domingo, 13 de junho de 2010

HELEN THOMAS: CRITICAR ISRAEL É ANTI-SEMITISMO?

Confesso que não conhecia, e na realidade nem conheço, a jornalista norte-americana Helen Thomas, de 89 anos, que até, ha meia-dúzia de dias, era a decana dos correspondentes que fazia a cobertura jornalistica junto da Casa Branca, a sede da Presidência da República dos Estados Unidos da América.

Helen Thomas, que, como jornalista, apenas parece ser conhecida pelo seu trabalho no "ramo político institucional" da reportagem das conferência de imprensa dos Presidentes dos EUA, viu-se afastada da carreira profissional, não por qualquer acto de crítica pessoal ou política denegridora ou difamatória da imagem dos diferentes Chefes de Estado norte-americano, ou por acção anti-patriótica, mas, simplesmente, porque criticou a política israelita no Médio-Oriente.

Pelas informações concordantes, quer da imprensa portuguesa, quer da norte-americana, tudo teria começado quando Helen Thomas respondeu a uma pergunta de um rabi judeu (padre judaico), de nome David Nesemnoff, que também tem um blog, que se encontrava, como convidado na Casa Branca do Presidente Obama para celebrar a Herança Judaica-Americana. A pergunta foi se ela tinha alguma coisa a dizer aos habitantes do Estado de Israel. Ela teria respondido: "Lembrem-se que essas pessoas vivem sob uma ocupação; aquela é a terra deles, não é a Alemanha ou a Polónia". E acrescentou o seu comentário: "Os judeus deviam ir para a terra deles", precisando que "a terra deles" é "a Alemanha, a Polónia, a América e todos os outros lugares..."

O citado rabi colocou esta pequena entrevista no seu blog e no You Tube, e de repente, e de um momento para outro, surgiram as críticas mais ásperas contra a jornalista, apelidando-a de anti-semita, sugerindo o seu afastamento de correspondente e preconizando o seu despedimento.

"Chocantes", "infelizes", "repulsivos", "fanáticos", "indefensáveis", "odiosos", "ultrajantes", foram alguns dos comentários feitos, quer pelos principais jronais do país, quer por camaradas de profissão, quer pelos políticos de topo dos EUA, quer pelo próprio Presidente norte-americano.

Ou seja, conforme assinalam diferentes fontes o poderoso lobby judaico deseado nos EUA, através do AIPAC (America Israel Public Affairs Comitte) actuou para afastar a jornalista, que, por caso, é descendente de país libaneses cristãos.

Analisando as declarações feitas por Helen, pode dizer-se que são inverdades, caluniosas para com os judeus? É ou não verdade que o Estado de Israel ocupa a Palestina? É ou não verdade que o Estado de Israel foi uma criação artificial das potências ganhadoras da II Grande Guerra?

É ou não verdade que os colonos israelitas que ocuparam o território que era da Palestina em 1947 eram na sua maioria cidadãos da Europa, afastando os seus residentes ancestrais daquelas terras? E a pergunta mais pertinente já agora: "É ou não verdade que o Estado de Israel é um problema no Médio-Oriente, que até agora não contribuiu para uma solução que o possa salvaguardar num futuro próximo de uma destruição, que se está a tornar cada vez mais evidente?


Se esta questão não for resolvida nos próximos anos, na realidade, os judeus, naturais da Europa e EUA e os seus descendentes, estabelecidos no actual Estado de Israel, irão ter de regressar aos países onde nasceram.

A retaliação sobre Helen Thomas, por muito incómodas que as suas declarações possam ter sido para os agentes do sionismo internacional, presentes nos EUA, foi um acto censório, imoral, mesmo criminoso.

Além de altamente criticável a posição assumida por Barack Obama, que tornou suas as objecções do lobby judeu, criticável é também a submissão dos camaradas jornalistas de Helen face à rotulagem que os lobbistas sionistas colocaram em Thomas. Até porque, dias antes, quando completou 89 anos, aquela profissional era considerada pelos seus pares como umas das "lendas" e "heroina". Só se podem chamar, no mínimo, puro cinismo.

Obsceno foi o papel desempenhado pelo seu agente e pela empresa que a contratara nos últimos anos.

Transcrevo o jornal Públoco: "Thomas primeiro viu o seu agente literário denunciar o contrato que tinha com ela e, no dia seguinte, a Hearst Newspapers, conglomerado para quem contribuía com uma coluna semanal há dez anos, forçar a sua demissão".

Algo vai mal nos reinos das democrcais ocidentais!

A terminar, cito do mesmo jornal alguns dados intercalados sobre a sua vida e profissão:

"Helen nasceu no Kentucky, filha de dois imigrantes de origem libanesa - o seu apelido Thomas é o anglicismo do nome original do pai, Antonious. A família mudou-se para o Michigan, onde Helen foi educada na igreja grega ortodoxa. Frequentou a Wayne University e licenciou-se em Inglês em 1942.

