquelas, não conseguiam aderir a um verdadeiro e consciente projecto de transformação social.


Quero com isto dizer que o desenvolvimento societário português - e mesmo europeu - que impulsionou camadas cada vez mais elevadas para a verdadeira proletatização (mesmo de colarinho branco), que, em termos de avanço histórico, foi revolucionário, não conduziu essas massas para o mesmo campo, mas, pelo contrário, trouxe para a sua consciencia laivos e práticas contra-revolucionárias, apoiando os partidos burgueses.


E isto, da parte dos partidos revolucionários não foi - assim o penso - verdadeiramente assimilado para forjar um programa revolucionário que estivesse à altura.


A derrota de 5 de Julho - e a situação na Europa, que do ponto de vista político trouxe um avanço enorme em potencial económico, financeiro e melhoria do bem-estar humano, o que igualmente está a elevar a consciência da própria massa de explorados - deve servir para elevar a sabedoria do que é necessário fazer no campo revolucionário.


E, para mim, um desses ensinamentos é a unidade programática e prática europeia na luta contra o Capital.

Sem comentários:

Enviar um comentário