quarta-feira, 9 de junho de 2010

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS: HAVERÁ POSSIBILIDADE DE MUDANÇA?






Uma sintonia perfeita de poderes a favor de uma minoria









Irá haver mudanças na vida política e social com os resultados das próximas eleições presidenciais?

Eu penso que sim, mas, somente, se o resultado eleitoral do candidato vencedor colocar em causa o domínio, hoje absoluto, do poder da especulação financeira.

Ate agora a conjugação dos três diferentes poderes - o presidencial, o executivo e o legislativo -, dentro do actual regime, leva-os a serem o suporte de uma única estrutura societária dominante e avassaladora: o domínio dos banqueiros, dos especuladores financeiros e bolsistas, dos senhores das grandes empresas de monopólio ou oligopólio, tais como as telecomunicações, as redes de distruição alimentar, de explorações poderosas da construção civil e de explorações/transformações florestais, que na maior parte das vezes se entrecuzam com os interesses bancários e bolsistas.

Com a formação do primeiro executivo de Sócrates e a ascensão de Cavaco Silva à Presidência da República, esse domínio, que se iniciara nos finais dos anos 70, com a chamada reestruturação bancária, a partir dos primeiro-governo do PS, liderado por Mário Soares, atingiu o seu climax: os banqueiros tiveram o desplante de vir para a praça pública e afirmar, arrogamente, que eles eram o motor de toda a sociedade.

E, a melhor argumentação para cimentar esta constatação é verificar, pois, quais são as recentes medidas aprovadas na Assembleia da República para "combater a crise" e quais os verdadeiros lesados: impostos e limitações salariais e de pensões para os mais desfavorecidos, mãos largas para os imensos lucros dos capitalistas e dos seus homens de mão nas empresas.

E que permitiu tal desequilíbrio, ou quem permitiu que tivesse aplicação prática: o "arco legislativo" que sustenta a gestão governamental (PS e PSD), o próprio governo de Sócrates e a tutelagem institucional do Chefe de Estado.

Com esta "cabeça de regime" (embora aparentemente tricéfala) temos, na prática, o domínio absoluto do grande capital no seu esplendor.
Ora, foi esse sector do capital financeiro especulador - e com o apoio directo ou interessado nos seus negócios, os empresários atrás citados, porque interligados nos conselhos de administração, no regime de sociedades, ou até no investimento dirigido - que fomentou e fez medrar a actual crescente dívida pública, desde os idos finais dos anos 80 (onde pontificava no governo Cavaco Silva e era Presidente da República Mário Soares).
Foi, portanto, com esse domínio especulativo que se incrementaram os gastos públicos: obras faraónicas sem planeamento, concursos públicos controlados e sempre derrapantes, contratos de fornecimentos de muitos milhões esburacados à queima-roupa e na impunidade por burlas, vigarices, subornos, agiotagens monumentais. E tudo isto foi, meticulosamente, administrado pelos governos PS ou PSD ou em coligação, que se alernavam, justificado, depois, por actos legislativos sinistros que os mesmos senhores aprovavam com a maiores das desfaçatez. Promulgados pelos Chefes de Estado ate aos dias de hoje.

E, durante estes quase 30 anos, sempre a assanharem-se contra os aumentos de salários, restringiram as pensões, impuseram impostos restritivos apenas para um lado, o do salariato.
Nunca, mas nunca, esses senhores do "arco do poder" procuraram fazer pagar uma parte importante dos gastos públicos as esses sectores da banca, da especulação bolsista e financeira.
(Na realidade, legalizaram off-shores, fecharam os olhos a supervisões de especulações bancárias e bolsistas, favoreceram movimentações de dinheiro público em situações de risco e obscuridade, na maior das impunidades, entre outras malfeitorias)

Na realidade, o incremento das despesas públicas era a sua maior e mais "produtiva" fonte desse rendimento. Cada dificuldade com a dívida pública, proporcionava-lhe a possibilidade de novos empréstimos. E estes empréstimos iam, precisamente, para novas operações de burla, de agiotagem, de favorecimentos pessoais e comerciais específicos dentro de um círculo determinado.

Nesta quadratura, não havia canalização de capitais para investimentos produtivos, para incremento de sectores industriais e pós-industriais que levantassem uma melhoria real da sociedade e dos assalariados.

Levaram, na realidade, e viu-se com a actual crise, o país quase à bancarrota. Mas, apesar desta evidência, o "arco do poder" tudo faz e tudo fez para manter as alavancas do seu domínio, da exploração da riqueza nacional de Portugal.

Ora, até agora, nos candidatos e pré-candidatos à Presidência da República ainda não descortinei um programa ou um esboço de projecto que aponte para uma modificação real (e digo real) destes estado de coisas.

Claro não podemos deixar de afirmar que existe na sociedade um conflito latente, que pressupõe um desejo de mudança, mas se não houver uma orientação para romper com o actual "status quo", se essa orientação não for debatida e apresentada com clareza, não havera alternativa, e, se os candidatos em presença não apontarem para uma nova solução, quem sairão debilitados serão aqueles que sustentam que se pode introduzir "uma nova política", mas não passam disto.

Esta não surge do céu, ou tem um programa, uma alternativa de poder, ou continuaremos na comédia/tragédia actual.

Aprofundarei mais tarde o assunto.









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