Após uma breve passagem pelo jornal Washington Daily News (que já não existe), Helen Thomas ingressou na agência United Press Internacional (UPI) em 1943. Começou a trabalhar no serviço radiofónico, mas logo mudou para o serviço noticioso: em Washington, foi cobrindo todas as agências e departamentos federais antes de se mudar para a Casa Branca.

Foi depois da eleição de John F. Kennedy que Helen foi nomeada correspondente na Casa Branca. Ela cobrira a campanha do jovem e promissor político do Massachusetts, que um dia comentou que "Helen podia ser uma óptima rapariga, se largasse o bloco e a caneta".

No ambicionado posto de correspondente da Casa Branca, Thomas cobriu nove administrações e construiu uma sólida reputação como uma das jornalistas mais acutilantes, corajosas, perseverantes e competitivas de Washington. Casou com um dos seus concorrentes, o jornalista Doug Cornell da Associated Press, mas só quando ele se reformou.

Ao longo dos anos, quebrou barreiras em nome das mulheres no jornalismo: foi a primeira a ser admitida e, posteriormente, a presidir à Associação dos Correspondentes da Casa Branca; foi a primeira a integrar uma direcção do National Press Club e a primeira a entrar no selecto Gridiron Club de Washington.

Demitiu-se da UPI em Maio de 2000, 57 anos depois de ter assinado contrato e no dia seguinte ao anúncio da aquisição da agência pela News World Communications Inc., a subsidiária para os media da Unification Church fundada pelo líder religioso coreano Sun Myung Moon (e que detinha, entre outros títulos, o jornal conservador Washington Times). Na altura, equacionou a reforma, mas a oferta da Hearst manteve-a no activo.

Enquanto foi a principal correspondente da UPI na Casa Branca, Thomas tinha o direito de fazer a primeira e a segunda perguntas nas conferências de imprensa (segundo a tradição, os jornalistas de agência têm precedência sobre os seus colegas, e a veterania no posto determina quem é o primeiro a usar a palavra).

Como colunista, Helen Thomas já não gozava o mesmo privilégio, mas, num sinal da deferência com que era tratada pelos restantes membros do corpo de correspondentes da Casa Branca, continuou a sentar-se na primeira fila da sala de imprensa. E a fazer perguntas incómodas.

"Na última conferência de imprensa do Presidente Barack Obama, convocada para responder à pressão política relacionada com o derrame de petróleo no golfo do México, Helen Thomas desviou a narrativa para um dos seus temas predilectos. "Senhor Presidente, quando vamos retirar as tropas do Afeganistão? Qual é a desculpa para continuarmos a matar e a morrer lá? E não me venha com aquele "bushismo" de que estamos a lutar contra os terroristas lá para não ter que lutar com eles aqui."

Os oito anos de Administração George W. Bush foram conturbados e particularmente difíceis para a veterana, que raras vezes teve oportunidade de interpelar directamente o Presidente ou os seus porta-vozes. Os vários assessores que passaram pela Casa Branca consideravam as questões - e, já agora, o estilo - de Thomas extemporâneas e ofensivas.

"Tivemos temporariamente de suspender o jornalismo nesta sessão para vos trazer um minuto de campanha eleitoral", ironizou Ari Fleischer depois de uma pergunta de Helen Thomas em 2003. "Muito obrigado por nos lembrar a posição oficial do Hezbollah", comentou Tony Snow, quando ela o questionou sobre a guerra do Líbano em 2006. "Acho lamentável que utilize a sua posição privilegiada, que os seus colegas gentilmente lhe concedem, para fazer perguntas tão absurdas", criticou Dana Perino um ano mais tarde.

A jornalista nunca escondeu o seu diferendo ideológico com a clique do Presidente George W. Bush e a sua oposição às políticas da Administração. "Sou uma liberal. Nasci liberal e serei liberal até morrer", confessou, numa entrevista em 2006. "Tive de me autocensurar durante mais de 50 anos, mas agora posso acordar e pensar: com quem é que estou furiosa hoje de manhã?", escreveu na sua biografia Thanks for the Memories, Mr. President.

Liberta do seu compromisso com a independência e objectividade, a colunista tornou-se uma das maiores críticas das guerras do Afeganistão e principalmente do Iraque. Mas além do Presidente, Helen foi também impiedosa para com os seus camaradas. Há quatro anos, publicou o seu quarto livro sobre a imprensa na Casa Branca, intitulado Watchdogs of Democracy?: The Waning Washington Press Corps and How It Has Failed the Public, uma crítica ácida ao comportamento "resignado" dos seus colegas perante as razões invocadas pela Administração para invadir o Iraque.

A sua oposição a Bush concedeu-lhe um estatuto icónico entre os liberais, mas Helen Thomas era igualmente inconveniente para os presidentes democratas: acusou Bill Clinton de desrespeitar o cargo e perguntou-lhe o que é que ele ainda fazia na Casa Branca depois do escândalo Lewinsky."

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