terça-feira, 16 de novembro de 2010

"NÃO SE PODE DERROTAR UMA IDEIA"











Os negócios não produtivos estão a minar os regimes ocidentais
















"Não acredito que alguém possa derrotar uma ideia, é algo que precisamos combater, quando for necessário, mas, na sua forma mais branda: qual a razão porque eles (os talibãs- nota minha) não podem adoptar essa filosofia de vida?".

Esta frase é do general inglês David Richard, que comandou as tropas da NATO no Afeganistão, no decorrer de uma entrevista, datada de 14 deste mês, à emissora britânica BBC.

A frase refere-se aos talibãs, e, em certa medida, uma confissão de derrota militar, e, uma busca do seu sucedâneo, a negociação com o inimigo, que ele pretende trazer, na sua ideologia, para a “forma mais branda”.

Esta realidade, nas suas contradições, percorre a política dos aliados dos Estados Unidos na actualidade, mas, principalmente, a classe dirigente norte-americana em Washington.

O retrato está espelhado em várias personalidades, que, embora pertencendo à mesma classe, apresentam versões diferenciadas, não divergentes do assunto.

O representante da Administração de Barack Obama para o Afeganistão e Paquistão, Richard Holbrooke, antigo secretário de Estado-Adjunto de Bill Clinton, anunciou, segunda-feira, - logo muito antes de qualquer decisão da Cimeira da NATO em Lisboa, a 19 e 20 deste mês – que, nesta reunião, será discutido “o processo de transferência” da segurança afegã para o governo de Cabul até 2014.

(Esta tirada de Holbrooke merecia uma gargalhada, pois o governo de Hamid Karzai não representa nada, nem ninguém no interior do país, a não ser os interesses norte-americanos. Se houver retirada, pura e simplesmente, Karzai desaparece do mapa).
Então, Holbrooke explicou: “Temos uma estratégia de transferência de responsabilidade, não uma estratégia de retirada”.

Ou seja, queremos fugir, mas não o iremos fazer, mas vamos nesse caminho.

Holbrooke, que é membro influente do “lobby judaico” no interior do complexo financeiro e industrial-militar dos EUA, admite, para sustentar essa estratégia, que terá de aliciar um sector importante dos talibãs, ou seja, tentar uma repartição de poder em Cabul.

Karzai percebeu de imediato esta visão e exigiu que as tropas norte-americanas no terreno “abrandem” a actuação musculada. Ele quer negociar com os inimigos armados.
Ele sabe que os EUA o estão a deixar sozinho e procura, imediatamente, outras alternativas para se manter, negociando até com o Irão.

Resposta rápida de um outro sector da Administração Obama. A voz de uma “guerreira experimentada nos tiros”, a senhora Clinton, secretária de Estado: é preciso intensificar as operações militares.

"A utilização de operações dirigidas, baseadas em informações, e precisas, contra alvos importantes entre os insurgentes e os seus aliados, é um elemento-chave" do esforço dos aliados no Afeganistão, declarou a chefe da diplomacia dos Estados Unidos.


Então porquê esta hesitação, este jogo de palavras, esta pequena clivagem, na “nomenklatura” de Washington?

Porque, em causa está justamente, por um lado, a despesa da guerra, por outro, as receitas e interesses geo-estratégicos dos EUA com a ocupação do Afeganistão. Daí a necessidade de uma escolha.

As provas de força, de violência militar prolongada, de operações constantes, não são artifícios de vontade, mas sim questões de economia, logo de dinheiro.


As guerras do Iraque e do Afeganistão custaram aos EUA mais de 1,1 biliões de dólares, valor este só superado pelas despesas efectuadas por aquele país na II Grande Guerra, mas aqui envolveram mais de 30 milhões de homens, o que não acontece presentemente. Estes números foram referidos pelo jornal New York Times.
Em termos de custos por soldado, aquelas guerras estão a ser as mais caras de sempre, segundo economistas que estudaram, comparativamente, os Orçamentos de Defesa. Estima-se o custo anual actual atinge os 1,1 milhões de dólares por cada soldado no Afeganistão, quando atingia os 67 mil/ano na II Guerra e os 132 mil no Vietname.

