domingo, 17 de outubro de 2010

ALEMANHA: ENTRE A TRAGÉDIA E A FARSA







O fim do multicuturismo é um eufemismo para justificar a "separação das raças"







Há mais de 160 anos, um alemão proscrito pela sociedade dominante de então o filósofo e economista político Karl Marx escreveu um texto que ficou célebre, intitulado "o 18 de Brumário de Louis Bonaparte", em que analisava a evolução da sociedade francesa entre os períodos dos poderes de Napoleão Bonaparte e Louis Bonaparte, tio e sobrinho, que se guindaram a Imperadores de França.

Marx produziu, logo no início do seu livro, uma frase que ficou célebre: "Hegel observa algures que todos os grandes factos e personagens da História universal aparecem como que duas vezes. Mas esqueceu-se de acrescentar: uma vez como tragédia e a outra como farsa".

Isto vem a propósito das declarações proferidas hoje pela chanceler alemã, Ângela Merkel, sobre a sociedade alemã: a tentativa de criar uma sociedade multicultural na Alemanha "falhou redondamente".

Esta é a parte da farsa, pois não explicitou o seu verdadeiro pensamento:
O que ela quer dizer é que só os "alemães puros" é que devem ter direito de cidadania no país.

A tragédia é que, há 67 anos, um seu antecessor no cargo, de nome Adolf Hitler, em 1933, começou a aplicar a intenção, sem disfarces linguísticos, exterminando milhões de pessoas de "outas culturas", levando a Europa para uma guerra de carnificina racial, que custou a vida a mais de 50 milhões de homens e mulheres.

Sob a capa de combate à crise económica, financeira e social, que assola todos os países europeus, fomentada por gente medíocre, mesquinha e sinistra, mas capaz de tudo, até de se tornarem assassinos, em nome da democracia, os aprendizes modernos de Hitler estão a querer preparar o caminho para uma nova investida bélica, ensarilhada em "combates à migração clandestina" para defenderem o poder do Capital, que está ameaçado por ventos de explosões sociais de dimensões possivelmente superiores às que sucederam na Alemanha nas decadas de 10, 20 e 30 do século passado.

Eles estão a montar, paulatinamente, a farsa - alertas consecutivos contra o terrorismo, ameaças de descalabros económicos - para fazer emergir uma "cultura de segurança", que forme estruturas militares e policiais prontas para atacarem e destroçarem tudo o que seja movimentações populares contra os poderes estabelecidos.

Sonham, portanto, com novas tragédias.

O Capital mundial estão a financiar e a fomentar a ascensão de partidos da extrema-direita em toda a Europa e mesmo nos Estados Unidos da América.

A Alemanha é um caso evidente. E essa extrema-direita está a cristalizar-se dentro da própria democracia cristã.

Não é por acaso que a extrema-direita se se agiganta em Estados "culturalmente muito próximos" da Alemanha.

A Áustria e a Holanda são os casos mais recentes em que a extrema-direita ganha ascendente com discurso anti-islâmico, em ambiente de ameaça terrorista.

A Europa liberal fez um chinfrin tremendo em 200o, quando a extrema-direita chegou ao poder na Áustria. O discurso racial de Jörg Haider levou até que aquele país tivesse sido sancionado pela União Europeia.

Era discurso balofo, é certo. Pois não havia ameaças directas ao domínio dos capiatlistas.

Em 2010, dá-se a ascensão de um sucessor de Haider, Heinz-Christian Strache, que obteve, recentemente, 27% de votos nas eleições municipais e regionais de Viena. Com uma linguagem ainda mais violenta. Os sápatras europeus, desta vez, estão calados. Eles, agora, até concordam, como são os casos de Sarkozy e Berlusconi.

No espaço de uma década, o discurso da extrema-direita centrou-se num argumento novo: o ataque aos imigrantes muçulmanos e ao islamismo. Porque os "outros bárbaros", os de Leste, em parte, fazem parte da UE.

O caso mais acutilante é o do holandês Geert Wilders líder de Partido da Liberdade da Holanda. O curioso é que o nome do partido austríaco também é de Liberdade.

Wilders impôs as suas ideias ao governo minoritário de liberais e democratas-cristãos, viabilizando-o, com a condição de haver discriminação internas aos muçulmanos.
Ora, todos estes impostores e demagogos, que são os representantes directos de uma classe de capitalistas, que colocaram a sua própria economia em pantanas, procuram fazer ressurgir as "democracias musculadas" para evitarem prováveis revolucionamentos nas sociedades europeus nos próximos anos (talvez até nos próximos meses).
Esse ressurgimento poderá ser contido, mas para isso é necessário um programa ideológico, político e económico, que oriente uma provável explosão popular.




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