segunda-feira, 5 de julho de 2010

DEFENDER OS INTERESSES ESTRATÉGICOS, COM QUE PODER?












Que poder para cercear os apetites do capital?










O recente processo de veto do governo português, através de um complicado processo de controlo de um sector estratégico nacional, mas, oficialmente, privado, com uma "golden-share", veio colocar na ordem do dia a questão programática do poder.


Não estamos aqui a polemizar sobre as questões de defesa do interesse nacional, violadas pelos capitalistas (pois eles são isso mesmo capitalistas, o lucro é a sua pátria e a luz orientadora da sua accção), nem sequer o acto propagandístico do governo, como corajoso, pois ele - não este, mas um anterior, de que o actual é o sucessor ajuramentado - foi o fomentador do interesse privado no domínio do interesse empresarial estratégico.

A questão que se tem de analisar, do ponto de vista dos interesses dos assalariados, é como se pode, em teoria e na prática, obrigar os capitalistas a cederem ao seu desejo de imporem os seus ditames nos negócios de um Estado, que seja realmente favorável à maioria trabalhadora.

A estreiteza da chamada esquerda actual é que ela não se diferencia, ideológica e políticamente, uma da outra. Toda ela está, servilmente, concentrada na defesa do actual regime. Seja sob a forma de capitalismo liberal ou de capitalismo estatal.

O regime actual é desfavorável, ou pode vir a ser, ao poder do capital especulativo?

Foi o actual regime que concedeu e está a fomentar o poder do capital especulativo, dos agiotas bolsistas, dos banqueiros sem rei, nem roque, dos chamados empreendedores que vivem à custa de chorudos concursos e contratos que sacam mundos e fundos do erário público.

Por outro lado, foi do capitalismo de Estado que foi incubado o capitalismo liberal que pupula em todos os regimes do Leste europeu ou chinês.

Como se pode defender "os interesses estratégicos nacionais ou europeus" sem uma transformação desses poderes de Estado?

Qual a razão porque alguém que se intitula defensor das classes trabalhadoras, sustenta que o actual regime parlamentar pode cercear o poder dominante dos capitalistas?

Somente se poderá reclamar da esquerda, na minha opinião, quem disser, abertamente, que um novo poder de Estado terá de ser criado.

E, este poder não deve ficar restrito a Portugal, mas ser lançado, como programa de nova formação estatal em toda a União Europeia.

E esse poder terá, inevitalmente, de transformar toda a estrutura económica, social e política, não só de Portugal, mas igualmente dessa Europa, onde estamos inseridos e organizados.

Esse poder terá, necessariamente, de controlar, em primeiro lugar, o Banco de Portugal, e este actuar, sem qualquer rebuço, sobre todo o sistema bancário. Mas, sua eficácia verdadeiramente transformadora estará conseguida se houver o controlo do Banco Central Europeu.

É utópico, dirão muitos. Certo. Admito-o. Mas eu considero de uma limitação extrema, e até uma falta de visão de futuro, a ideia de que o actual sistema democrático europeu possa ser transformado por dentro apenas com mais democracia e respeito pelos direitos humanos.


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