A guerra para os EUA – não só do Afeganistão e Iraque, mas toda a panóplia de conflitos, onde se envolveram, desde o Iémen à Somália, passando pelo Médio-Oriente (são eles que pagam generosamente a Israel) e por África - movimenta uma teia burocrática, de serviços e consultadorias, que envolve uma população de cerca 900 mil pessoas no país, incluindo 1271 departamento públicos “ligados à luta anti-terrorismo” e 1971 empresas privadas de segurança. “Um dos sectores mais activos da economia neste momento”, nas palavras de um responsável.

Ora, tudo isto representa dinheiro, que sai do bolso do contribuinte.

Não seria uma situação grave, se este dinheiro fosse obtido, provindo da produção económica. Ou seja, se o sector produtivo interno estivesse a ser dinamizado, mas não, os despedimentos industriais aumentam.

O dinheiro, em circulação no sistema financeiro internacional, nomeadamente, dos EUA, vem da especulação financeira, dos negócios da droga e branqueamento de capitais.

Ora, aqui está um busílis da questão: na recente crise financeira mundial, que começou, precisamente, nos EUA, cerca de 240 mil milhões de euros, provenientes de actividades ilícitas (droga e outras) foram incorporados, legamente, no sistema financeiro. Os dados são da ONU, que registou: “O dinheiro, agora, faz parte do sistema oficial e foi efectivamente limpo”.

Ora, nesta fatia, está a produção, distribuição e venda de ópio, cuja produção provêm, em mais de 90 por cento, do Afeganistão.

É a ONU que reconhece: o cultivo da papoila do ópio no Afeganistão “cresceu brutalemente” desde que o país foi ocupado pelos EUA. Desde 2006, o crescimento é enorme: mais de 60 por cento.

A propaganda ocidental culpa os talibãs deste facto, mas, não são os guerrilheiros islâmicos que controlam o terreno e as rotas, são as tropas da NATO, em especial as norte-americanas, mais de 100 mil homens e outras são mil em “paramilitares” de empresas privadas. Tudo rigorosamente, controlado.

Entre 2001 e 2006, o gabinete de Drogas e Crime das Nações Unidas (UNODC), com sede em Viena, calculou que a colheita, neste período (convém localizar que a primeira data é da ocupação norte-americana, e os cinco anos seguintes são da responsabilidade dos EUA, através do seu agente escolhido Hamid Karzai, o crescimento foi de 33 vezes superior.

O UNDOC calcula que, em 2006, só para a economia afegã – precise-se senhores da guerra ao serviço da NATO – o tráfico de ópio rendeu 2,7 mil milhões de dólares. Este dinheiro entra na circulação bancária, através da autorização que é dada pela potência ocupante.

"A heroína afegã vende-se no mercado internacional de narcóticos a um preço 100 vezes superior do que o que os agricultores obtêm pelo ópio vendido no terreno". (Departamento de Estado dos EUA citado pela Voice of America (VOA), 27 de Fevereiro de 2004).

Façam-se as contas e atingem-se valores astronómicos: a heroína afegã renderá, anualmente, valores que podem ultrapassar os 200 mil milhões de dólares.


Segundo a ONU, o movimento comercial dos opiácios renderá aos seus controladores entre 400 a 500 mil milhões de dólares.

Ora, o tráfico de droga, ainda segundo a ONU, é o terceiro produto comercial de maior valor, a seguir ao petróleo e à venda de armas.

Estes dois sectores estão ligados ao domínio económico, mas, essencialmente, às relações geo-estratégicas para permitir que os produtos sejam vendidos sob o controlo norte-americano em concorrência com outras potências que disputam os mesmos espaços.

Ora, o sistema financeiro mundial, onde pontifica os magnates norte-americanos, em especial o “lobby” judeu e o Vaticano, é o principal beneficiário deste comércio. E, por tabela, o controlo territorial onde se produzem e vendem essas mercadorias.

Para manter este estado de coisas, é necessário a força e a violência, mas estas são, elas próprias realidades, económicas.

Não estão a dar produção económica no interior dos Estados Unidos, mas essencialmente, sectores não produtivos. Mais Forças Armadas, mais sistema militar, sem contra-partidas internas, minam os próprios regimes.

Obrigam, pelo incremento do aparato castrense a mais concorrência, ou seja mais despesas improdutivas, fazendo crescer os sintomas de crise financeira.

Esta evolução está a fazer decair o desenvolvimento económico das principais potências ocidentais. Se aumentarem as contradições, o poder político entrará, necessariamente, em rota de colisão com o incremento que as forças produtivas impõem, e, a acontecer, esse poder terá os dias contados.










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